Erros na economia, apatia política e desconexão com a vida real do brasileiro são os fatores que consolidaram o pior momento do petista em seus três mandatos
A popularidade do governo Lula derrete em todo o País e a reprovação da gestão petista já passa de 60% em pelo menos seis Estados, de acordo com pesquisa Quaest divulgada esta semana. E, por mais que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus asseclas tentem apontar culpados ou eventos isolados, fato é que o chefe do Executivo estabeleceu um “tripé de rejeição”, ao longo dos últimos dois anos, até amargar esse resultado.
Os três fatores que empurram o governo ladeira abaixo são apontados por integrantes da própria base aliada a Lula: erros na economia, apatia política e desconexão com a vida real do brasileiro. A Coluna do Estadão ouviu líderes governistas, ministros e ex-ministros, magistrados e presidentes de partidos políticos.
Os termos compilam uma série de decisões e declarações de Lula que tiveram impacto negativo evidenciado pelas pesquisas.
1. Erros na economia – O presidente Lula desautorizou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, várias vezes em relação ao ajuste fiscal. Ainda em 2023, disse que a discussão sobre déficit fiscal zero era “inócua”. Não perdeu oportunidade de falar que o governo queria gastar mais. Obrigou a equipe econômica a idas e vindas em temas como taxa das blusinhas, reoneração da folha de pagamento, atualização da faixa de isenção do Imposto de Renda e portaria do Pix.
O resultado disso: ambiente de insegurança para investidores, alta de dólar e de juros, aumento de inflação.
Constatação: Para a maioria dos eleitores de 8 Estados brasileiros a economia piorou em 2024 e para mais de 90% o preço dos alimentos aumentou no último mês, aponta a pesquisa Quaest divulgada no dia 26 de fevereiro.
2. Apatia política – Duas frases são repetidas à exaustão entre os antigos aliados do presidente. “Lula não é mais o mesmo” e “Lula perdeu a paciência para fazer política”. A queixa é de que o presidente não conversa mais com sua base, não recebe deputados e senadores, não tem diálogo com governadores e prefeitos.
O resultado disso: políticos aliados começam a se distanciar e não fazem esforço nos estados para melhorar a avaliação de Lula.
Constatação: De acordo com a pesquisa Quaest desta semana, a maioria dos eleitores avalia que Lula dá pouca ou nenhuma atenção ao seu Estado.
3. Desconexão com a vida real do brasileiro – Com o lema “O Brasil voltou”, Lula passou grande parte do primeiro ano do governo em viagens pelo exterior. Em seis meses, visitou 12 países em sete viagens diferentes e ficou 31 dias fora do Brasil. Em 2024, Lula parecia mais preocupado com temas externos, causando polêmica. Chegou comparar a ação de Israel na Faixa de Gaza com o holocausto e fez mais gestos de aproximação com o ditador da Venezuela, Nicolas Maduro. Os temas internos e do dia a dia da vida do brasileiro ficaram escanteados.
O resultado disso: Lula falou apenas para o gueto da extrema esquerda; não conseguiu se conectar com a maior parte da população brasileira – claramente de centro e centro-direita – e a insatisfação do eleitorado com temas da vida real aumentou.
Constatação: Levantamento da Paraná Pesquisa mostrou que metade dos brasileiros desaprova viagens internacionais de Lula, em 2023. Em março de 2024, a aprovação do trabalho de Lula caiu após as falas sobre Israel e Venezuela, segundo pesquisa Atlas Intel. E a pesquisa Quaest desta semana mostra que a preocupação na vida real é com Segurança Pública e Saúde.
Cenário negativo a Lula tem um agravante chamado Janja
Alguns críticos mais ácidos dentro da própria base aliada dizem que há um agravante em todo esse cenário, que tem nome e sobrenome: Rosângela da Silva, Janja. Para ajudar num abraço de afogados, a primeira-dama se mete em tudo, é impopular e ajuda a contaminar a imagem do petista. Janja tem ampla penetração nas redes sociais – o que termina por engajar os haters – enquanto o presidente Lula ainda ensaia os primeiros passos para o TikTok.
Os gastos de Janja com viagens, mostrados pelo Estadão, e o sigilo imposto a atividades da primeira-dama são alvo de questionamentos e críticas da população. Também não são poucas as vezes que ela viralizou por gafes. Na mais recente, vazou imagens de alegoria da escola de samba Portela.
Entretanto, incluir Janja entre os fatores do derretimento do governo, que vive seu momento de maior rejeição de seus três mandatos à frente do Executivo, seria tirar de Lula a responsabilidade por suas decisões. Afinal, são dele o mandato e a caneta. Como ele mesmo mesmo ressaltou no último dia 20 de fevereiro que é o responsável pelas decisões.
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Desaprovação de Lula passa de 60% em pelo menos seis Estados
A desaprovação do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cresceu acima dos dois dígitos desde dezembro em Pernambuco e Bahia, Estados que historicamente são base eleitoral do petista. Segundo pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira, 26, a taxa de reprovação do presidente ultrapassa 60% nos outros seis Estados onde foram realizadas entrevistas: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás.
Reprovação do governo Lula atinge pior marca desde janeiro de 2023
A reprovação ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atingiu a pior marca desde janeiro de 2023, segundo pesquisa de avaliação de governo CNT. Para 32% dos entrevistados, o governo do petista é “péssimo”, enquanto 12% avaliam a gestão federal como “ruim”. A soma das avaliações “péssimo” e “ruim” é de 44%, tendo crescido 13 pontos porcentuais desde a rodada anterior do levantamento, em novembro de 2024.
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Análise por Roseann Kennedy
Roseann Kennedy é jornalista pós-graduada em Ciência Política e Economia. Há mais de 20 anos em Brasília, cobre as relações entre os poderes e os bastidores da política. Foi colunista política na CBN e Globo News, editora-chefe e âncora no SBT e SBT News. Pernambucana, torcedora do Náutico, mas também apaixonada pelo Palmeiras.
Por Estadão