Segundo a avaliação das ‘velhas raposas da política’, o ex-presidente é carta fora do baralho
Jair Messias Bolsonaro. Ex-presidente da República, ex- deputado federal, capitão reformado do Exército Brasileiro. Inelegível nos próximos oito anos. Réu na denúncia da Procuradoria-Geral da República pelos crimes cometidos na tentativa de dar um golpe de Estado. Alta possibilidade de ser condenado à prisão pelos atos que serão julgados pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Considerado, por alguns, o favorito entre os postulantes à Presidência em 2026 do grupo da direita, agora vê suas pretensões passarem por mais uma prova. Certamente capaz de enfraquecer seu nome e o conceito de vitalidade que sempre fez questão de cultivar durante toda sua carreira.
Que peso, qual a mensagem que a cirurgia de Bolsonaro passa neste momento para a política? A principal delas, na avaliação de velhas raposas do meio, é que “a não ser por um milagre” ele já estaria completamente fora do jogo. Há muitas décadas e, desde o fim do século XIX, a saúde e o vigor dos candidatos e dos presidentes são temas candentes na agenda política. Por exemplo, nos Estados Unidos e no Brasil – só para citar dois países que sempre buscaram formas de disfarçar ou esconder desde um achaque até uma doença grave. Se mantiveram assim, até que chegou uma época em que isso se tornou impossível de sustentar.

Aqui no Brasil, o último desses casos se deu com o presidente eleito pelo Colégio Eleitoral, Tancredo Neves. Na véspera de sua posse, no dia 15 de março de 1985, Tancredo foi internado e, durante mais de um mês, circularam especulações de todo tipo sobre seu estado de saúde. Ele morreu no dia 21 de abril, deixando o cargo para o vice José Sarney. Desde então, boletins médicos se tornaram rotineiros e, pelo que se sabe, fazem relatos verídicos sobre a saúde dos doentes importantes.
A cirurgia de Bolsonaro (sétima desde que foi atingido por uma facada em um atentado, em 2018, durante um ato de campanha em Juiz de Fora, Minas Gerais), entretanto, atingirá a atividade à qual ele tem dedicado dias e noites: a aprovação da anistia aos condenados pelos ataques golpistas de 8 de janeiro. Com previsão de ficar até quatro semanas no hospital, o ex-presidente dificilmente poderá negociar os termos que estão sendo costurados pelo Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF).
Ontem mesmo, segunda-feira 14, o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, protocolou o requerimento de urgência do projeto que prevê a anistia. A lista tem 262, mais do que as 257 necessárias. PSD, União Brasil, PP, Republicanos e MDB têm representantes no documento. Só que nada vai ser decidido por agora. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), avisou que só tratará do assunto depois do feriado. A Câmara já está de folga e só volta a trabalhar depois do dia 21.
Tempo mais que suficiente para o ministro Alexandre de Moraes manter os encontros – cada vez mais amigáveis – com membros do Congresso para se chegar a um bom termo no projeto que busque um consenso na dosagem das penas. Entre as propostas, de acordo com quem tem acompanhado o assunto, se reduzem e amenizam algumas penas, mas se prevê que o grupo dos sete denunciados, sete oficiais-generais e ex-comandantes, sinta a mão pesada do STF.

Opinião por Monica Gugliano
É repórter de Política do Estadão. Escreve às terças-feiras
Por Estadão