Kassab teria dito ao ministro de Minas e Energia, que é influente no PSD, que não imaginava que sua fala daria tanta repercussão
A reação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à fala do presidente do PSD, Gilberto Kassab – que chamou de “fraco” o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e disse que Lula perderia a eleição se a disputa fosse hoje – foi além da resposta dada em entrevista a jornalistas na última quinta-feira, 30. Sobrou para o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Ele é próximo do chefe do governo e influente dentro do partido de Kassab.
Segundo apurou o Estadão/Broadcast, Lula ficou irritado com a declaração e cobrou Silveira, que também é filiado ao PSD. Mandou seu ministro procurar Kassab, conversar sobre o assunto e evitar novas falas como essa. Os dois pessedistas se encontraram pouco depois, em Brasília. Kassab teria dito que não imaginava que sua fala daria tanta repercussão.
![Gilberto Kassab e Luiz Inácio Lula da Silva](https://www.estadao.com.br/resizer/v2/F6DH4XFWQZHUVGCPJSM6ULPJJQ.jpg?quality=80&auth=6568332a9ad1b15b62977e839aa67f7ae34249f91c2421a284625061b0baee58&width=380)
A manifestação do presidente do PSD ocorreu na quarta-feira, 29, em palestra para operadores do mercado financeiro no Latin America Investiment Conference, realizado pelo Banco UBS em São Paulo. “Se fosse hoje, o PT não estaria na condição de favorito. Eles perderiam a eleição”, declarou. Ele também disse não ver uma boa marca do governo. E falou sobre o chefe da equipe econômica da atual gestão. “Haddad não consegue se impor no governo. Um ministro da Economia fraco é sempre um péssimo indicativo”, comentou.
Na quinta-feira, quando falou a jornalistas, Lula disse que riu ao saber das falas do presidente do PSD. “Quando eu vi a história do companheiro Kassab, eu comecei a rir. Porque como ele disse: se a eleição fosse hoje, eu perderia. Eu olhei no calendário e percebi que a eleição vai ser só daqui a dois anos, fiquei muito despreocupado, porque hoje não tem eleição”. O presidente também afirmou que o pessedista foi “injusto” com Haddad, e chamou seu auxiliar de “ministro extraordinário”.
![O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira](https://www.estadao.com.br/resizer/v2/6T7WCCCIVJAUPDMOKIICCNETIA.jpg?quality=80&auth=f0f1e89e9c4135579ed7a068dd49a63c1fa7661b127459d917e867c47a8af2c7&width=380)
As bancadas do PSD na Câmara e no Senado estão na base de apoio a Lula, mas o presidente do partido é um aliado do bolsonarismo. Kassab é secretário de Governo e Relações Institucionais do governo de São Paulo, comandado por Tarcísio de Freitas (Republicanos), um dos favoritos da direita para enfrentar o grupo político de Lula na eleição presidencial de 2026.
O PSD deve ser um dos protagonistas da reforma ministerial planejada pelo Planalto para as próximas semanas. Os deputados do partido indicaram o ministro da Pesca, André de Paula, no início do governo, mas têm dito que a estrutura é pequena demais para a quantidade de votos que os integrantes da legenda dão a favor dos projetos do Executivo. Têm cobrado o Ministério do Turismo, hoje comandado por Celso Sabino (União Brasil).
Também tem a ver com o PSD o destino do agora ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, filiado ao partido. Aliado de Lula, ele provavelmente ganhará um cargo no primeiro escalão. Como mostrou o Estadão/Broadcast, Pacheco se interessa pelas pastas da Justiça e da Indústria e Comércio.
Lula busca um acordo político para manter Pacheco em evidência e lançá-lo como candidato a governador de Minas Gerais. O petista precisa de um aliado poderoso no Estado nas eleições de 2026. O objetivo é ter alguém em solo mineiro em condições de fazer campanha pela reeleição de Lula ou pelo candidato que ele escolher para ser seu sucessor. Na mesma entrevista que falou sobre Kassab, o presidente da República afirmou que gostaria de ver Pacheco eleito como governador de Minas Gerais.
Silveira, que levou a bronca de Lula por causa de Kassab, é um dos cogitados para perder o cargo – isso não tem uma relação direta com a fala do presidente do PSD. O ministro de Minas e Energia chegou ao cargo por indicação de Rodrigo Pacheco e Davi Alcolumbre (União-AP), que acaba de voltar a ser presidente do Senado. Os dois padrinhos, porém, indicaram ao governo que Silveira já não os representa. Esse cenário tira peso político do ministro e o deixa exposto.
O atual chefe de Minas e Energia poderá permanecer no cargo, mas se deixar de ser considerado uma indicação partidária e passar para a chamada “cota pessoal” de Lula. Seria necessário contemplar o grupo político do novo presidente do Senado de outra forma. Conta a favor de Silveira o fato de ele ter conseguido apoios na bancada do PSD na Câmara. Além disso, nos últimos dois anos ele se aproximou de Lula e da primeira-dama, Janja Lula da Silva.
Por Estadão