Pausa em tarifa afasta temor de recessão, mas guerra comercial dos EUA com a China ainda preocupa – Blog Folha do Comercio
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Pausa em tarifa afasta temor de recessão, mas guerra comercial dos EUA com a China ainda preocupa

de admin

Investidores globais viam a escalada da guerra comercial como ameaça ao crescimento econômico, e o mercado de títulos do Tesouro dos EUA soou alarme para o governo Trump

A pausa de 90 dias nas tarifas recíprocas impostas pelos Estados Unidos, e programadas para entrar em vigor nesta quarta-feira, 9, trouxe alívio às Bolsas americanas e afastou o temor de recessão nas quadras de Wall Street. Por outro lado, a escalada da tensão comercial com a China, que ficou de fora da trégua, preocupa investidores globais e faz com que a maior potência global ainda esteja em uma “zona de perigo”.

Depois de pressões de todos os lados, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou uma pausa de 90 dias nas tarifas recíprocas aos países que não retaliaram as medidas do republicano — ou seja, exceto China e Canadá. Nesse período, será mantido um nível mínimo de 10%. Para a China, Trump anunciou um novo aumento de tarifa, de 104% para 125%, na esteira da última reação do governo de Xi Jinping aos ataques tarifários do americano.

As novas medidas desencadearam um movimento de apetite por ativos de risco, com as Bolsas americanas fechando o pregão com fortes ganhos, após uma sequência de perdas recentes. O Nasdaq teve a maior alta diária desde janeiro de 2001.

Em Wall Street, a trégua de Washington reduziu os temores de que os EUA entrariam em recessão. Desde o anúncio das tarifas recíprocas, em 2 de abril, o “Dia da Libertação”, o ambiente de incertezas fez com que investidores globais temessem que a escalada da guerra comercial colocasse em xeque o crescimento econômico no país e no mundo.

Negociação entre o presidente americano, Donald Trump, e o chinês, Xi Jinping (na foto, em Mar-a-Lago, na Flórida, em abril de 2017), concentrará as atenções dos mercados nos próximos dias
Negociação entre o presidente americano, Donald Trump, e o chinês, Xi Jinping (na foto, em Mar-a-Lago, na Flórida, em abril de 2017), concentrará as atenções dos mercados nos próximos dias Foto: Jim Watson/AFP

O Goldman Sachs puxou a fila e não vê mais os EUA em recessão como o seu cenário-base. Anteriormente, o gigante de Wall Street havia feito o movimento inverso, temendo o pior para a maior economia do mundo. “Agora, estamos retornando à nossa previsão anterior de linha de base sem recessão (nos EUA)”, diz o time de economistas do Goldman Sachs, liderado por Jan Hatzius. A probabilidade de os EUA enfrentarem uma recessão nos próximos 12 meses é de 45%, conforme o banco.

Para o Santander, a pausa nas tarifas atenua o impacto da taxação de Trump para empresas e consumidores americanos de “calamitoso” para ‘apenas dramático’. O banco não vê os EUA “fora de perigo”, mas o anúncio desta quarta-feira valida uma perspectiva “relativamente favorável” em comparação com os piores cenários que vinham sendo desenhados em Wall Street e com potencial para afastar a maior economia do mundo do risco de recessão.

“Tarifas de 10% sobre todos os produtos importados e de 125% sobre as exportações chinesas para os EUA ainda representam um forte aumento na alíquota nos EUA”, diz o economista-chefe do banco para os EUA, Stephen Stanley. “Portanto, o impacto para empresas e consumidores passou de calamitoso para ‘apenas’ dramático”, acrescenta.

Para o economista, a principal questão é se a medida anunciada nesta quarta-feira será suficiente para dar às empresas certeza suficiente para retomar seus investimentos e contratações, pausados em meio às incertezas tarifárias. “Se isso acontecer, a tão alardeada recessão já acabou”, avalia o economista do Santander.

E a China?

A incógnita ainda continua sendo a China, que ficou de fora da trégua de Washington. O megainvestidor Bill Ackman aconselhou o governo de Xi Jinping a negociar com Trump para evitar um resultado pior para o país asiático. “Pegue o telefone e ligue para o presidente. Ele é um negociador duro, mas justo. Quanto mais a China resistir e retaliar, pior será o resultado para o país”, escreveu Ackman, em seu perfil no ‘X’, alegando que o tempo está correndo contra a China: “Tique-taque”, reforçou.

Ackman, da gestora Pershing Square, foi uma das vozes de Wall Street que criticou a forma como as tarifas foram calculadas e pediu, no domingo passado, que Trump fizesse uma pausa de 90 dias nas novas alíquotas. Ele também vê a trégua na guerra comercial como o “cenário perfeito para negociações”.

Para a Wedbush, especializada em tecnologia e com escritórios em Los Angeles e Nova York, a China é o “fator curinga”. “Danos reais já foram causados à economia, mas a China continua sendo o principal obstáculo a ser resolvido, e isso afetará significativamente a indústria de tecnologia e os consumidores americanos no dia a dia”, diz o chefe global de análise em tecnologia da Wedbush, Daniel Ives.

O alerta decisivo do mercado do Tesouro

Enquanto todos se perguntavam quem teria o poder de convencer Trump a recuar no tarifaço, a resposta veio do mercado de títulos do Tesouro americano, de acordo com o presidente da Queen’s College e conselheiro econômico-chefe da Allianz, Mohamed El-Erian.

Os Treasuries estavam sob pressão desde o anúncio das tarifas, no dia 2 de abril, e economistas vinham alertando para a deterioração da liquidez no mercado de títulos, cujos rendimentos fecharam em alta hoje, após a trégua de Trump.

“Foi o mercado de títulos do governo, particularmente, o quão perto ele chega da linha que separa a volatilidade selvagem dos preços do mau funcionamento do mercado”, escreveu El-Erian, em seu perfil no ‘X’.

Apesar disso, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, disse que a mudança sobre as tarifas ocorreu após o contato de países para negociarem e não foi uma resposta à reação do mercado financeiro.

“Tivemos mais de 75 países entrando em contato para negociar”, disse ele, em coletiva de imprensa, mais cedo. Trump, que vinha diminuindo a turbulência em Wall Street, comemorou: “Os bons resultados de hoje no mercado de ações poderiam continuar”.

Por Estadão


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