
A Vigitel Goiás 2025, divulgada pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-GO) nesta quarta-feira (5), revelou que a saúde mental do goiano piorou, conforme números de 2022 e deste ano. Houve um aumento de 28% nos diagnósticos de depressão na comparação entre os dois anos.
Durante as entrevistas, em 2022, 12,1% admitiram ter o quadro. Já neste ano, foram 15,5%. A situação se reflete em outra métrica: a “Avaliação negativa do próprio estado de saúde” também subiu de 6,0% para 8,1%, respectivamente.
A psicóloga especialista em psicanálise, Catyane Souza, explica que “nem sempre a depressão se apresenta como tristeza. Às vezes, ela se manifesta de forma oposta, como uma espécie de aceleração: o sujeito sente a necessidade de estar constantemente ocupado”.
Ela também afirma que muitas formas de sofrimento psíquico são chamadas genericamente de depressão, o que não significa que correspondam a diagnósticos formais. Isso indica, porém, que as pessoas estão em maior sofrimento mental.
Catyane acredita que a pandemia foi um grande marco de sofrimento na atualidade. “O isolamento, o desemprego, a diminuição da renda, o medo da doença e da morte, além da perda de entes queridos, favoreceram ao aumento das doenças mentais. É difícil dimensionar o quanto essa experiência foi traumática para a sociedade.”
Ainda segundo ela, o principal reflexo do aumento é o quanto este assunto tem aparecido. Além do grande interesse que os conhecimentos da “área psi” tem gerado.
Psiquiatra
O médico psiquiatra cooperado da Unimed Goiânia Flávio Augusto de Morais converge com as visões da psicóloga. Ele diz que, acerca da depressão, existem alguns fatores que ajudam a explicar o crescimento, sendo um deles o impacto da pandemia e do período pós-pandemia.
“Apesar de já termos passado pela fase mais aguda e se terem passado cerca de cinco a seis anos desde o início, já se esperava que os efeitos na saúde mental seriam mais duradouros. O desencadeamento de transtornos mentais, entre eles a depressão (um dos mais prevalentes e incidentes), tende a ocorrer de forma crônica”, explica.
Conforme o profissional, a pandemia foi um grande fator estressor, com o adoecimento físico, a fisiopatologia da Covid-19 (que aumenta o risco de depressão), a convivência com perdas familiares e sociais, e o impacto financeiro que permanece especialmente entre grupos mais vulneráveis. “Muitas pessoas perderam o emprego e não conseguiram retornar ao mercado. Estressores tão intensos, em indivíduos predispostos, favorecem o aumento da incidência e da prevalência da depressão.”
Outro ponto convergente é o uso crescente de telas. “A literatura científica já demonstra que esse padrão está associado ao adoecimento mental. O consumo contínuo de conteúdos rápidos, superficiais e de rolagem infinita contribui para piora da concentração, sensação de fadiga mental e impacto negativo na autoestima, muitas vezes por comparações excessivas com outros. Isso também pode atuar como fator de risco para depressão.”
Ele também cita que uma maior circulação de informações faz com que as pessoas estejam mais sensíveis aos próprios sintomas e limitações. “Outro aspecto a considerar é o uso de substâncias, especialmente o álcool. Mesmo que tenha havido uma pequena redução no relato de uso abusivo, os números continuam altos. E o consumo abusivo ou a dependência estão diretamente associados a maior ocorrência de transtornos psiquiátricos, em especial a depressão.”
Atenção
Para o médico, as pessoas também têm dado mais atenção para a própria saúde mental, por meio de busca de informação, reconhecimento de sinais de sofrimento e tratamento. “Esse aumento de procura pode ter contribuído para a ampliação dos diagnósticos. Por um lado, isso é positivo, porque permite que mais pessoas recebam tratamento adequado.”
Pesquisa Vigitel Goiás
O Vigitel é uma pesquisa nacional de Vigilância de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico. Ela é realizada pelo Ministério da Saúde em todas as capitais brasileiras e, em apenas dois estados do Brasil, ocorre em nível regional: Goiás e São Paulo.
Conforme SES-GO, o Estado apresenta uma ferramenta adicional que é a inclusão da realização da pesquisa pelo celular, além do telefone fixo. A primeira edição da pesquisa foi realizada em 2022 e lançada em 2023.
A segunda edição da pesquisa começou na última semana de janeiro e seguiu até maio de 2025. Foram entrevistadas 18.075 pessoas, com mais de 18 anos e residentes em Goiás, nas 18 regionais de saúde do Estado. O levantamento também apresentou outros recortes de 2022 e 2025.
Resultados Vigitel Goiás
Prevalência de fatores de risco e proteção, 2022 e 2025
| FATOR DE RISCO/PROTEÇÃO | PREVALÊNCIA 2022 (%) | PREVALÊNCIA 2025 (%) |
|---|---|---|
| Tabagismo | 13,1 | 14,3 |
| Uso de cigarro eletrônico | 4,6 | |
| Uso de cigarros eletrônicos entre os fumantes | 8,9 | |
| Fumantes passivos no trabalho | 11,9 | 15,3 |
| Excesso de peso | 57,3 | 62,9 |
| Obesidade | 22,8 | 25,7 |
| Uso abusivo de bebida alcoólica | 24,1 | 23,7 |
| Dirigir após uso de bebida alcoólica | 10,8 | 10,4 |
| Consumo regular de frutas e hortaliças | 26,4 | 24,7 |
| Consumo de ultraprocessados | 17,9 | 14,4 |
| Consumo de refrigerantes | 19,5 | 21 |
| Tempo de tela (cel, tablete, computador, Tv) >= 3h/dia | 58,7 | 56,4 |
| Realização de atividade física no tempo livre | 36 | 39,6 |
| Avaliação negativa do estado de saúde | 6,0 | 8,1 |
| Hipertensão | 22,6 | 26,3 |
| Diabetes | 6,4 | 9,3 |
| Depressão | 12,1 | 15,5 |
| Realização de mamografia nos últimos 2 anos (mulheres de 50-69 anos) | 67,4 | 77,6 |
| Realização de citologia oncótica nos últimos 3 anos (mulheres de 25-64 anos) | 71,6 | 73,5 |
Por Mais Goiás
