Em sua primeira entrevista à TV, rapper fala sobre família, carreira e como enxerga sua relação com o crime e a sociedade

O rapper Oruam, um dos principais nomes do trap nacional, concedeu sua primeira entrevista à TV no programa Domingo Espetacular, da Record. Em conversa com Roberto Cabrini, o cantor falou sobre sua trajetória, sua visão sobre a realidade das favelas e sua relação com o pai, o traficante Marcinho VP, apontado como líder do Comando Vermelho.
Durante a entrevista, Oruam negou que seu pai ocupe tal posição e defendeu sua conduta familiar. “Dizem que ele é o líder [do tráfico], mas na verdade ele nem é”, afirmou. Ele ainda argumentou que Marcinho VP foi preso muito jovem e, por isso, não deveria ser visto como o “monstro” que dizem.
O rapper reforçou que sempre recebeu orientações para seguir um caminho longe da criminalidade. “Meu pai me ensinou o caminho certo. Sabia que tinha que trabalhar, estudar, seguir o caminho certo”, declarou. Para ele, Marcinho VP foi um exemplo de pai, que tentou afastá-lo da favela e garantir uma vida diferente para a família. “Não escolhi o pai que eu tenho. Se eu fosse escolher o pai que tenho, escolheria meu pai”, completou.
Música, realidade e polêmicas
Com hits como 22 Meu Vulgo e Lei Anti O.R.U.A.M., Oruam se consolidou como um dos nomes mais influentes do rap nacional, abordando em suas letras temas como desigualdade social e violência urbana. Ele afirmou que todo o seu sucesso veio do próprio esforço: “Foi tudo com minha música. Eu não tinha nada antes.”
O cantor também reconheceu que já se sentiu atraído pelo crime, algo que, segundo ele, é uma realidade para muitos jovens no Rio de Janeiro. “Qualquer jovem no Rio já olhou pro crime. O crime deslumbra”, disse. No entanto, ele se vê como um símbolo de esperança para quem busca vencer as dificuldades impostas pela falta de oportunidades.
Sobre a polêmica “Lei Anti-Oruam”, que visa impedir o poder público de contratar artistas que façam apologia ao crime, o rapper rejeitou as acusações e afirmou que apenas canta sua realidade. Ele também descartou qualquer diálogo com a vereadora Amanda Vettorazzo, que propôs o projeto. “Nem quero. Não tem como ela entender minha realidade, ela não vem de onde eu vim”, disse.
Responsabilidade e futuro
Oruam também reconheceu que precisa amadurecer e encarar a vida com mais seriedade. “Tenho que parar de ser só moleque mesmo e levar a vida a sério”, admitiu. Para ele, a maior responsabilidade hoje é com seus fãs, que o veem como um exemplo de superação.
Ciente do peso de seu sobrenome, o rapper disse que seguirá carregando a associação com seu pai, independentemente de seus feitos na música. “É o fardo que vou carregar para o resto da minha vida”, concluiu.
Por Estadão