O ministro do Empreendedorismo, Márcio França (PSB), se lançou neste sábado (26), na convenção de seu partido em São Paulo, como pré-candidato ao governo do estado nas eleições do ano que vem e fez uma série de ataques ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), a quem comparou à vilã Maria de Fátima, da novela “Vale Tudo”, da Globo.
“Pré-candidato de verdade, você tem um período que é a partir do ano que vem. Mas o desejo de disputar a eleição eu tenho. Já comuniquei isso internamente a todo mundo do partido”, disse.
Em seu discurso, França associou Tarcísio ao bolsonarismo e destacou as acusações contra o ex-presidente e seus aliados por tentativa de golpe de Estado e ataques à democracia. Com uma série de indiretas e uma analogia à novela, criticou o governador por tentar se distanciar do grupo.
“Aqui para São Paulo, nós temos hoje um ovo da serpente sendo gestado, preparado”, disse. “O Bolsonaro, com todos os defeitos, é autêntico, é um doido autêntico. Tudo o que ele pensa, ele fala. É melhor do que as pessoas falsas”, disse.
França seguiu: “As pessoas falsas, elas não falam tudo o que pensam. Esperam o momento certo. Sabe aquela moça da novela, a Maria de Fátima [personagem de Bella Campos]? Eu estava vendo ela ontem, ela lá torcendo para a namorada brigar com o namorado, mas dando a expressão que está ajudando. Ela vai empurrar quem ela for. Essa imagem de Fátima é um problema. Esse estilo, pessoa fingida. E aqui nós temos uma situação assim”, disse.
O ministro foi vice-governador durante a gestão de Geraldo Alckmin (PSB) e assumiu o estado em 2018, quando o aliado renunciou para disputar a Presidência. Foi um dos articuladores, ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), da aliança que uniu Lula (PT) e Alckmin, antigos rivais, contra Jair Bolsonaro (PL) em 2022.
Alckmin, que ocupa a Presidência da República neste sábado, diante da ida de Lula ao enterro do papa Francisco, participou da convenção, mas não falou com a imprensa. Também destacou os ataques à democracia associados ao bolsonarismo.
“Enquanto alguns planejavam assassinar seus adversários, o governo Lula é o governo do diálogo, da paz, da união de todos para fazer o Brasil avançar”, afirmou o vice-presidente.
França defendeu que Alckmin permaneça na chapa de Lula em uma eventual reeleição do petista. “É difícil ele [Lula] encontrar um vice com a característica do Alckmin, que não dá entrevista, não fala, é superdiscreto”, disse. “Acho muito difícil o Lula mexer nesse assunto. Eu acho que o presidente, sendo candidato à eleição, vai levar o Alckmin junto, até porque é uma garantia”, afirmou.
A jornalistas, antes do discurso, afirmou que pretende disputar a eleição aglutinando os partidos de esquerda, especialmente o PT.
“A gente faz parte de um governo federal, hoje eu sou ministro, e estou aguardando o presidente Lula para ver como ele enxerga o quadro. Lula ainda está fazendo seus arranjos nacionais, mas tenho a impressão de que caminha para um acordo. Na última eleição, eu seria candidato, mas o presidente Lula pediu para que eu não fosse, por conta do Haddad”, afirmou o ministro.
França disse que já conversou sobre a candidatura com Haddad e que o colega afirmou não ter interesse em concorrer novamente ao Palácio dos Bandeirantes —ele foi derrotado por Tarcísio. O líder da bancada petista na Alesp, Antonio Donato, esteve no evento e fez um discurso de exaltação à parceria entre os dois partidos.
A convenção do PSB ocorreu no plenário da Alesp, que estava lotado, e elegeu o deputado estadual Caio França, filho do ministro, como presidente estadual.
Caio, 36, foi eleito por aclamação dentro de um projeto de “rejuvenescimento” da sigla: o partido é presidido na capital paulista por Tabata Amaral, 31, e deverá ser presidido, em nível nacional, pelo prefeito do Recife, João Campos, também de 31 anos, em convenção que ocorrerá nas próximas semanas.
O evento foi pontuado por gritos de “sem anistia”, em referência ao projeto apresentado pelo PL na Câmara dos Deputados para impedir punições aos envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 e na trama golpista denunciada ao STF (Supremo Tribunal Federal).
A jornalistas antes de subir no palanque, França afirmou que é cedo para prever o cenário eleitoral do ano que vem, considerando que há dúvidas se Tarcísio tentará a reeleição ou disputará a Presidência. Avaliou, porém, que há chances de pulverização de candidaturas à direita, o que poderia favorecê-lo.
“No nosso campo [esquerda], não há tanta disputa como do outro lado. Se o governador disputar a eleição presidencial, aí fica uma salada de um monte de candidatos. E, mesmo que seja contra o governador, eu teria prazer em fazer uma discussão mais profunda com ele”, disse.
França foi prefeito de São Vicente, na Baixada Santista, e ocupou uma série de cargos nas gestões estaduais do PSDB até ser vice-governador de Geraldo Alckmin entre 2015 e 2018.
Questionado sobre como rivalizaria com o atual governador, França não fez referências ao antagonismo entre “golpista” e “democratas” explorada no discurso público. Disse que enfrentaria Tarcísio com “a legitimidade paulista”, em menção indireta ao fato de Tarcísio ter nascido no Rio de Janeiro.
“Você conhecer São Paulo, ser de São Paulo, amar São Paulo, saber o que quer dizer MMDC —que é um absurdo um governador ter dificuldade de entender isso. E, mais do que tudo, ter uma prática de entrega”, afirmou França. A sigla refere-se ao nome de estudantes mortos em um protesto contra a ditadura de Getúlio Vargas às vésperas do início da Revolução Constitucionalista de 1932.
“O governador foi uma pessoa que falou muito de técnica, mas não entregou nenhum metrô, o Rodoanel continua sem ser concluído. Não houve uma novidade administrativa em São Paulo nos últimos dois, três anos. Ele é uma pessoa que pode ser um bom quadro, comandado por alguém”, disse.
“O governador [Tarcísio] é muito forte, é engenheiro, então ele fica com números e números. Mas, se você assoprar a espuma, sobra pouca coisa concreta. É tudo coisa para o futuro”, afirmou.
O ministro prosseguiu: “O que você vê é isso, uma insegurança, um aumento nos índices de criminalidade, este feriado passado foi um desastre em todas as estradas, trânsito em tudo quanto é canto, e ele na Europa. Ele tem que ser questionado.”