Médica recomendou fazer bloqueio anestésico em casa usando cloridrato de ropivacaína, anestésico de uso restrito a hospitais
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A engenheira de produção Letícia de Souza Patrus Pena, de 31 anos, está em estado de semiconsciência desde setembro de 2024, após receber uma aplicação caseira de anestésico administrada por sua amiga de infância, que é médica anestesista. O incidente, ocorrido em 20 de setembro de 2024, está sob investigação do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG) e do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).
Letícia, que havia passado por uma cirurgia de hérnia para aliviar dores na coluna, voltou a sentir desconforto e buscou a ajuda da amiga. A médica sugeriu realizar um bloqueio anestésico em casa, utilizando cloridrato de ropivacaína, um anestésico de uso restrito a ambientes hospitalares. A primeira aplicação, em agosto de 2024, não apresentou complicações. No entanto, a segunda, em setembro, resultou em uma parada cardiorrespiratória que deixou Letícia com graves danos neurológicos.
De acordo com Flávia Bicalho de Souza, mãe de Letícia, a aplicação foi feita sem os cuidados necessários, como jejum prévio, e em um ambiente residencial, sem a estrutura adequada para monitoramento e ressuscitação. Após o procedimento, Letícia teve convulsões, vomitou e entrou em parada cardiorrespiratória. A família acusa a médica de não acionar imediatamente o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), optando por transportar a paciente em um carro particular até o hospital. Letícia chegou ao Hospital Mater Dei Contorno com lesões cerebrais severas devido à falta de oxigenação.
Desde o incidente, Letícia permanece hospitalizada, sem conseguir se comunicar ou mover-se, e enfrenta crises severas de ansiedade. A família já gastou aproximadamente R$ 500 mil em tratamentos, incluindo transferências para o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, e a aquisição de equipamentos médicos especializados. Flávia lamenta a falta de apoio financeiro e moral da médica, que, segundo ela, distanciou-se após o ocorrido.
O CRM-MG informou que o caso está sendo tratado com sigilo, conforme o Código de Processo Ético-Profissional. Já o MPMG analisa uma queixa-crime protocolada pela família, que acusa a médica de tentativa de homicídio com dolo eventual, alegando que a médica assumiu riscos conhecidos ao realizar o procedimento fora de um ambiente hospitalar. A família também solicitou a cassação do registro profissional da investigada no Conselho Regional de Medicina.
Por Mais Goiás