Novo texto orçamentário apresentado de última hora, atendendo exigências de republicanos, queria evitar a paralisação antes do prazo limite de meia-noite de sexta-feira
O Congresso dos Estados Unidos rejeitou nesta quinta-feira, 19, um plano produzido às pressas e apoiado pelo presidente eleito, Donald Trump, que visava evitar uma paralisia do financiamento federal antes do prazo final da meia-noite de sexta-feira e aumentar o teto da dívida.
Em uma votação noturna convocada de última hora, os legisladores não conseguiram atingir o limite de dois terços necessário para a aprovação, com o projeto de lei fracassando por 174-235. Mas o presidente da Câmara, Mike Johnson, parecia determinado a tentar novamente antes do prazo final da meia-noite de sexta-feira. “Faremos a coisa certa aqui”, disse Johnson antes da votação.
Os republicanos, apesar de terem maioria na Câmara, colocaram uma nova proposta em votação depois de Trump e seu conselheiro Elon Musk bombardearem um acordo bipartido alcançado após meses de negociações.
A medida, criada já que os democratas se recusaram a atender às demandas repentinas dos republicanos após as críticas de Trump, foi tornada pública aproximadamente duas horas antes da votação ser realizada. Johnson usou um procedimento especial para acelerá-la para uma votação que exigiu dois terços dos legisladores votando a favor para levá-la até a linha de chegada.
Mas ao chegar para votação, o projeto de lei já parecia destinado a fracassar. Os dois terços só seriam alcançados se um número significativo de democratas se unisse aos republicanos. Mas até mesmo vários legisladores de extrema direita disseram que não apoiariam o projeto porque não concordavam com o aumento do teto da dívida sem extrair nenhum corte de gastos em troca.
Assim como o acordo bipartidário original que Johnson fechou com os democratas, o projeto de lei estenderia o financiamento do governo nos níveis atuais até meados de março e forneceria US$ 100 bilhões em auxílio a desastres e US$ 10 bilhões em pagamentos diretos aos fazendeiros. Também estenderia o projeto de lei agrícola que está expirando por um ano. A medida omite uma série de outras mudanças de política que foram incluídas no acordo inicial.
Mas, de longe, a maior mudança era a adição de uma suspensão de dois anos do teto da dívida, uma exigência que Trump emitiu abruptamente na quarta-feira — dois dias antes do prazo final para a paralisação — e então insistiu que os republicanos incluíssem em qualquer medida para manter os gastos do governo fluindo.
Cargo em jogo
Horas antes, nesta quinta-feira, Trump havia anunciado “SUCESSO em Washington!” com o pacote. “O presidente da Câmara, Mike Johnson, e a Câmara chegaram a um Acordo muito bom”, publicou Trump.
O líder democrata da Câmara, Hakeem Jeffries, disse que os democratas estavam firmes no acordo original com Johnson e chamou o novo plano de “risível”. “Não é uma proposta séria”, disse Jeffries enquanto caminhava para uma reunião fechada com os democratas. Lá dentro, os democratas entoavam: “De jeito nenhum!”
Durante todo o dia, Johnson lutou para atender às quase impossíveis demandas de Trump — e manter seu próprio cargo — enquanto os escritórios federais eram orientados a se preparar para fechar as operações.
Trump disse na manhã desta quinta-feira que Johnson “permanecerá facilmente como presidente” para o próximo Congresso se ele “agir de forma decisiva e firme” ao apresentar o novo plano. Caso contrário, o presidente eleito alertou sobre problemas à frente para Johnson e os republicanos no Congresso.
“Qualquer um que apoiar um projeto que não lide com as areias movediças democratas conhecidas como teto da dívida deve ser alvo de primárias e removido o mais rápido possível”, disse Trump à Fox News Digital.
Para Johnson, que enfrenta seus próprios problemas antes de uma votação em 3 de janeiro para permanecer como presidente da Câmara, as demandas de Trump o deixaram gravemente enfraquecido, forçado a abandonar sua palavra com os democratas e trabalhar durante a noite para buscar uma nova abordagem./AP, NYT e AFP.
Por Estadão