Relatórios da inteligência americana alertam que Tel-Aviv provavelmente realizará um ataque contra instalações nucleares de Fordow e Natanz nos primeiros seis meses deste ano
Israel está planejando atacar o programa nuclear do Irã nos próximos meses, em um ataque que atrasaria o programa de Teerã em semanas ou talvez meses, revelou o Washington Post nesta quinta-feira, 13. Caso confirmado, o ataque aumentaria as tensões no Oriente Médio e renovaria a perspectiva de uma conflagração regional mais ampla, de acordo com a inteligência dos EUA.
Os avisos sobre um potencial ataque aparecem em diversos relatórios da Inteligência americana entre o fim do governo Biden e o início do governo Trump, mas o mais abrangente é um do início de janeiro produzido pela diretoria de inteligência do Estado-Maior Conjunto e pela Agência de Inteligência de Defesa.
Segundo o documento, Israel provavelmente realizará um ataque contra instalações nucleares de Fordow e Natanz, no Irã, nos primeiros seis meses de 2025.

Autoridades dos EUA, de diferentes administrações, familiarizadas com a inteligência disseram ao Post, sob a condição de anonimato, que a descoberta deriva de uma análise do planejamento de Israel após seu bombardeio do Irã no final de outubro, que degradou suas defesas aéreas e deixou Teerã exposta a um ataque subsequente.
O relatório detalha duas possíveis opções de ataque, ambas envolvendo os Estados Unidos fornecendo suporte na forma de reabastecimento aéreo, bem como inteligência, vigilância e reconhecimento, disseram aqueles familiarizados com o documento.
Uma possibilidade seria um ataque à distância, com aeronaves israelenses disparando mísseis balísticos lançados do ar, ou ALBMs, fora do espaço aéreo iraniano.
Já um ataque stand-in mais arriscado teria jatos israelenses entrando no espaço aéreo iraniano, voando perto dos locais nucleares e lançando BLU-109s, um tipo de bunker buster. O governo Trump aprovou a venda de kits de orientação para esses bunker busters na semana passada e fez uma notificação ao Congresso sobre a aprovação.
A avaliação dos EUA descobriu que um ataque israelense às instalações nucleares do Irã atrasaria, na melhor das hipóteses, suas atividades por meses, e potencialmente apenas por semanas, disseram autoridades atuais e antigas. Qualquer ataque também incentivaria o Irã a buscar enriquecimento de urânio para armas, disseram as autoridades, uma linha vermelha de longa data para os Estados Unidos e Israel.
Irã e Israel realizaram ataques mútuos no ano passado em meio a tensões relacionadas à guerra de Israel em Gaza e ao apoio iraniano ao Hamas e ao Hezbollah.
Em abril, o Irã retaliou diretamente contra Israel pelos assassinatos de seus generais em Damasco, Síria, com um ataque de mais de 300 drones e mísseis no que, na época, marcou a escalada militar mais grave no Oriente Médio desde a Guerra do Golfo. O governo israelense e os Estados Unidos agiram conjuntamente para repelir o ataque.
Seis meses depois, em outubro, o Irã lançou 180 mísseis balísticos contra Israel, em um ataque em resposta à invasão terrestre de Israel no Líbano. A maioria foi interceptada pela defesa aérea. Em retaliação, no dia 26 de outubro, Israel lançou uma série de ataques aéreos contra o Irã.
O governo israelense, a CIA, a Agência de Inteligência de Defesa e o Gabinete do Diretor de Inteligência Nacional não atenderam a pedidos de comentários feitos pelo jornal americano.
Teste para Trump
A perspectiva de um ataque israelense cria um teste inicial para Trump, que fez campanha acabar com as guerras no Oriente Médio e a Europa, ao mesmo tempo em que prega apoio firme a Israel.
Um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Brian Hughes, disse que Trump “deixou claro: ele não permitirá que o Irã obtenha uma arma nuclear”.
“Embora ele preferira negociar pacificamente uma resolução a longo prazo para os problemas americanos com o regime iraniano, ele não irá esperar indefinidamente se Irá está disposto a um acordo em breve”, disse Hughes ao Post.

A revelação coincide com um debate intenso dentro do governo Trump sobre a aplicação adequada do poder militar no Oriente Médio.
Em outubro, contrariando Biden, Trump, na época candidato à presidência, afirmou que Israel deveria atingir as instalações nucleares iranianas. “É o maior risco que temos, armas nucleares”, afirmou o magnata de 78 anos, dias após o ataque iraniano contra Israel.
No final de janeiro, Mike Waltz, escolhido para conselheiro de segurança nacional de Trump, levantou a possibilidade de um ataque israelense apoiado pelos EUA ao programa nuclear do Irã, dizendo à CBS News que “este é o momento de tomar essas decisões importantes, e faremos isso ao longo do próximo mês”.
Ainda não está claro se Trump aprovaria um ataque israelense ao Irã. No final do governo Biden, autoridades dos EUA não acreditavam que o Irã havia decidido buscar uma arma nuclear e não haviam dito a seus colegas israelenses se os Estados Unidos participariam de tal ofensiva.
Trump, no início desta semana, fez alusão a um crescente interesse de Israel em um ataque. “Todo mundo acha que Israel, com nossa ajuda ou nossa aprovação, vai entrar e bombardeá-los pra caramba. Eu preferiria que isso não acontecesse”, disse Trump à Fox News.
“Há duas maneiras de pará-los: com bombas ou um pedaço de papel escrito”, Trump acrescentou. “Eu adoraria fazer um acordo com eles sem bombardeá-los.”/Washington Post.
Por Estadão