Ação da PF investiga desvios da saúde pública para financiar o tráfico de drogas
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Polícia Federal (PF) prendeu, nesta quinta-feira (13), Fernando Batista da Silva, conhecido como Fernando da Serrinha, durante operação que investiga desvios da saúde pública para financiar o tráfico de drogas. Em 2024, ele foi candidato a vereador em Luziânia pelo PDT, mas teve a candidatura impugnada.
O político foi preso na Operação Arthron, que atuou na desarticulação e descapitalização de grupo criminoso responsável por causar prejuízos milionários em desfavor do Programa Farmácia Popular do Governo Federal para financiar a prática de tráfico de drogas transnacional. Ao todo, mais de 100 policiais cumpriram 106 ordens judiciais expedidas pela Justiça Federal em Goiás para o Estado, mas também na Paraíba, Mato Grosso, Acre e Minas Gerais.
Foram seis mandados de prisão, 26 mandados de busca e apreensão, 28 medidas restritivas de direitos, além de medidas de constrição patrimonial que abarcam o sequestro de bens móveis e imóveis. Houve, ainda, o bloqueio de mais de R$ 39 milhões dos investigados. Um deles, Fernando da Serrinha.
Fernando também enfrentou problemas em 2024, durante sua campanha. Ele teve a candidatura impugnada devido a uma condenação criminal anterior: o pedetista foi condenado por crimes contra o patrimônio privado, sistema financeiro e mercado de capitais.
Nas redes sociais, ele disse, à época, que o processo transitou em julgado em 2022 e que, de fato, só poderia concorrer novamente em 2030. Ele também desmentiu qualquer envolvimento com tráfico. Inelegível, ele continuou a divulgar “trabalho social” nas redes sociais com presença ativa na política local. A informação foi apurada pelo Metrópoles.
As redes sociais de Fernando são fechadas. O Mais Goiás não conseguiu contato com a defesa do mesmo, mas mantém o espaço aberto.
Investigação
A investigação começou em 2022, após prisão em flagrante de dois indivíduos que transportavam grande quantidade de cocaína com destino a Luziânia. Segundo a PF, a droga iria para um traficante da região: Fernando. Os entorpecentes vinham da Bolívia, Colômbia e do Peru e eram internalizados por ele e o grupo criminoso.
Como mencionado, o suspeito também é acusado de participar de fraudes que desviaram recursos públicos destinados à saúde – lavagem de dinheiro no esquema de fraudes no Programa Farmácia Popular. “Identificou-se a constituição de diversas empresas do ramo farmacêutico que, posteriormente, eram utilizadas para fins de obtenção de vantagens indevidas junto ao Programa Farmácia Popular do Governo Federal”, informou a PF. Esses recursos eram usados no tráfico.
PF detalha o funcionamento das fraudes no Farmácia Popular:
- Os investigados adquiriam empresas que estavam licitamente cadastradas no programa, mas que haviam encerrado suas atividades;
- Faziam as alterações societárias pertinentes e, na maioria dos casos, vinculava as Pessoas Jurídicas a pessoas interpostas;
- As alterações societárias e os ajustes junto ao programa eram intermediados por Investigada que, aparentemente, atuava como espécie de “despachante” junto aos órgãos públicos atuantes no programa;
- Realizadas as alterações, ocorria aumento do número de lançamentos de medicamentos comercializados por meio do Farmácia Popular, seja na modalidade gratuidade ou subsidiada;
- Liberação dos pagamentos em favor dos envolvidos que se valiam de diferentes tipologias voltadas a dificultar a identificação dos reais beneficiários.
Na operacionalização, ocorriam vendas simuladas de medicamentos que nunca chegaram a ser fornecidos ao beneficiário declarado. Os suspeitos ainda lançavam, conforme a PF, dados de consumidores sem o conhecimento deles. A maioria das empresas sequer existia na prática e ficava localizada em estados totalmente diversos do domicílio dos sócios declarados. “Os repasses mensais do programa não ultrapassavam R$ 5 mil e, após o início das fraudes, cada farmácia passava a receber valores que giravam em torno de R$ 60 a R$ 90 mil por mês”, disse a corporação.
Por Mais Goiás