Governo diz que reunião de líderes no Rio terá 55 delegações e que número ‘significativo’ vai aderir à aliança contra fome e pobreza
O governo brasileiro defende que o G-20 alcance na Cúpula de Líderes do Rio, em 18 e 19 de novembro, uma declaração final focada na necessidade de avançar em negociações de paz na guerra da Ucrânia, o principal conflito global em discussão. Os líderes do grupo das 20 maiores economias do mundo vão discutir esse e outros temas geopolíticos, como a guerra no Oriente Médio, entre Israel e os terroristas do Hamas, bem como seus desdobramentos no Líbano e no Irã. O assunto segue pendente de entendimento.
“A mensagem principal é de que precisamos chegar à paz nesses conflitos”, disse o embaixador Maurício Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty. Ele é o principal negociador do País no G-20 e exerce a função de representantes dos chefes de Estado e de governo dos países-membros, conhecido como “sherpas”. Lyrio ponderou que as guerras drenam atenção política e recursos financeiros em detrimento de outras iniciativas que são parte das prioridades escolhidas pelo Brasil, como combate à fome e à pobreza e as mudanças climáticas.
A Declaração de Líderes do G-20 no Rio é um documento final que resume os trabalhos, os resultados alcançados e as posições comuns dos principais líderes políticos do mundo. Seu teor é considerado “crucial”, conforme o embaixador.
Embora o tema das guerras em curso fosse levantado por delegações ao longo do ano, a diplomacia brasileira emplacou uma manobra para evitar que dominassem a pauta dos encontros ministeriais e impedissem entendimentos e a publicação de comunicados conjuntos. O Brasil propôs e assegurou que iria tratar dos conflitos bélicos nas reuniões de chanceleres e agora na cúpula final de líderes, no Rio. Por isso a expectativa sobre como o G-20 vai se pronunciar.
A discussão é um dos temas mais complexos do G-20, porque opõe membros do G-7 – aliados da Ucrânia – e o Sul Global – que, ou se inclinam claramente em favor da Rússia, ou se colocam como “neutros”. Ainda não há consenso sobre qual tom será adotado.
O assunto travou os trabalhos nas duas últimas edições do G-20, em 2022 (Bali, Indonésia) e 2023 (Nova Délhi, Índia). Entre as cúpulas indonésia e indiana, a declaração do grupo sobre a guerra no Leste Europeu foi abrandada em favor da Rússia.
Diante do risco de não conseguir um consenso, o presidente Lula e o premiê indiano, Narendra Modi, apelaram pessoalmente às delegações para que aceitassem um tom mais ameno, que poupava a Rússia e não citava mais a invasão ordenada por Putin em fevereiro de 2022.
No ano da invasão da Ucrânia, o documento final do G-20 foi considerado bastante duro contra Putin – que faz parte do grupo – por reproduzir termos usados pelos países do G-7, aliados da Ucrânia. A maioria do G-20 decidiu condenar fortemente a guerra, deplorar veementemente a agressão russa e exigir a retirada total e incondicional de tropas russas do território ucraniano. Nada disso constava do documento em Délhi.
O Itamaraty informou que a reunião de líderes no Rio terá ao todo 55 delegações, entre países membros, convidados e organizações internacionais. Cerca de 2,3 mil jornalistas e profissionais de imprensa estão credenciados.
O embaixador disse ter esperança de que quase todos os países enviem como representantes seus chefes de Estado ou de governo, com algumas defecções já confirmadas. A principal ausência será a do presidente russo, Vladimir Putin, que afirmou não querer atrapalhar os trabalhos do G-20 e, ameaçado por uma ordem de prisão, desistiu de comparecer. Ele será representando pelo ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, confirmou o Itamaraty.
Como a guerra na Ucrânia não é um dos temas que o Brasil quer destacar no G-20, o governo Lula rejeitou apelos de Kiev para que convidasse o presidente Volodmir Zelenski ao Rio. Segundo o sherpa brasileiro, o País não deseja que o G-20 substitua atribuições do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
O presidente Lula já havia dito que o negociação sobre a guerra na Ucrânia não era um assunto para a cúpula, ecoando um argumento diplomático da própria Rússia. A diplomacia de Moscou rejeita a “politização” do G-20, pede que o grupo foque em assuntos econômicos e financeiros. Temas geopolíticos devem ficar de fora da cúpula, defendeu o embaixador russo em Brasília, Alexei Labetskii, como mostrou o Estadão.
Por Estadão