Resultados do vestibular da USP apontam para a ascensão da ciência de dados
Uma constante histórica do vestibular da USP é que o curso de medicina sempre lidera as notas de corte. Há oito anos, por exemplo, a maior nota de corte foi medicina (campus Pinheiros), seguida de medicina (campus Ribeirão Preto) e em terceiro lugar ficou medicina (campus Bauru).
Porém algo de curioso aconteceu neste ano. De acordo com os resultados do Enem-USP, pela primeira vez o curso de medicina saiu do pódio do ranking. Uma nova área, moldada pela revolução tecnológica, tem capturado a atenção e os sonhos da geração Z.
Em 2025, os cursos de estatística e ciência da computação, impulsionados pelo crescimento da ciência de dados e inteligência artificial (IA), assumiram as duas primeiras posições no ranking de notas de corte do Enem-USP. Essa mudança não é apenas simbólica, ela sinaliza uma profunda transformação das prioridades de uma geração conectada e orientada por dados.
A combinação de estatística e programação não apenas amplia o alcance das soluções, mas também redefine o impacto que um profissional pode gerar. A capacidade de escalar soluções para os novos desafios globais também é um dos grandes atrativos para essa geração. Problemas antes considerados insolúveis, como o enfrentamento das crises ambientais, agora podem ser abordados com maior agilidade e rigor por meio da ciência de dados.
Em áreas como a saúde, a aplicação prática de machine learning levará a avanços revolucionários. Algoritmos preditivos já estão auxiliando na identificação precoce de doenças e permitindo tratamentos clínicos cada vez mais eficazes. Modelos de IA já estão também otimizando operações hospitalares, agilizando pesquisas clínicas e diminuindo as históricas burocracias da saúde, impulsionando uma transformação profunda no setor.
Esse interesse reflete também uma busca por carreiras com alta demanda de mercado e salários elevados. A crescente digitalização das empresas e a expansão da inteligência artificial criaram uma escassez de profissionais qualificados em ciência de dados. Além disso, a natureza interdisciplinar da área abre a oportunidade de atuar em todos os setores, desde o financeiro e o varejista até o setor público e a pesquisa científica.
Essa ascensão de estatística e computação para o topo das preferências dos vestibulandos aponta para uma mudança paradigmática. A geração Z, moldada pela digitalização e pelo fluxo constante de informações, não quer apenas navegar no mundo como ele é, mas quer projetar o mundo como ele pode ser. E, com as habilidades certas, isso não é só um sonho, é o início de uma revolução.
Opinião por Alexandre Chiavegatto Filho
Professor Livre Docente de inteligência artificial na Faculdade de Saúde Pública da USP
Por Estadão