De olho em 2026, parlamentares e políticos do DF devem marcar presença nas eleições municipais do Entorno
O Distrito Federal e o arquipélago Fernando de Noronha são os dois únicos locais no Brasil que não terão eleições neste ano por não serem municípios. O DF e a ilha vulcânica têm competências legislativas diferenciadas. Aqui porque estamos na capital federal do País e é a única unidade da federação que tem competência de Estado e município. Noronha é um território. Como o nosso quadradinho é rodeado de cidades goianas e mineiras que formam a região do Entorno, nossos vizinhos terão suas eleições municipais e isso atrai a atenção dos parlamentares e políticos daqui, pois diariamente milhares de pessoas se deslocam para a capital federal para trabalhar, estudar, passear, enfim, a população desses municípios tem um elo, um vínculo, muito forte com a capital federal. Nas eleições de 2020, os eleitores das cidades do Entorno do DF aptos a votar ultrapassou a marca dos 1,2 milhão. Considerando que o Censo de 2022 apontou que o DF e o Entorno têm mais de 4,5 milhões de habitantes, e que a quantidade de pessoas que moram nessas cidades vizinhas que não transferiram o seu título eleitoral para Goiás ou Minas Gerais é bem significativa e votam aqui, essa parcela do eleitorado brasiliense que vive na região se torna importante para os políticos da capital federal. Quando chega essa época, essa movimentação ocorre de forma natural. É comum vermos parlamentares, autoridades e lideranças da política brasiliense participando de atos e eventos políticos no Entorno quando as eleições municipais começam para valer. Alguns chegam a investir e a destinar parte de sua estrutura para ajudar a alavancar candidaturas de aliados mais próximos. É uma troca. “Eu te ajudo aí e você me ajuda aqui depois”. Essa prática se tornou um costume entre os políticos do DF com os da região do Entorno. Quando chegar em 2026, o movimento tem que ser inverso. Os prefeitos e vereadores desses municípios circunvizinhos inclusive já têm o hábito de perguntar se a pessoa “vota aqui ou no DF”, até para pedir voto para si mesmo neste ano.
Caiado e Marconi devem travar disputa por espaço político
As eleições municipais deste ano no Entorno vão reacender uma rixa antiga em Goiás entre o atual governador de Goiás e pré-candidato à presidência da República, Ronaldo Caiado, do União Brasil, e o ex-governador e ex-senador, Marconi Perillo, que é presidente nacional do PSDB. Em 2020, Caiado venceu de lavada o adversário. Para este ano, o confronto entre eles deve ficar ainda mais acalorado, pois as municipais trazem consigo a oportunidade de cada um marcar território pensando nas eleições de 2026. Ronaldo Caiado quer eleger sua esposa, Gracinha, como senadora e Marconi deve bater chapa contra ela, apesar de serem duas vagas a serem preenchidas. Os dois sabem da importância e da diferença que os votos do Entorno fazem na hora que se abrem as urnas. Um dos problemas que ambos vão enfrentar é o sentimento do eleitorado que sente falta de uma presença mais constante dos políticos que ficam em Goiânia. É daí que vem o termo Nem Nem. O povo do Entorno não se sente nem de Goiás e nem do DF. A única certeza que se tem é que a briga vai ser de gente grande.
Eleitorado dependente dos serviços do DF
A prova de que a população do Entorno não se sente acolhida pelo governo de Goiás é o fato de que eles são muito dependentes dos serviços públicos do Distrito Federal. Diariamente, milhares de pessoas se deslocam para as cidades da capital do País para trabalhar, estudar ou em busca de atendimento nos hospitais e nos mais diversos serviços oferecidos pelo setor público. Essa tal dependência é apontada por especialistas em sociologia como o principal motivo que faz com que muitos moradores do Entorno não troquem o seu domicílio eleitoral para onde vivem. Conforme for a situação, o cidadão do Entorno consegue resolver sua demanda por meio da ajuda de um político do DF do que de Goiás ou Minas Gerais.
Lula e a esquerda estão com o filme queimado
Quem vai ter dificuldades para eleger candidatos a prefeitos e a vereadores será a esquerda. As últimas eleições no Entorno tem sinalizado que o presidente Lula, do PT, e a ‘companheirada’ da esquerda estão com o filme queimado na região. Já faz um bom tempo que nenhum ‘companheiro’ consegue administrar uma cidade do Entorno. Nos bastidores atribui-se essa falta de empatia da população das cidades circunvizinhas com a turma do Lula por causa das experiências que tiveram com administrações esquerdistas. Todas elas foram decepcionantes. E fora que a esquerda nunca foi muito benquista pelo eleitorado do Entorno. É só analisar a composição das Câmaras Municipais das cidades da região. A maioria delas têm mais vereadores da direita e do centro do que da esquerda. Para as eleições deste ano, mesmo com Lula no Planalto, dificilmente a esquerda vai conseguir recuperar espaço nas cidades do Entorno.
Damares e Michelle devem apoiar candidatas conservadoras
Imbuídas com o propósito de fazer crescer a participação das mulheres conservadoras nos legislativos municipais, a senadora Damares Alves, do Republicanos, e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, do PL, vão entrar em campo para pedir votos para as candidatas alinhadas com a direita. Damares e Michelle exercem forte influência no eleitorado feminino e devem conseguir transferir votos para suas aliadas. Expoentes do bolsonarismo, a senadora e a ex-primeira-dama vão eleger uma boa leva de vereadoras e devem emplacar algumas prefeitas não só aqui no Entorno como em outras regiões do Brasil.
Águas Lindas, Luziânia e Valparaíso terão embates entre algozes
Entre as cidades que terão confrontos dignos de roteiro de cinema estão Águas Lindas, Luziânia e Valparaíso. Em Águas Lindas, a população aguarda uma decisão definitiva do atual prefeito Lucas Antonietti. Ele havia anunciado que não iria concorrer e depois voltou atrás. Recentemente, os boatos de que o doutor Lucas desistiu estão circulando novamente na cidade. Caso opte por concorrer à reeleição, Antonietti deve enfrentar um candidato do grupo do Túlio. Em 2020, o prefeito venceu por uma diferença de 35 votos. Os oponentes de Lucas ainda sonham com a possibilidade do próprio Túlio ser candidato, mas isso depende de outros fatores. Em Luziânia, Diego Sorgatto, atual prefeito, vai bater chapa contra a sua vice, a diretora Ana Lúcia. Logo no primeiro ano de mandato, os dois se estranharam e desde então passaram a ser adversários, mesmo integrando a aliança que fez com que eles chegassem à prefeitura. Esse embate promete ser um dos mais acirrados da região. Já em Valparaíso, a disputa pela prefeitura terá como protagonistas os ex-aliados Pábio Mossoró e Lêda Borges. Ambos não vão se candidatar, mas já escolheram seus laranjas para o pleito. Pábio aposta no seu ex-secretário Marcus Vinícius, mais conhecido como Cinquentinha. E Lêda conseguiu cooptar para seu grupo o vereador José Antônio, que é chamado pelo povo de Zé Leso. O eleitor de Valparaíso tem demonstrado que está cansado desse jogo combinado e dissimulado dos dois e pode acabar elegendo uma pessoa de fora desses dois grupos. A assistente social, Maria Yvelônia, que conta com apoio de Damares, Michelle e Jair Bolsonaro, surgiu no cenário como uma alternativa aos laranjas de Mossoró e de Lêda. Vamos acompanhar para saber quem vai levar a melhor.
* José Fernando Vilela é jornalista com especialização em marketing político e eleitoral. Já trabalhou em diversos órgãos públicos (GDF/CLDF/Câmara/Senado) e iniciativa privada. É editor-chefe, analista político e colunista do Expressão Brasiliense, e é presidente da ABBP – Associação Brasileira de Portais de Notícias – desde 2021. Apresenta o programa Viva a sua Cidade, de segunda a sexta, das 11h às 13h, na rádio Viva FM 101.3.
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