Segundo o Relatório Trimestral de Inflação, pacote fiscal do governo não gerou impacto no mercado sobre o rumo das contas públicas
O Banco Central projeta um cenário complicado à frente no que se refere ao combate à alta de preços. As projeções de inflação do banco subiram em todo o horizonte levado em consideração na definição da política monetária, conforme o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado nesta quinta-feira, 19.
O Comitê de Política Monetária (Copom) já havia informado, no comunicado da semana passada, a elevação das suas estimativas para o IPCA de 2024 e 2025, para 4,9% e 4,5%, respectivamente.
Considerando o acumulado de 12 meses, o BC espera que o IPCA atinja 5% no primeiro trimestre de 2025, 5% no segundo, 5,1% no terceiro e 4,5% no quarto. Todas as projeções subiram frente ao RTI anterior, quando eram de 4%, 3,8%, 3,5% e 3,7%, respectivamente.
Para 2026, o BC projeta IPCA de 4,2% no primeiro trimestre, 4,0% no segundo, 3,8% no terceiro e 3,6% no quarto. Antes, as projeções eram, nesta ordem, de 3,5%, 3,5%, 3,4% e 3,3%. A projeção para o primeiro trimestre de 2027 subiu de 3,2% para 3,4%, distanciando-se do centro da meta, de 3%.
“O aumento da projeção de inflação no horizonte relevante resultou principalmente da atividade econômica mais forte que o esperado, que levou a uma elevação no hiato do produto (o quanto a economia cresce acima da capacidade) estimado, da depreciação cambial e do aumento das expectativas de inflação”, informou o BC.
“As recentes surpresas inflacionárias e a revisão das projeções de curto prazo também contribuíram, no caso via inércia, assim como a elevação da taxa de juros neutra considerada”, diz o relatório. “Esses fatores mais do que compensaram os efeitos da subida da taxa de juros real, que, entretanto, contribuíram para evitar um aumento mais acentuado nas projeções.”
Pacote fiscal
O Banco Central também afirma, no RTI de dezembro, que o pacote fiscal apresentado pelo governo parece não ter gerado impacto positivo sobre a percepção de analistas do mercado acerca das contas públicas. O Questionário Pré-Copom (QPC) mostrou que os economistas esperam impacto menor do que o estimado pelo governo com as medidas.
“Em parte, essa reação está associada à avaliação de que as medidas fiscais são insuficientes”, disse o BC. “Além disso, a projeção mediana de resultado primário (do QPC) não incorpora nenhum impacto das medidas, o que pode estar associado à visão de que o espaço aberto pelo corte de despesas obrigatórias será preenchido por despesas discricionárias.”
O BC avalia que a meta fiscal de 2024 – de déficit zero, com tolerância de 0,25 ponto porcentual do PIB para mais ou para menos – tende a ser cumprida dentro do limite inferior. Mesmo assim, “o quadro fiscal demanda atenção”, segundo a autarquia. Há incertezas sobre o cumprimento das metas fiscais nos próximos anos e para a trajetória da dívida pública.
Por Estadão