Oito pessoas foram assassinadas a tiros no sábado 30 em Guayaquil, sudoeste do Equador, onde uma nova onda de violência provocou três massacres nos últimos dois dias.
“Vários indivíduos armados a bordo de um veículo abriram fogo contra um grupo de pessoas na área de Guasmo, no sul de Guayaquil, por volta das 18h55”, informou a polícia em um comunicado. “Duas pessoas morreram no local.”
Outras vítimas não resistiram aos ferimentos depois que foram levadas para vários hospitais da região. Oito pessoas ficaram feridas e estão sob proteção policial.
O Equador, no passado um dos países mais pacíficos da América Latina, está sob o jugo de quadrilhas criminosas, que disputam violentamente as rotas do narcotráfico.
O ciclo de violência provocou o aumento da taxa de homicídios, que passou de 6 por 100 mil habitantes em 2018 para o recorde de 43 por 100 mil em 2023.
Massacre de turistas
Duas pessoas foram detidas no sábado pelo suposto envolvimento no caso dos cinco turistas sequestrados, interrogados e assassinados em uma praia do sudoeste do Equador por traficantes que, aparentemente, os confundiram com membros de uma quadrilha rival.
Seis adultos e cinco crianças equatorianos, que haviam chegado ao balneário de Ayampe na tarde de quinta-feira, foram sequestrados no dia seguinte quando cerca de 20 pessoas armadas invadiram o hotel em que estavam.
As vítimas foram submetidas a “interrogatórios” e os corpos de cinco adultos foram encontrados com ferimentos a bala em uma rodovia próxima, informou o comandante local da Polícia, Richard Vaca.
Os turistas não tinham vínculos com organizações criminosas, mas os agressores “aparentemente teriam confundido esses indivíduos com seus adversários na disputa pelo micro-tráfico na região”, acrescentou.
Durante as operações de captura, foram apreendidos fuzis automáticos, pistolas, explosivos e munições.
O presidente Daniel Noboa expressou “solidariedade com as famílias” das vítimas em uma postagem neste sábado na plataforma X.
“Esta é uma demonstração de que o narcoterrorismo e seus aliados estão buscando espaços para nos aterrorizar, mas não vão conseguir”, advertiu.
Em janeiro, Noboa declarou o país em conflito armado interno, após uma violenta investida de quadrilhas criminosas que resultou em cerca de 20 mortos, ataques à imprensa, explosões e mais de 200 sequestros em prisões e nas ruas.
Violência e referendo
Apesar do estado de exceção, que vigora desde janeiro por determinação do governo, a violência no Equador não cessa. Na sexta-feira, quatro pessoas, incluindo um militar, foram assassinadas na cidade de Manta, em Manabí.
No fim de semana passado, a prefeita de San Vicente, na mesma província, foi executada a tiros em um novo caso de violência política que deixa o país de luto após os assassinatos do candidato presidencial Fernando Villavicencio e do prefeito de Manta, Agustín Intriago, em 2023.
Na quarta-feira, uma rebelião em um presídio de Guayaquil (sudoeste) deixou três detentos mortos e seis feridos no mesmo centro prisional de onde Adolfo ‘Fito’ Macías, líder da quadrilha Los Choneros, fugiu em janeiro sem deixar rastro.
Noboa assegurou que os últimos acontecimentos violentos nessa prisão “não são fatos isolados”, pois ocorreram às “vésperas de uma consulta popular” que o governo impulsiona para enfrentar o narcotráfico. Em sua conta na plataforma X, o presidente responsabilizou “narcoterroristas” e “políticos aliados” pelo motim.
Noboa, no poder desde novembro, convocou um referendo para 21 de abril para consultar os equatorianos sobre endurecer ou não as medidas para enfrentar o narcotráfico. Entre as perguntas está a via livre para que militares apoiem os policiais sem a necessidade de um estado de exceção, a extradição de equatorianos vinculados ao crime organizado e o aumento das penas por terrorismo e narcotráfico.
Os presídios equatorianos são o centro operacional das quadrilhas de narcotraficantes vinculadas aos cartéis da Colômbia e do México. Desde 2021, os confrontos armados constantes entre esses grupos criminosos deixaram mais de 460 detentos mortos.
Situado entre a Colômbia e o Peru, os maiores produtores de cocaína do mundo, o Equador se tornou um centro logístico para o envio da droga para os Estados Unidos e a Europa.