Igor Talalai passou três meses de pesadelo em vários centros de “triagem” na Ucrânia, após ser detido pelas tropas russas na cidade de Mariupol.
Este homem de 25 anos, ainda traumatizado, relatou o seu calvário nesta quarta-feira (27), em uma reunião na sede da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) em Viena, na Áustria.
Em março, ele auxiliava os moradores a sair da cidade portuária de Mariupol, sitiada pelo exército russo, quando foi detido e levado ao território separatista pró-russo de Donetsk, no leste.
“Foi extremamente difícil”, disse Talalai, ao mencionar os espancamentos que recebeu e a fome que sentia “constantemente”. Ele apenas recebia algumas colheres de sopa de mingau cozido por dia e um pouco de caldo.
Também lembrou da cela de três metros quadrados onde permaneceu com outras 30 pessoas, obrigadas a ficar de pé, e algumas torturadas com choques elétricos.
Este estudante, que gostava de jogar futebol antes da guerra, prefere guardar silêncio sobre outros episódios dolorosos de seus 88 dias de detenção. Agora, ele vive em sua cidade natal, Dnipro, no centro da Ucrânia, e veio à capital austríaca para dar seu depoimento sobre os “centros de triagem”.
Em um relatório publicado em meados de julho, a OSCE disse que estava “gravemente preocupada” com o tratamento dado por Moscou a dezenas de milhares de ucranianos detidos nessas instalações, que são estimadas em cerca de 20.
O documento menciona “interrogatórios brutais” com registro de informações pessoais, “revistas corporais humilhantes” e, inclusive, o desaparecimento daqueles com suspeita de possuir vínculos com as forças ucranianas.
Moscou, por sua vez, insiste que seu único objetivo é permitir a “evacuação” dos civis das “zonas perigosas”.
O sistema foi introduzido pela primeira vez pelas autoridades separatistas do leste do país em 2014, mas acabou “se generalizando” e se desenvolvendo “em larga escala”, segundo o jornalista Stanislav Mirochnychenko, que realizou um estudo sobre o tema para a organização Iniciativa da Mídia para os Direitos Humanos (MIHR, na sigla em inglês).
Yuri Berezovsky, que também esteve em Viena, foi detido na região de Luhansk.
“Tive sorte pois me deixaram ir, mas, durante toda a detenção, vivi com o medo de não saber como isso terminaria. Isso foi o mais assustador”, lembrou este professor de música de 32 anos.
A seu lado, Olga Tabachuk revelou que não tem notícias de seu filho de 38 anos desde que ele foi levado para um desses centros.
“Não sei se ele está vivo ou não. É puro terror, impensável nos tempos modernos”, contou esta mulher que tem por volta de 60 anos.