Autoridades das áreas econômica e política dizem que seria melhor para o País não ter tarifas, mas avaliam que impacto tende a ser menos pior para o Brasil do que para outros países
Numa coisa praticamente todo mundo concorda: a guerra tarifária de Donald Trump não faz bem a ninguém. Até Elon Musk assentiu – e pressionou. Tanto que o chefe congelou na quarta-feira, 9, as sobretaxas megalomaníacas que aplicou, baixou a régua para 10% para quase todo mundo e deixou só a China na berlinda, pagando 125% para vender produtos para os EUA.
Isso posto, o governo brasileiro acredita que o Brasil está mais bem protegido do que outros países dos impactos dessa briga. Não é que não seremos atingidos, longe disso. O Brasil, sim, vai ser impactado por uma recessão global, que preocupa e pode afetar em cheio nossa economia, pela variação do dólar, pela redução no comércio mundial, redirecionamento de exportações – especialmente de produtos chineses – e outras ameaças.

Mas a avaliação é que há fatores de proteção para a economia brasileira. Em declarações públicas e conversas privadas, autoridades das áreas econômica e política têm reiterado esse ponto. Seria melhor sem tarifas, mas, para o Brasil, avaliam, a coisa tende a ser menos pior do que para outros pares.
À coluna, uma dessas autoridades disse que o fato de o País ter passado por tantas crises no passado deixou os brasileiros bem precavidos para enfrentar situações como estas. Por exemplo, o nível de endividamento das empresas em dólar não é alto e as companhias fazem hedge, adotam estratégias de proteção contra variações cambiais, calejadas por momentos como em 2008, quando algumas foram pegas de surpresa com dívidas em dólar que se tornaram impagáveis após a crise do subprime.
Nesta semana, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva citou o fato de o Brasil ter um “colchão” de proteção contra crises externas, que são as reservas cambiais. Hoje em mais de US$ 330 bilhões, a poupança começou a ser engordada justamente no primeiro mandato de Lula, na gestão de Henrique Meirelles à frente do Banco Central, depois de colapsos anteriores em que a falta da moeda americana contribuiu para os problemas. Bom lembrar que o acúmulo de reservas, agora celebrado por Lula, era duramente criticado pelos petistas partidários do presidente, que viam naquilo um exagero.
A avaliação na área econômica é que o próprio modelo de câmbio flutuante é mais uma proteção para o Brasil, e que é suficiente para absorver o sobe-desce causado pelas incertezas trazidas pelas reviravoltas trumpistas. Até agora, o Banco Central tem sido mero espectador e ainda não precisou atuar para conter ou estimular qualquer movimento mais brusco.
O próprio fato de o Brasil ter uma economia mais fechada, ironicamente, neste momento acaba por resguardar o País dos impactos de uma quebradeira mundo a fora. O Brasil nunca conseguiu se integrar de fato às cadeias produtivas, tem um fluxo de comércio relativamente pequeno e aplica tarifas de importação em níveis que deixariam Trump orgulhoso.
Além das reservas, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou em um evento nesta semana outros pontos pelos quais o Brasil poderia não ser tão prejudicado pelas tarifas impostas pelo norte-americano no comércio exterior: o fato de nosso País ser credor externo, ter um saldo comercial robusto e estar com os juros elevados, o que significa espaço para ação da política monetária se for necessário estimular a economia.
“Relativamente, diante do incêndio, estamos mais perto da porta de saída do que nossos pares”, afirmou Haddad. Agora é ver se, com toda essa fumaça, será possível enxergar o caminho para sair de perto do fogo sem maiores queimaduras.

Opinião por Lorenna Rodrigues
Editora do Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, em Brasília, e colunista do Broadcast e Estadão. Jornalista desde 2006, especialista em Orçamento e Gestão Pública e em Desenvolvimento Econômico. Responsável por coberturas como das emendas Pix e de investigações de fraudes no cartão de vacina do ex-presidente Jair Bolsonaro.
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