Prefeitura afirmou que seleção de profissionais é feita pela Polícia Militar
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), exonerou nesta quarta-feira, 30, o capitão da Polícia Militar Raphael Alves Mendonça, que atuou como assessor em seu gabinete e chegou a integrar a equipe responsável por sua escolta. Mendonça é suspeito de ter integrado um grupo de agentes de inteligência da Rota investigado por supostamente vazar informações de operações policiais para o Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele é investigado em liberdade.
Mendonça, que chefiou a Agência de Inteligência da Rota no passado, trabalhava na Assessoria Policial Militar da Prefeitura desde junho de 2024 e desempenhava funções administrativas. “[Ele] Eventualmente, fez a escolta do prefeito em substituição a outros policiais militares que se encontravam em fruição de afastamentos regulares. Importante destacar que a seleção e movimentação desses profissionais são de responsabilidade da Polícia Militar”, disse a Prefeitura, em nota.
A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que o envolvimento de integrantes da corporação com o crime organizado é “rigorosamente investigado pela Corregedoria” e já resultou na detenção de 17 policiais.
“A corporação reforça seu compromisso com a legalidade e enfatiza que nenhum desvio de conduta será tolerado. O capitão foi transferido para o 21º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M) no último dia 20, onde desempenha atividades administrativas”, disse a pasta, por meio de nota.
A exoneração de Mendonça foi publicada nesta quarta, mas tem efeito retroativo ao dia 16 de janeiro. A informação que ele e um outro policial suspeito de ligação com o PCC faziam a escolta de autoridades foi publicada pelo jornal Folha de S. Paulo.
Segundo investigação da Corregedoria da Polícia Militar, policiais se infiltraram na Rota e em outras unidades da PM a mando do PCC. Eles se dividiram em três bases: uma com a missão de assassinar desafetos da facção, outra de inteligência e outra para fazer escoltas.
Alguns militares eram responsáveis pelo ‘cancelamento de CPFs’ – assassinatos de rivais e desafetos. Outros abasteciam a facção com informações privilegiadas sobre operações policiais. O terceiro grupo cuidava da segurança pessoal de faccionados, entre eles o delator Antônio Vinícius Gritzbach, fuzilado na tarde de 8 de novembro do ano passado no Aeroporto Internacional de São Paulo.
As informações constam de um inquérito administrativo da PM que descobriu como policiais da Rota vazavam informações para o PCC a fim de proteger seus integrantes de prisões e de eventuais prejuízos a seus ‘negócios’.
Os grupos que se instalaram no quartel secular da Rota, uma notável construção de paredes amarelas da Avenida Tiradentes, na Luz, foram citados no pedido que a Corregedoria da PM enviou à Justiça de São Paulo para deflagração da operação que prendeu, na última quinta, 16, quinze policiais militares supostamente ligados ao PCC e envolvidos com a execução de Gritzbach. No sábado, 18, mais um militar, tenente da PM, foi preso em Osasco.
“Todos sabiam para quem prestavam atividade de segurança, foram escolhidos para tal serviço por serem militares e valiam-se disto para encobrir e dar benefícios ao empresário em troca de dinheiro e favores (viagens, por exemplo)”, frisou a Corregedoria ao pedir a prisão dos agentes.
Segundo a Corregedoria, foi possível identificar uma “divisão ordenada de tarefas com objetivos previamente ajustados em torno dos crimes almejados pela organização, no caso dos militares, dar segurança e auxiliar na prática da lavagem de capitais perpetrada por Gritzbach, crime punido com pena máxima superior a quatro anos”.
Por Estadão