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Opinião | Denúncia contra Bolsonaro é ruim para Lula. Entenda o porquê

de admin

Eventual prisão do ex-presidente apressará a saída do campo político de um jogador bichado, enquanto outro pode se apresentar para concorrer ao Planalto num período de baixa popularidade do presidente

Se a oposição for sagaz, a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) que deve, após o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF), levar o ex-presidente Bolsonaro para cadeia por um longo período, por tentativa de golpe de Estado, pode ser uma notícia ruim para Lula e o petismo. Pela evidente razão de que apressará a saída do campo político de um jogador bichado (para usar o futebolês), enquanto outro pode se apresentar para concorrer ao Palácio do Planalto num período de baixa popularidade do presidente da República.

Jair Bolsonaro, ex-presidente da República
Jair Bolsonaro, ex-presidente da República Foto: Wilton Junior/Estadão

A oposição pragmática vivia um certo dilema. De um lado, precisava da força remanescente de Bolsonaro para conquistar milhões de votos. Por outro, precisava se livrar dele, de alguma maneira, já que são praticamente nulas as chances de sua candidatura vingar em 2026 após a cassação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com a denúncia da PGR e com a decisão evidente de uma turma do STF com ministros liderados pelo algoz Alexandre de Moraes, “seus problemas acabaram”.

Agora é encontrar uma maneira de ao mesmo tempo defender Bolsonaro, dizer que foi uma injustiça, etc., e torcer para o ex-presidente ficar quieto. É usar a tática do ex-governador de Minas Gerais, Tancredo Neves, de tirar as meias sem tirar os sapatos. Nesse sentido, o discurso de “anistia” para os delinquentes manipulados de 8/1 deve continuar.

É necessário, para a oposição, aproveitar que do lado petista reina a balbúrdia externada pela carta do advogado Antônio Carlos Kakay com o sinistro – para eles – prognóstico de que Lula, hoje isolado, pode perder as eleições. Soma-se a isso ao fato de que ministros e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann conspiram dia sim e dia também sim contra o titular da Fazenda, Fernando Haddad, em tese o mais bem colocado do grupo para substituir o atual presidente.

Para piorar as coisas, sempre quando Lula abre a boca é um festival de memes com os cortes de frases mal colocadas rapidamente distribuídos nos “grupos de Zap” das tias e mais uma crise para administrar. Os números da economia mostram que margens para retomar a popularidade são cada vez menores.

Talvez já tarimbado pelos movimentos usuais da política brasileira, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, faz o que os que sabem querer grandes cargos de relevância fazem: negar qualquer pretensão de ser presidente, muito pelo contrário, aliás. O comportamento de Bolsonaro, inclusive, pode ser decisivo nesse caminho da oposição para tentar retomar o poder. Mas pode ser que perca a força no processo, a conferir.

Enquanto isso, com certeza, tentará posar de mártir. Sabe que, por mais técnico que seja seu julgamento, parte expressiva da sociedade sempre achará que se trata de perseguição política – certas decisões equivocadas de Moraes durante o processo ajudarão nessa percepção. Tudo isso são variáveis da equação para 2026. Com as peças na mesa, agora é saber fazer os movimentos corretos.

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Opinião por Fabiano Lana

Fabiano Lana é formado em Comunicação Social pela UFMG e em Filosofia pela UnB, onde também tem mestrado na área. Foi repórter do Jornal do Brasil, entre outros veículos. Atua como consultor de comunicação. É autor do livro “Riobaldo agarra sua morte”, em que discute interseções entre jornalismo, política e ética.

Por Estadão


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