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UE aprova ajuda à Ucrânia, mas é evidente que ainda não entendeu o tamanho da ameaça russa

A União Europeia aprovou um pacote de € 50 bilhões para a Ucrânia. Foi uma demonstração de união, que expôs os limites da influência de Viktor Orbán, o premiê húngaro simpático à Rússia, e dissolveu um dos pretextos de vários congressistas norte-americanos – o de que a Europa não estava cumprindo a sua parte – para não aprovar um novo pacote de ajuda dos EUA.

Mas isso é suficiente? Para muitos especialistas, os recursos bastam para impedir que a Ucrânia perca a guerra, mas não para ajudá-la a vencer. Isso satisfaz os que querem forçar Kiev a entregar seus territórios em nome da paz. Mas é uma satisfação por sua conta e risco. O histórico e as declarações de Vladimir Putin evidenciam que ele não quer a paz. Sua retórica maximalista não arrefeceu. Em contraste, nos líderes europeus, em comparação com um ano atrás, há uma clara falta de resolução.

Além do argumento moral do apoio a uma democracia – com todas as suas falhas – que quer prosperar livre e soberana, os líderes europeus deveriam convencer suas populações que enfrentar Putin diz respeito à sua própria segurança. Mas eles mesmos não parecem convencidos.

Em seus discursos de fim de ano, os líderes do Reino Unido e da Alemanha mal tocaram no assunto. Em contraste, o presidente finlandês disparou: “A Europa precisa acordar”. A premiê dinamarquesa não mediu palavras: “Falta munição à Ucrânia. A Europa não entregou o que ela precisa. Nós pressionaremos por mais produção europeia. É urgente”. Não à toa, os países que, na proporção do PIB, mais estão dirigindo bilateralmente recursos à Ucrânia são pequenas nações que sofreram na carne o jugo do imperialismo russo, como Lituânia, Estônia ou Letônia.

Os € 50 bilhões serão dispersos por quatro anos e representam só 0,08% do PIB do bloco neste período. Uma fração irrisória comparada aos € 750 bilhões do fundo de recuperação da pandemia ou ao € 1 trilhão anual para a transição energética. Mas, se a maior potência revanchista desde a Alemanha de Hitler vencer, o que virá depois? O Báltico? O Leste Europeu? Isso para não falar do reforço da doutrina da “lei do mais forte” para outras autocracias, como China ou Irã.

“Se alguém pensa que isso é só sobre a Ucrânia, está errado”, disse um exasperado Volodmir Zelenski, o presidente ucraniano, em Davos. “Dando-nos recursos e armas, vocês apoiam a si mesmos. Vocês salvam seus filhos, não só os nossos”, disse em outra ocasião.

A fadiga na população era previsível e é compreensível. Mas, por isso mesmo, em seus líderes ela é imperdoável. Não há risco para soldados europeus. Os ucranianos já mostraram que estão dispostos a derramar “sangue, suor e lágrimas”. Mas precisam de mais ajuda. “Tudo o que é necessário para nós é um pensamento claro, determinação sóbria e uma alocação de recursos totalmente manejável. Além disso, os investimentos urgentemente necessários para a indústria de defesa criarão empregos em casa, assim como fortalecerão a nossa segurança”, disse, em apelo a seus confrades europeus, o historiador britânico Timothy Garton Ash. “Será pedir demais?”.

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