O que Rússia, EUA, Europa e Ucrânia querem para pôr fim à guerra; entenda – Blog Folha do Comercio
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O que Rússia, EUA, Europa e Ucrânia querem para pôr fim à guerra; entenda

de admin

Cada parte tem diferentes demandas, algumas excludentes entre si, tornando difícil um avanço real nas negociações de paz

O presidente dos Estados UnidosDonald Trump, está determinado a ser o elo condutor de um acordo de paz na Ucrânia. O teor, no entanto, preocupa aliados americanos e Kiev, por possivelmente fazer concessões importantes à Rússia, o lado agressor do conflito. Todos os envolvidos têm demandas rejeitadas uns pelos outros, tornando difícil a construção de um consenso claro.

Nesta quinta-feira, 27, a Rússia disse que não aceita abrir mão das áreas anexadas do leste da Ucrânia em um futuro acordo. Nesta semana, também rejeitou tropas europeias na região como força de paz. Os ucranianos querem garantias de segurança e a entrada na Otan. Enquanto EUA querem uma compensação pela ajuda militar enviada nesses três anos. Os europeus assistem a essas discussões preocupados com o futuro do continente.

Veja quais são as demandas de cada parte envolvida no conflito e quais são os entraves nas negociações.

A líder da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, e o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, durante o aniversário de 3 anos da guerra na Ucrânia
A líder da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, e o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, durante o aniversário de 3 anos da guerra na Ucrânia Foto: Presidência da Ucrânia via AP

Ucrânia: garantias de segurança

Para Kiev, é impensável assinar um acordo de paz com a Rússia sem garantias claras de segurança. O maior temor dos ucranianos é concordar neste momento com concessões aos russos e mais tarde Moscou voltar a agredir ou invadir o país com o objetivo de tomar novas territórios. A desconfiança se baseia no que ocorreu em 2014, quando a Rússia anexou ilegalmente a Crimeia. Não houve respostas contundentes ao ato e, oito anos depois, Putin promoveu a invasão em larga escala.

Nesta quarta-feira, 26, Trump afirmou que cabe aos europeus fornecer garantias de segurança à Ucrânia, e não aos Estados Unidos. “Não vou oferecer garantias de segurança que vão além do estritamente necessário”, disse Trump em uma reunião de gabinete. “Vamos deixar que a Europa faça isso porque (…) a Europa é vizinha deles, mas vamos garantir que tudo saia bem”.

Uma das formas de garantias de segurança para a Ucrânia seria a sua adesão à Otan, argumenta o presidente Volodmir Zelenski. Em um cenário em que Kiev se torne membro da Aliança do Tratado do Atlântico Norte, pelo artigo 5, se a Rússia voltasse a atacar a Ucrânia no futuro, todos os demais membros teriam de vir em socorro, inclusive com o envolvimento de exércitos.

No último domingo, Zelenski disse que estava disposto a renunciar ao cargo se isso significar paz na Ucrânia e que poderia trocar sua saída pela entrada da Ucrânia na Otan. “Se isso trouxer paz à Ucrânia e se precisarem que eu renuncie, estou pronto”, disse em uma coletiva de imprensa. “Em segundo lugar, posso trocar isso pela Otan”.

A entrada, contudo, está fora de cogitação para Trump. Mesmo para a Europa, a adesão ucraniana é vista com preocupação. “Acho que foi provavelmente por isso que tudo começou”, disse Trump quando foi questionado sobre o tema. Ele se refere ao argumento inicial de Putin para invadir a Ucrânia.

Há três anos, Putin disse que a Europa estava se aproximando de suas fronteiras ao manter conversas sobre a adesão da Ucrânia à Otan e a possível entrada do país na União Europeia. As conversas, porém, eram iniciais e muito dificilmente levariam a uma entrada de fato.

Estados Unidos: compensação

Para o governo americano, a Ucrânia deveria recompensar os Estados Unidos pelos três anos de ajuda militar no conflito. Para isso, Trump está exigindo que a Ucrânia lhe dê acesso às suas terras raras e minerais críticos.

A Ucrânia concentra cerca de 5% dos recursos minerais do mundo, mas nem todos são explorados ou facilmente exploráveis. Minerais críticos e de terras raras são usadas para a construção de ímãs e semicondutores utilizados em carros elétricos, equipamento de defesa e na geração de energia para sustentar servidores de inteligência artificial.

A proposta americana prevê a exploração conjunta dos recursos minerais da Ucrânia pelos americanos e ucranianos e que seu lucros sejam aplicados em um fundo comum aos dois países. Os valores, porém, são desconhecidos. Fontes ucranianas disseram que a proposta inicial de Washington equivalia a “US$ 500 bilhões de dólares (R$ 2,88 trilhões)”, quatro vezes o valor da ajuda de Washington até agora, de US$ 120 bilhões de dólares (R$ 693 bilhões), segundo dados do Instituto Kiel para a Economia Mundial (IfW Kiel).

O presidente ucraniano rejeitou essa proposta inicial, recusando-se a assinar um documento que pesaria sobre “dez gerações de ucranianos”. A rejeição de Zelenski fez com que Trump o chamasse de ditador e acusasse a Ucrânia de ter iniciado a guerra.

Nesta sexta-feira 28, Zelenski deve viajar a Washington para a assinatura de um acordo em outros termos, ainda desconhecidos do público. Segundo uma fonte ucraniana informada sobre o conteúdo do acordo e contatada pela AFP na noite de terça-feira, a reivindicação financeira dos EUA não está mais no texto.

Além disso, de acordo com fontes ucranianas, o rascunho do acordo inclui uma referência à “segurança” da Ucrânia, conforme exigido por Kiev, mas não dá detalhes específicos sobre o papel dos EUA.

Donald Trump e Vladimir Putin, em encontro em 2018
Donald Trump e Vladimir Putin, em encontro em 2018 Foto: Alexander Zemlianichenko/AP

Rússia: territórios, sem tropas europeias e fora da Otan

Moscou, por sua vez, tem diferentes exigências, algumas delas antigas. A primeira é a não entrada da Ucrânia na Otan. Segundo Vladimir Putin, quando a aliança foi criada, os EUA prometeram a Moscou nunca avançar para próximo de suas fronteiras. A promessa, contudo, nunca foi oficializada por escrito. A Ucrânia se tornou candidata à aliança em 2018, mas nunca houve avanços, pois os próprios países europeus se opuseram.

Além de barrar a entrada ucraniana em um aliança militar com a Europa, Putin não quer ver tropas europeias no território. Nem mesmo as de manutenção da paz, como sugeriu o primeiro-ministro britânico Keir Starmer. A oposição russa fez os EUA sugerirem então o envio de tropas do Brasil e da China para uma “zona tampão” entre Ucrânia e Rússia, segundo revelou a revista The Economist.

Mais controvertida para a Ucrânia é a exigência de Putin de manter os territórios atualmente sob ocupação da Rússia. As tropas russas ocupam cerca de 20% do território ucraniano. Mais especificamente, a península da Crimeia – desde 2014 -, Luhansk e Donestsk e partes de Kherson e Zaporizhzhia – onde está a maior usina nuclear da Europa.

Em 12 de fevereiro, o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, disse que a Ucrânia deveria abandonar as esperanças de recuperar todo o seu território atualmente ocupado pela Rússia, dando os primeiros sinais que os EUA estavam abertos a esta concessão a Putin.

Europa: segurança e EUA

Os europeus olham para as conversas entre Trump e Putin com desconfiança, já que seriam os principais afetados por um acordo benevolente a Moscou. O continente deseja um acordo de paz duradouro na região, mas que proteja a soberania territorial da Ucrânia e com garantias de segurança. Para isso, os EUA teriam de participar tanto da manutenção da paz quanto nas garantias, dizem.

França e Reino Unido sugeriram enviar suas tropas para a manutenção da paz em aéreas de conflito quente. Na segunda-feira, o presidente francês Emmanuel Macron viajou para os EUA, onde prometeu negociações para uma paz duradoura e disse esperar um envolvimento forte dos Estados Unidos para alcançá-la. Nesta quinta será a vez do premiê britânico, Keir Starmer, se reunir com o republicano e fazer as mesmas exigências.

Atendendo a uma exigência de Trump e também para sua própria proteção conforme os EUA viram as costas ao multilateralismo, os europeus estão buscando aumentar os seus gastos militares para além dos 2% exigidos pela Otan, com países falando em 3%.

A líder da União Europeia, Ursula Von der Leyen, já cogitou ativar o protocolo de emergência do bloco, criado na época da pandemia, que permitiria realocar gastos de outras áreas para defesa./AP, AFP, NYT e W.POST

Por Estadão

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