Quem se vacina se protege e protege os demais. É essa importância coletiva que damos para a vacina

O Mais Goiás conversou com o médico e secretário de Saúde de Goiás, Rasivel dos Santos Reis Júnior, nesta segunda-feira (30), mesma data que o Estado decretou situação de emergência devido à Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e aos baixos índices de vacinação contra a gripe no território goiano. Segundo o titular da pasta, a difusão de fake news compromete a cobertura vacinal e a ocupação de leitos de UTI por pacientes com doenças que poderiam ser prevenidas.
Ainda segundo Rasivel, a SRAG não é uma gripezinha e os extremos de idade são os mais afetados. “É importante não relativizar os sintomas respiratórios, principalmente em extremos de idade, ou no caso de alguma comorbidade. Se o paciente tiver condição crônica, pode complicar ainda mais.”
A entrevista na íntegra você confere a seguir.
Qual é o motivo de tanto desânimo da população em relação ao imunizante contra influenza?
Rasivel Santos – Tivemos uma contaminação devido às fake news, que causou estrago em relação a cobertura final. Mesmo na época da Covid-19, o governador Ronaldo Caiado (União Brasil), acreditou na ciência, na literatura médica que mostra que a vacina funciona. São mais de 30 doenças imunopreveníveis, ou seja, que podem ser combatidas com a vacinação. As vacinas reduzem complicações, internações… E com a sociedade mais saudável, conseguimos aproximar da integralidade, ou seja, fazer tudo para todos o tempo todo. Outro grande desafio é a equidade, que é fazer o diferente para as necessidades diferentes, cuidando de cada goiano, independente de onde reside. Nós conseguimos nos aproximar dos princípios do SUS, se a população se vacinar. Quem se vacina se protege e protege os demais. É essa importância coletiva que damos para a vacina. O poder público faz a campanha, dá o local e a vacina.
“Quem se vacina se protege e protege os demais. É essa importância coletiva que damos para a vacina”
Essa baixa adesão também afeta imunizantes de outras doenças?
Rasivel Santos – Afeta todas as outras doenças. A cobertura é baixa em todas as doenças imunopreveníveis. Já tivemos acima de 90%, uma cobertura elevada, que gera menos complicações, menos internações e menos mortes. Nesse ano, quase 400 pessoas perderam suas vidas com SRAG. Precisamos tomar providência, a sociedade precisa se conscientizar. Não podemos obrigar, mas mostrar que traz consequências graves [não se vacinar].
Esses leitos usados para internar quem não se vacinou, quem teve complicações devido a uma doença que poderia ser prevenida, ocupa o espaço de quem infartou, quem teve um trauma, AVC, para cirurgias eletivas, que temos espera. Poderiam ser utilizados para cuidar desses pacientes.
E como a SES pretende reverter a baixa adesão à vacinação contra gripe?
Rasivel Santos – Hoje, 39% da população prioritária se vacinou. Se entrarmos nos detalhes, são 21% das gestantes, 33% das crianças e dos idosos, pouco mais de 40%. Menos da metade do ideal, que seria acima de 90%. É uma dificuldade grande. Nós temos combatido fake news com informação, com campanhas. Além disso, em qualquer lugar que vou, falo onde há pessoas reunidas da importância da vacinação. Explico a segurança da vacinação.
Estado de emergência resulta na oferta de quantos leitos adicionais na rede pública/conveniada?
Rasivel Santos – Foram 163 de terapia intensiva criados ou convertidos para SRAG. Esse período de janeiro a junho teve um aumento de 57% de casos e 33% de internação. Então, é importantíssimo decretar a emergência por alguns motivos: sensibilizar sociedade que o momento é complicado e que precisamos do empenho para vacinação; sensibilizar sistemas de saúde, hospitais municiais e filantrópicos para converter leitos normais em leitos da SRAG e, com isso, remunerar melhor esses leitos; mostrar que temos ambientes e recursos escassos, então temos que otimizar o uso desses leitos, atentos ao tempo de permanência. O decreto se presta a todas essas questões para fazermos o enfranemtnamento conjuntamente.
Quanto custa o tratamento de um paciente com SRAG diante do valor do imunizante?
Rasivel Santos – O Ministério da Saúde R$ 600 a diária do leito de terapia intensiva, mas com o decreto vai pagar R$ 2 mil. Os leitos de atendimento, de acolhimento, salas vermelhas, vai pagar R$ 500 reais. Hoje, urgência não é remunerado.
Quanto o Estado gasta em saúde e quanto economizaria se a população colaborasse com a vacinação?
Rasivel Santos – Seria uma economia importante do uso desses leitos. O que faríamos, como mencionei, seria converter em pacientes com algum caso agudo ou fazendo a eletiva. O estado de Goiás gasta R$ 3 bilhões por ano. Não reduziríamos em valor, mas reduziríamos a espera, faríamos eletivo. O acesso ao leito seria facilitado se não tivesse a quantidade de pacientes que não se complicaram. É um exercício de cidadania gostaria de pedir a população. Não espere a próxima semana para se vacinar.
Quantos imunizantes perdemos a cada mês em razão da data de validade?
Rasivel Santos – Não estamos perdendo imunizantes. De influenza, chegaram 2,2 milhões e aplicamos 1,5 milhão de doses. Precisamos usar as outras 700 mil. Às vezes, a pessoa acaba se vacinando até o fim do ano, mas não se protege do período mais perigoso (que é agora), momento em que ficam mais doentes. É importante se vacinar no tempo certo. Começamos em abril e abrimos para toda a sociedade, pois os grupos prioritários não estavam comparecendo
Mas sobre a SRAG, trata-se de uma gripezinha?
Rasivel Santos – Não é uma gripezinha. Os pacientes muitas vezes têm sintomas de gripe, mas crianças acabam tendo, sianoses (pele arroxeada). Idosos podem ter redução de nível de consciência, prostração, uma série de sintomas e risco que vão se agravando. Acabam precisando de suporte ventilatório. O idoso pode evoluir para pneumonia, insuficiência cardiáca e renal. Pode sobreviver a virose, mas descompensando o quadro clínico, já que costumam ter outras comorbidades. Com isso, podem falecer em decorrência da virose que pegou, mas as pessoas não fazem a associação.
Porque os sintomas e consequências da SRAG não devem ser subestimados?
Rasivel Santos – É importante não relativizar os sintomas respiratórios, principalmente em extremos de idade, ou no caso de alguma comorbidade. Se o paciente tiver condição crônica, pode complicar ainda mais.
E qual é o perfil de quem mais ocupa leitos de internação com sintomas graves?
Rasivel Santos – Os extremos de idades. Crianças abaixo de 2 anos e idoso acima de 60 anos.
Por Mais Goiás