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‘Cheguei a pedir a Deus para morrer’, diz sobrevivente do ataque do Hamas em ato em SP

de admin

Rafael Zimerman compartilha traumas do ataque de 7 de outubro e destaca a importância de falar sobre a dor e promover a paz

Rafael Zimerman, sobrevivente do ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023, participou do Ato Solene em Memória às Vítimas do Holocausto neste domingo, 26. Durante a cerimônia, realizada no Dia Internacional em Memória às Vítimas do Holocausto, ele acendeu uma das sete velas que simbolizam os 7 milhões de judeus mortos pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial, cada vela representando 1 milhão de vítimas.

Em entrevista ao Estadão, Zimerman compartilhou as cicatrizes deixadas pelo ataque, que matou 1,2 mil pessoas e resultou no sequestro de 251 reféns. O episódio continua vivo em sua memória, intensificado pela recente libertação de reféns pelo Hamas, após um acordo de cessar-fogo.

Rafael Zimerman, sobrevivente do ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023, acendeu uma das sete velas que simbolizam os 7 milhões de judeus mortos pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial
Rafael Zimerman, sobrevivente do ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023, acendeu uma das sete velas que simbolizam os 7 milhões de judeus mortos pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial Foto: Fábio Vieira/Estadão

“É um alívio para as famílias e para o país ver os reféns voltando, mas é impossível imaginar o que eles enfrentaram durante um ano e três meses nas mãos de terroristas”, afirmou. Segundo Zimerman, as imagens das libertações reavivaram memórias traumáticas. “Revivi o momento em que meninas foram sequestradas e cenas de abuso. Foi como reviver o 7 de outubro.”

Entre suas lembranças mais dolorosas está a morte de seu amigo Ranani Glazer, atingido dentro do bunker onde se abrigavam. “Éramos 40 pessoas, e apenas nove sobreviveram. Cheguei a pedir a Deus para morrer, porque o terror psicológico era insuportável”, revelou.

Hoje, Zimerman ainda luta contra os traumas, enfrentando pesadelos, gatilhos emocionais e medo do futuro. No entanto, enfatiza a importância de falar sobre as dores e buscar ajuda. “Aprendi que todos têm traumas, mas muitos não falam. Falar é essencial para se reerguer e seguir em frente.”

Ao comentar o futuro do conflito, destacou a complexidade da troca de reféns por terroristas. “É difícil para uma família aceitar que alguém responsável por um crime brutal será libertado. Mas, em Israel, acreditamos que salvar uma vida é salvar o mundo inteiro. A vida é o que mais importa.”

Além de enfrentar suas próprias dores, Rafael se dedica à educação pela paz. Ele atua na organização StandWithUs Brasil é embaixador do movimento Pin For Peace, ambos voltados ao combate ao terrorismo e à promoção da compreensão sobre o conflito.

“Uma guerra não tem vencedores. Ambos os lados perdem, ambos choram. Nosso objetivo é lutar contra o terrorismo, que é contra a vida. Precisamos mostrar que somos a favor da vida.”

Jorge Weiser, sobrevivente do Holocausto, relembra trajetória de superação

Outro convidado de honra do evento foi Jorge Weiser, sobrevivente do Holocausto, que aos 91 anos dividiu sua história com o público presente. Viúvo, pai de três filhos, avô de onze netos e bisavô de dois, ele agradeceu pela oportunidade de recomeçar. “O Brasil nos deu a chance de reconstruir nossas vidas. Sou profundamente grato.”

Nascido em Budapeste, Weiser viu sua vida mudar em março de 1944, quando os alemães invadiram a Hungria. “Judeus foram confinados em prédios designados e submetidos a severas restrições”, recorda. Ele usava a estrela amarela no peito e só podia sair em horários restritos.

Weiser (terceiro da direita para esquerda) foi convidado de honra em evento em SP
Weiser (terceiro da direita para esquerda) foi convidado de honra em evento em SP Foto: Fábio Vieira/Estadão

Com a ascensão do partido pró-nazista Flecha Cruzada, em outubro de 1944, a violência se intensificou. Weiser e sua família sobreviveram escondidos e enfrentaram frio, fome e bombardeios até a libertação de Budapeste pelos soviéticos, em janeiro de 1945.

Após a guerra, formou-se em Física e começou sua carreira, mas a Revolução Húngara de 1956 o levou a fugir para a Áustria. Em 1957, chegou ao Brasil, onde reconstruiu sua vida. “Não conhecíamos ninguém, mas fomos acolhidos. Graças à generosidade do povo brasileiro, começamos de novo”, afirmou.

Por Estadão


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