O que o presidente da Colômbia respondeu a Trump sobre deportados? Veja a íntegra do texto – Blog Folha do Comercio
Home Mundo O que o presidente da Colômbia respondeu a Trump sobre deportados? Veja a íntegra do texto

O que o presidente da Colômbia respondeu a Trump sobre deportados? Veja a íntegra do texto

de admin

Resposta que Petro publicou viralizou nas redes sociais

O presidente Donald Trump (EUA) anunciou no domingo, 26, a imposição de tarifas de importação a produtos colombianos após o presidente Gustavo Petro (Colômbiater se recusado a receber dois aviões com imigrantes deportados dos Estados Unidos. Na sexta, 24, um voo com imigrantes brasileiros chegou a Manaus com relatos de agressões e maus-tratos contra os deportados.

Trump anunciou de imediato a fixação de tarifas de importação de 25% sobre os produtos colombianos, além da suspensão de vistos para Petro, aliados políticos e parentes e sanções bancárias e financeiras contra o país. Após o anúncio das sanções, Petro se pronunciou em seu perfil no X, em publicação direcionada a Trump, inflando ainda mais a polêmica. Até às 10h desta segunda-feira, 27, a publicação tinha 31,8 milhões de visualizações e 73,9 mil compartilhamentos.

Presidente da Colômbia, Gustavo Petro, escreve resposta a sanções de Trump
Presidente da Colômbia, Gustavo Petro, escreve resposta a sanções de Trump Foto: Fernando Vergara/AP

No final do domingo, o governo da Colômbia recuou e concordou em aceitar seus cidadãos deportados dos Estados Unidos em voos militares, informou a Casa Branca. A Colômbia, parceira comercial de longa data dos EUA, “concordou com todos os termos do presidente Trump”, disse a secretária de imprensa Karoline Leavitt.

Abaixo, veja a resposta de Petro a Trump, antes da Colômbia concordar em receber dois aviões com imigrantes deportados dos Estados Unidos:

“Trump, eu não gosto muito de viajar para os EUA. É um pouco entediante, mas confesso que há coisas meritórias. Gosto de ir aos bairros negros de Washington. Lá, vi uma luta completa na capital dos EUA entre negros e latinos, com barricadas, o que me pareceu uma besteira, porque deveriam se unir.

Confesso que gosto de Walt Whitman, Paul Simon, Noam Chomsky e Miller.

Confesso que Sacco e Vanzetti, que têm meu sangue, são memoráveis na história dos EUA, e eu os sigo. Foram assassinados por liderarem os trabalhadores, na cadeira elétrica, pelos fascistas que existem tanto nos EUA quanto no meu país.

Não gosto do seu petróleo, Trump. Ele vai acabar com a espécie humana por causa da ganância. Talvez algum dia, junto a um gole de uísque que aceito, apesar da minha gastrite, possamos falar francamente sobre isso, mas é difícil, porque você me considera uma raça inferior, e eu não sou, assim como nenhum colombiano.

Então, se você conhece alguém teimoso, esse sou eu, ponto. Com sua força econômica e sua soberba, você pode tentar dar um golpe de Estado como fizeram com Allende. Mas eu morro na minha lei. Resisti à tortura e resisto a você. Não quero escravistas ao lado da Colômbia; já tivemos muitos e nos libertamos. O que quero ao lado da Colômbia são amantes da liberdade. Se você não pode me acompanhar, eu vou para outros lugares. A Colômbia é o coração do mundo, e você não entendeu. Esta é a terra das borboletas amarelas, da beleza de Remédios, mas também dos coronéis Aurelianos Buendía, dos quais sou um deles, talvez o último.

Você pode me matar, mas eu sobreviverei no meu povo, que existiu antes do seu, nas Américas. Somos povos dos ventos, das montanhas, do mar do Caribe e da liberdade.

Você não gosta da nossa liberdade, tudo bem. Eu não aperto a mão de escravistas brancos. Eu aperto a mão dos brancos libertários herdeiros de Lincoln e dos jovens camponeses negros e brancos dos EUA, diante de cujas tumbas chorei e rezei em um campo de batalha, ao qual cheguei depois de caminhar pelas montanhas da Toscana italiana e de sobreviver à Covid.

Eles são os EUA, e diante deles eu me ajoelho, diante de mais ninguém.

Derrube-me, presidente, e as Américas e a humanidade responderão.

A Colômbia, a partir de agora, deixa de olhar para o norte e olha para o mundo. Nosso sangue vem do sangue do Califado de Córdoba, a civilização de então; dos latinos romanos do Mediterrâneo, a civilização de então, que fundaram a república e a democracia em Atenas; nosso sangue contém os resistentes negros que vocês converteram em escravos. Na Colômbia está o primeiro território livre das Américas, antes de Washington, de toda a América. Ali me abrigo nos seus cantos africanos.

Minha terra é de ourivesaria existente na época dos faraós egípcios e dos primeiros artistas do mundo em Chiribiquete.

Você nunca nos dominará. Se opõe o guerreiro que cavalgava nossas terras, gritando liberdade e que se chama Bolívar.

Nossos povos são um pouco temerosos, um pouco tímidos, ingênuos e amáveis, apaixonados, mas saberão vencer o Canal do Panamá, que vocês nos tiraram com violência. Duzentos heróis de toda a América Latina jazem em Bocas del Toro, atual Panamá, antes Colômbia, que vocês assassinaram.

Eu levanto uma bandeira e, como dizia Gaitán, mesmo que eu fique sozinho, ela continuará erguida com a dignidade latino-americana, que é a dignidade da América, que seu bisavô não conheceu e o meu, sim, senhor presidente imigrante nos EUA.

Seu bloqueio não me assusta, porque a Colômbia, além de ser o país da beleza, é o coração do mundo. Sei que você ama a beleza como eu, não a desrespeite e ela lhe oferecerá sua doçura.

A COLÔMBIA, A PARTIR DE HOJE, SE ABRE AO MUNDO TODO, DE BRAÇOS ABERTOS. SOMOS CONSTRUTORES DE LIBERDADE, VIDA E HUMANIDADE.

Me informam que você impõe um imposto de 50% sobre o fruto do nosso trabalho humano para entrar nos EUA. Eu faço o mesmo.

Que o nosso povo plante milho, que foi descoberto na Colômbia, e alimente o mundo.”

Por Estadão


Você pode interessar!