Na avaliação de Paulo Rabello de Castro, Pochmann “perdeu a mão” nas disputas internas do órgão; procurados, o presidente do IBGE e a assessoria do órgão não responderam
Ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o economista Paulo Rabello de Castro avalia que o atual chefe do órgão Marcio Pochmann “perdeu a mão” nas disputas internas e, por isso, a solução mais simples para estancar a crise de imagem no órgão seria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afastá-lo do cargo. Na avaliação do profissional, embora a produção de estatísticas não seja afetada agora, poderá haver impacto no médio e no longo prazos caso o instituto continue perdendo credibilidade. Ele defende, ainda, que o IBGE tenha autonomia operacional, a exemplo do Banco Central (BC).
“O IBGE é um fotógrafo da sociedade brasileira. Se as pessoas não respeitam o fotógrafo, ficam se mexendo, não atendem às orientações. É como se o fotógrafo já não tivesse mais condições de fazer uma fotografia adequada”, declarou o economista à Coluna do Estadão, para ilustrar o problema de imagem do órgão. Para ele, o abalo na reputação do instituto pode fazer com que cada vez menos pessoas respondam de forma adequada aos levantamentos. Procurados, o presidente do IBGE e a assessoria do órgão não responderam.
“O IBGE vive ali, de pires na mão, no Ministério do Planejamento, e não tem o status adequado à importância da sua atividade”, emendou Rabello de Castro, ao sugerir a autonomia operacional do órgão com o objetivo de garantir estabilidade financeira. Já a forma mais rápida de superar a escassez de verbas agora, na visão dele, seria fazer um trabalho de articulação política junto a parlamentares para aumentar o orçamento do instituto, expediente mais efetivo do que criar uma entidade paralela para captação de recursos privados.
No centro da crise no IBGE entre Pochmann e parte da equipe do instituto, está a criação da IBGE+, uma fundação de direito privado que tem o objetivo de captar recursos. Na visão de Castro, que comandou o instituto no governo Michel Temer e também já presidiu o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), dificilmente uma entidade como essa conseguirá levantar muita verba porque são poucas as empresas no mercado interessadas em pagar pelas estatísticas do IBGE.
Em carta divulgada no último dia 15, a Confederação Nacional dos Servidores Públicos (CNSP) pediu “medidas legislativas” de parlamentares para interromper o surgimento do novo órgão, que vem sendo apelidado de “IBGE Paralelo”. No dia 15, o IBGE afirmou que a criação da entidade é “alvo de forte campanha de desinformação” e que a iniciativa foi debatida com órgãos federais e aprovada por unanimidade por todos os integrantes do Conselho Diretor.
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Rabello de Castro também afirmou que Pochmann deveria dialogar mais com o sindicato da categoria. “É uma administração de diálogo zero, regida pela soberba, pela empáfia”, criticou. Servidores têm questionado diversas medidas de Pochmann, e diretores têm pedido demissão. Nos últimos meses, os servidores do IBGE conduziram diferentes mobilizações contra o que chamam de “autoritarismo” da atual gestão. Eles resistem a alterações no estatuto do instituto, mudança de locais de trabalho de funcionários e extinção do trabalho totalmente remoto.
Ministério do Planejamento se pronuncia
Com a escalada da crise na gestão do IBGE, o Ministério do Planejamento se posicionou nesta segunda-feira, 27, em resposta a questionamento do Estadão/Broadcast. A pasta citou a autonomia administrativa do IBGE, mas disse que “acompanha os desdobramentos no órgão e mantém aberto um canal de diálogo com seus representantes”. O sindicato dos servidores programou nova manifestação contra medidas de Pochmann na quarta-feira, 29, às 10h, em frente à sede do instituto, na Avenida Franklin Roosevelt, na região central do Rio de Janeiro. Em outros Estados, estão previstos também atos, assembleias e panfletagens de protesto.
Por Estadão