Embate entre lideranças históricas tucanas reflete interesses eleitorais para 2026
A discussão sobre o futuro do PSDB tem sido marcada por uma queda de braço entre duas lideranças históricas do partido: o deputado federal Aécio Neves (MG) e o presidente nacional da sigla, Marconi Perillo (GO). Aécio defende a reaproximação com o MDB, enquanto Perillo aposta na fusão com o PSD. O embate velado entre os dois reflete seus interesses eleitorais para 2026.
Aécio cogita disputar o governo de Minas Gerais ou tentar retornar ao Senado. Em qualquer das opções, teria mais facilidade no MDB do que no PSD.
No partido de Gilberto Kassab, o atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, é apontado como favorito para disputar o governo mineiro, enquanto o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, deve concorrer ao Senado também por Minas. Assim, Aécio enfrentaria resistências internas para viabilizar sua candidatura.
Perillo também busca o comando de seu Estado, Goiás, mas enfrenta um obstáculo similar. No MDB, o atual vice-governador, Daniel Vilela, é considerado o candidato natural ao governo goiano, dificultando os planos do tucano.
Ex-governador de Goiás, Perillo assumiu a presidência do PSDB em 2023 com o apoio de Aécio Neves, que passou por uma reabilitação política e recuperou sua influência entre os tucanos. Em julho daquele ano, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo, confirmou a decisão que absolveu o deputado da acusação de recebimento de propina de R$ 2 milhões do empresário Joesley Batista, da J&F.
Aécio e Perillo evitam falar publicamente sobre suas pretensões eleitorais para 2026 e também desconversam sobre a disputa em curso pelo futuro da sigla. Aliados, porém, garantem que os planos eleitorais de ambos em suas respectivas bases já provocam tensões e terão forte impacto no debate interno do partido.
Presidente do PSDB prevê definição da sigla entre março e abril
Em entrevista ao Estadão, Perillo disse que o PSDB iniciará conversas internas a partir de fevereiro para definir futuras alianças. A expectativa é que a sigla decida com qual partido se alinhará entre março e abril.
“Nosso primeiro passo será esse trabalho de imersão. Em seguida, vamos dialogar com outros partidos. Seguimos o cronograma para ter uma definição em março. Recebemos propostas de todas as legendas que não estão alinhadas à polarização”, afirmou.
Questionado sobre uma possível preferência pelo PSD, Perillo negou qualquer predileção por partido, ressaltando que a decisão não cabe apenas a ele. “Não sou o dono do partido; essa será uma decisão coletiva, fruto do nosso debate interno”.
Ele destacou ainda que, embora o PSDB tenha intenção de disputar a Presidência da República em 2026, isso não será uma condição para a futura aliança. Também afirmou que o formato da coligação — federação, fusão ou incorporação — será decidido posteriormente, dependendo dos partidos envolvidos. “Essa definição dependerá dos parceiros com os quais nos alinharmos”, disse.
Ao ser perguntado sobre uma possível candidatura ao governo de Goiás no próximo ano, Perillo evitou dar uma resposta direta. “Não vou pôr o carro à frente dos bois. Meu projeto político, que é coletivo, será definido no momento oportuno”.
Já Aécio Neves disse, em nota enviada à reportagem, que o Brasil precisa da união das forças mais preocupadas com o futuro do Brasil do que com “cargos ou tempo de televisão”. O deputado afirmou defender que o PSDB esteja aberto a conversar com forças políticas que se disponham a construir um caminho alternativo aos “extremos”, “sem vetos ou alinhamentos automáticos”.
“A avenida do centro vem se ampliando. E o PSDB tem uma grande responsabilidade em ajudar a fortalecer esse campo. Trabalharei ao lado do presidente Marconi, dos nossos governadores e de inúmeras outras lideranças do partido para chegarmos a esse objetivo.”
Interlocutores de Aécio afirmam que o deputado tem articulado com o ex-presidente Michel Temer para selar uma aliança entre PSDB e MDB. Além disso, ele mantém diálogo com o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi.
Os tucanos também negociam com Podemos e Solidariedade. Apesar de menores, esses partidos ajudariam o PSDB a superar a cláusula de barreira. Há ainda a possibilidade de aliança com o Republicanos, o que poderia resultar em uma mudança no visual das siglas, algo que ambas consideram neste momento.
Secretário-geral do PSDB, o deputado federal Paulo Abi-Ackel (MG) afirma que a maioria do partido está convencida da necessidade de uma aliança para oferecer ao eleitor uma alternativa à polarização política no País.
Governadores na mira de partidos
Enquanto os dois tucanos disputam quem exerce maior liderança no partido, a discussão sobre o futuro do PSDB ganhou uma dose extra de urgência diante da possibilidade de desfiliação de seus três governadores: Raquel Lyra (Pernambuco), Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) e Eduardo Riedel (Mato Grosso do Sul).
Eduardo Leite reafirmou ao Estadão seu compromisso com o PSDB, partido ao qual é filiado desde 2001, quando tinha 16 anos. Ele destacou que, mesmo antes disso, já se considerava um tucano. Apesar dessa fidelidade, Leite defende o debate sobre um eventual alinhamento do PSDB com outra legenda, ainda que isso leve à incorporação ou fusão do partido para a criação de uma nova sigla.
O governador do Rio Grande do Sul esclareceu que as conversas com outras legendas estão em fase inicial e têm caráter exploratório. No entanto, admitiu avanços nas tratativas com MDB e PSD nos últimos meses, embora ainda sem definições concretas.
Leite defende que o PSDB busque uma aliança baseada em um projeto nacional de oposição tanto ao petismo quanto ao bolsonarismo. O governador, que tentou disputar a Presidência em 2022, afirmou que seu nome estará à disposição para as eleições de 2026.
Aliados do governador avaliam que ele mantém boa relação com MDB e PSD e já discutiu uma possível aliança com Gilberto Kassab e Baleia Rossi.
No Rio Grande do Sul, o PSDB estadual considera mais vantajosa uma parceria com o PSD. No cenário nacional, o partido de Kassab também é visto como a melhor opção por tucanos gaúchos. Há a percepção de que o MDB está mais próximo do governo Lula, o que poderia dificultar a construção de um projeto nacional próprio para os tucanos.
Raquel Lyra, por sua vez, defende a aliança com um partido de grande porte que não adote uma postura de forte oposição ao governo Lula.
Ela tentará a reeleição em 2026, provavelmente contra o prefeito de Recife, João Campos (PSB). Como Pernambuco depende de recursos federais, a governadora busca uma sigla que lhe ofereça condições para a disputa sem entrar em confronto direto com o governo federal.
Riedel cobra Aécio e Perillo por definição rápida
Entre novembro e dezembro do ano passado, Eduardo Riedel manteve conversas com dirigentes nacionais de quatro partidos — PP, PL, MDB e Podemos — sobre uma possível filiação. No entanto, segundo aliados, o governador descarta deixar o PSDB antes que a legenda defina seu futuro. Ainda assim, ele cobrou de Perillo e Aécio agilidade na decisão.
“Hoje não tem nada definido”, afirmou o governador ao Estadão. “Fui eleito no PSDB e sou do PSDB, um partido que tem uma força expressiva no Estado. Nacionalmente, existe uma dinâmica de discussão partidária que faz parte da reforma política, e o PSDB está nessa trajetória de discussão em relação a possibilidades existentes, conversando com legendas dentro do mesmo espectro político. Eu participo dessa discussão e vejo como saudável a redução do número de partidos no País”, completou ele.
Sob a gestão de Riedel, o Mato Grosso do Sul se firmou como um reduto do PSDB. Na última eleição, o partido conquistou a prefeitura de 44 dos 79 municípios do Estado. A expectativa é de que a maioria desses prefeitos acompanhe Riedel caso ele troque de legenda.
Aliados do governador apontam sua inclinação por uma fusão com o MDB ou o PSD. No caso do MDB, pesa o fato de Eduardo Rocha, chefe da Casa Civil de Riedel, ser filiado ao partido. Rocha é casado com a ministra do Planejamento do governo Lula, Simone Tebet, com quem o governador tem boa relação.
Interlocutores avaliam que o MDB seria uma escolha vantajosa, pois não tem lideranças expressivas no Estado, permitindo que Riedel exerça maior controle sobre o diretório estadual. O PSD apresenta condições semelhantes, mas o senador Nelsinho Trad tem um grupo político mais estruturado no partido, o que pode representar um obstáculo.
Apesar disso, Riedel tem boa relação com Gilberto Kassab e participou, no ano passado, da filiação de seu vice-governador, José Carlos Barbosa, ao PSD. O PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, é a última opção, devido à presença de lideranças influentes no Estado.
A cúpula do MDB avalia que a migração dos governadores para o PSD é o cenário mais provável, mesmo com a possibilidade de fusão entre os partidos. A leitura é que os governadores buscam controle sobre os diretórios estaduais, o que seria mais difícil no MDB, onde há lideranças tradicionais consolidadas. No PSD, a influência de Kassab é vista como um fator facilitador nas negociações locais.
Por Estadão