Cirurgia ocorreu na Califórnia, nos Estados Unidos, e paciente teve resposta surpreendente
Cirurgiões no sul da Califórnia realizaram o primeiro transplante de bexiga humana, oferecendo uma nova esperança a pessoas com problemas graves nesse órgão.
A cirurgia foi realizada no início deste mês por dois médicos da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA) e da Universidade do Sul da Califórnia (USC), informou o The New York Times.
O paciente, Oscar Larrainzar, de 41 anos, perdeu a maior parte da bexiga devido ao tratamento de uma forma rara de câncer. “Eu era uma bomba-relógio”, disse Larrainzar. “Mas agora tenho esperança.”

Os médicos planejam realizar mais quatro transplantes de bexiga como parte de um pequeno estudo. Eles querem entender os possíveis riscos, quão bem a bexiga transplantada funciona e a possibilidade de o corpo rejeitar o novo órgão.
O médico Inderbir Gill, da USC, chamou a cirurgia de “a realização de um sonho”. Para ele, o procedimento poderia ajudar pessoas com problemas crônicos na bexiga, como dor, infecções e inflamação.
Geralmente, pacientes que perdem a bexiga têm parte do intestino reaproveitada, proporcionando uma nova maneira de urinar.
Mas esse método tem desvantagens. O tecido intestinal contém bactérias e não é estéril, o que pode levar a problemas de saúde em até 80% dos pacientes. Também pode causar problemas digestivos, informou o NYT.
Anos de desenvolvimento
A nova cirurgia foi desenvolvida ao longo de vários anos. Os médicos primeiro praticaram o transplante em porcos e, em seguida, testaram o método em órgãos humanos doados.
Um grande desafio foi remover cuidadosamente a bexiga com seus vasos sanguíneos para que ela pudesse ser transplantada com segurança.
Para tornar a cirurgia mais segura, os médicos conectaram as principais artérias sanguíneas da bexiga enquanto o órgão estava congelado. Dessa forma, eles só precisaram conectar duas artérias em vez de quatro ao inseri-lo no paciente.
A equipe de transplante conseguiu seu primeiro órgão compatível no início de maio. Eles buscaram a bexiga e um rim em um centro de transplante de órgãos, e então realizaram a cirurgia de oito horas na UCLA. Larrainzar precisava dos dois órgãos porque sofria de insuficiência renal e danos graves na bexiga, informou o NYT.
Os resultados foram promissores. O novo rim começou a funcionar imediatamente e Larrainzar começou a perder excesso de líquido.
Seu nível de creatinina, um sinal fundamental da função renal, melhorou rapidamente. Mais surpreendente ainda, apenas dois dias depois de voltar para casa, ele sentiu que conseguia urinar sozinho.
“Ele fez xixi!”, contou empolgado Nima Nassiri, o outro cirurgião de Larrainzar. “Sério?! Que loucura”, respondeu Gill.
Ainda assim, os especialistas afirmam que esse tipo de transplante pode não ser adequado para todos. Pessoas que recebem transplantes precisam tomar medicamentos por toda a vida para impedir que o corpo rejeite o novo órgão. Isso pode ter efeitos colaterais.
Rachel Forbes, cirurgiã especialista em transplantes da Universidade Vanderbilt, que não teve envolvimento no transplante, afirmou que já existem opções para pessoas sem bexiga, e sem a desvantagem de precisar de imunossupressão.
A menos que um paciente vá tomar esses medicamentos de qualquer maneira, ela disse ao NYT que “ficaria um pouco nervosa por trocar algumas complicações por outras”.
Os médicos também não tinham certeza se Larrainzar conseguiria sentir quando sua bexiga estivesse cheia ou se a esvaziaria normalmente. A princípio, planejaram usar cateteres ou dispositivos especiais para ajudá-lo. Mas a reação do seu corpo surpreendeu a todos.
“É a primeira vez que ele consegue fazer xixi em sete anos”, comemorou. “Para todos nós, isso é muito importante.”
Por Estadão