Nos EUA, S&P 500 fechou em valorização de 9,51%, melhor dia desde 2008, após Trump brecar taxas sobre grande parte dos países

O dólar despencou 2,52% nesta quarta-feira (9) e encerrou o dia cotado a R$ 5,844, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pausar parte da aplicação do tarifaço em 90 dias.
O anúncio reverteu a disparada da moeda norte-americana, que, até o meio da tarde, estava acima da marca psicológica de R$ 6. Na máxima do dia, chegou a atingir R$ 6,096.
O fôlego injetado nos mercados também reverteu o clima na Bolsa brasileira, que estava nas mínimas de 122.887 pontos e passou a disparar com a notícia. Fechou em valorização de 3,11%, a 127.795 pontos.
Nos Estados Unidos, os principais índices acionários saltaram. O S&P 500 fechou em valorização de 9,51%, o melhor dia de negociação desde 2008. Já o Nasdaq Composite avançou 12,16% e o Dow Jones, 7,87%.
A suspensão será sobre as tarifas recíprocas antes anunciadas para países específicos, que agora serão taxados em 10% durante os três meses de pausa. A medida não se estende para a China, que, em retaliação a esta manhã, terá encargos de 125%.
O anúncio foi feito na rede Truth Social. Trump chegou a dizer que a decisão é com base na “falta de respeito que a China tem demonstrado aos mercados mundiais” e que, “esperançosamente”, Pequim irá perceber “que os dias de exploração dos EUA e de outros países não são mais sustentáveis ou aceitáveis”.
Antes disso, o presidente havia escrito na rede social que “era uma ótima hora para comprar” ações.
“O governo Trump tem como característica essa postura de bater forte em cima de suas políticas para depois sentar à mesa e negociar com os envolvidos. Hoje é mais um exemplo disso”, diz Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.
“Esse recuo deu força às moedas emergentes, sobretudo o real, que vinha se desvalorizando muito e estava entre as três divisas que mais perderam valor com a política protecionista de Trump. A pausa nas tarifas resulta nessa correção mais forte em relação às demais moedas. Não reverte toda a desvalorização, mas pelo menos uma boa parte.”
Até o anúncio, o dólar era negociado acima da linha psicológica de R$ 6, com investidores reagiando à escalada da guerra comercial entre China e Estados Unidos.
Pequim anunciou taxas retaliatórias de 84% a produtos norte-americanos e impôs restrições a 18 empresas norte-americanas, somadas a outras 60 que já foram punidas por causa do tarifaço de Trump.
“A escalada de tarifas dos EUA sobre a China é um erro em cima de um erro, que infringe seriamente os direitos e interesses legítimos da China e prejudica seriamente o sistema de comércio multilateral baseado em regras”, disse o Ministério das Finanças da China em um comunicado.
Pequim já havia expressado preocupação sobre a escalada antes do anúncio, em comunicado enviado mais cedo à OMC (Organização Mundial do Comércio). “A situação se agravou perigosamente. Como um dos membros afetados, a China expressa séria preocupação e firme oposição a esse movimento imprudente”, disse à entidade.
O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, classificou a reação do país asiático como lamentável.
“Acho lamentável que os chineses realmente não queiram vir e negociar, porque eles são os piores infratores no sistema de comércio internacional”, disse em entrevista ao canal Fox Business Network.
Bessent ainda disse que os países que se alinharem com a China com o objetivo de tentar contrabalançar os efeitos das tarifas americanas estarão “cavando a própria cova”.
“Isso seria como cavar a própria cova”, disse Bessent sobre os países europeus que consideram estreitar laços com Pequim. “Eles não fazem nada além de produzir e produzir, fazem dumping e dumping”, completou.
As duas maiores economias do mundo têm estado em cabo de guerra desde quarta-feira passada, quando o tarifaço foi anunciado. A China foi atingida inicialmente com uma sobretaxa de 34%, além do piso básico de 10% sobre todos os produtos importados pelos Estados Unidos e das demais barreiras comerciais erguidas por Trump nos últimos três meses.
Os chineses anunciaram tarifas retaliatórias na mesma magnitude, ainda na semana passada. Trump, na sequência, subiu a régua para 50% caso a retaliação não fosse suspensa, levando o montante total a 104%. Pequim não recuou, e as taxas dos EUA entraram em vigor nesta madrugada.
A escalada entre chineses e norte-americanos respinga no Brasil dada a exposição do país a commodities, cujo maior mercado consumidor é a China. Com a visão de uma economia prejudicada pela escalada tarifária, a expectativa é que Pequim consuma menos matérias-primas, especialmente petróleo e minério de ferro, dois grandes componentes da balança comercial brasileira.
A postura combativa dos chineses, conhecidos por seu pragmatismo, vem de uma aposta de que eles têm mais fôlego político e econômico do que Washington para aguentar uma guerra comercial prolongada. A visão é de Yi Shin Tang, professor de relações internacionais da Universidade de São Paulo especializado em comércio internacional e direito internacional econômico, em entrevista à Folha.
“Geralmente, em guerras comerciais, a discussão é quem tem o bolso mais fundo para aguentar. Todo mundo fala ‘Estados Unidos’, só que tem que ser analisado quem tem, digamos, maior fôlego político, para aguentar um longo período de recessão, caso isso se intensifique”, diz.
Os temores de uma recessão têm pautado os mercados globais. É esperado que o comércio internacional sofra um baque com as tarifas, o que pode afetar o crescimento econômico dos países mais afetados. Segundo análises do banco JPMorgan, o tarifaço elevou os riscos de uma recessão global e dos Estados Unidos de 40% para 60% em apenas uma semana.
No caso dos norte-americanos, o choque tarifário também afeta a cadeia produtiva doméstica, o que pode aumentar a inflação enquanto a economia desacelera. Esse cenário leva o nome de “estagflação”, isto é, quando os preços sobem e a atividade fica estagnada.
Por Mais Goiás