Cerimônia em SP pelos 80 anos da libertação de Auschwitz tem críticas ao governo Lula e à ONU – Blog Folha do Comercio
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Cerimônia em SP pelos 80 anos da libertação de Auschwitz tem críticas ao governo Lula e à ONU

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Líderes judeus condenam postura do Brasil e de organizações internacionais em relação ao conflito na Faixa de Gaza durante evento em São Paulo; reportagem fez contato com a Presidência e ainda não teve resposta

Durante a cerimônia em memória às vítimas do Holocausto neste domingo, 26, data que marca os 80 anos da libertação do campo de concentração de Auschwitz, autoridades da comunidade judaica brasileira criticaram a postura do governo Lula e de organizações internacionais, como a ONU e a Cruz Vermelha, em relação ao conflito na Faixa de Gaza – o embate começou após o ataque do grupo terrorista Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023. O Estadão fez contato com a Presidência e ainda não teve resposta.

Marcos Knobel, presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp), condenou a posição da diplomacia brasileira no conflito e apontou a falta de entendimento global sobre a verdadeira natureza da situação, associando-a ao antissemitismo.

Ato marca o Dia Internacional em Memória às Vítimas do Holocausto e os 80 anos da libertação do Campo de Concentração de Auschwitz
Ato marca o Dia Internacional em Memória às Vítimas do Holocausto e os 80 anos da libertação do Campo de Concentração de Auschwitz Foto: Fábio Vieira/Estadão

“Infelizmente, o Brasil integra esse grupo de governos. Um país com forte tradição de diálogo e imparcialidade em conflitos internacionais agora escolhe se alinhar a ditaduras totalitárias e grupos terroristas em detrimento das nações democráticas do Ocidente”, disse.

Knobel também afirmou que não é aceitável que autoridades tentem comparar a incursão militar de Israel em Gaza ao Holocausto. A fala pode ser interpretada como uma crítica velada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, no início do ano passado, comparou a resposta do país judaico ao Hamas a um genocídio.

O discurso mais contundente da noite foi proferido por Cláudio Lottenberg, presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib). Ele classificou como preocupante a incapacidade do governo brasileiro de compreender o conflito na Faixa de Gaza e de adotar uma posição clara sobre o tema.

“Ao evitar confrontar questões como o terrorismo, a violação de direitos humanos e a influência de regimes autoritários, o Brasil se isola moralmente e enfraquece sua capacidade de mediar conflitos e promover a paz”, afirmou.

Lottenberg também criticou o impacto da postura brasileira na arena internacional. “O silêncio, a ambiguidade e, em momentos decisivos, a falta de posicionamento prejudicam a credibilidade do País, comprometem parcerias estratégicas e afastam investidores que valorizam estabilidade, clareza de princípios e defesa de valores universais”, disse.

Ele concluiu com um apelo aos presentes: “Não queremos nosso País na contramão da liberdade e aliado a regimes totalitários. Somos brasileiros, somos judeus e somos sionistas.”

O presidente da Conib também criticou a ONU. Segundo ele, a organização, criada para promover a paz, os direitos humanos e a cooperação internacional, enfrenta atualmente uma grave crise de credibilidade.

Essa perda de confiança, afirmou, decorre em grande parte de sua incapacidade de agir com eficácia diante de conflitos globais, violações de direitos humanos e crises humanitárias.

A presidente da Congregação Israelita Paulista (CIP), Laura Feldman, também criticou as organizações internacionais, acusando-as de priorizarem o conflito em Gaza devido a uma agenda antissemita, enquanto ignoram outras crises globais.

“Não vou nem falar da Cruz Vermelha ou da ONU. Eles só enxergam o conflito em Gaza. O resto do mundo está em paz”, declarou, em tom de crítica.

O governador Tarcísio de Freitas e o prefeito Ricardo Nunes comparecem a evento que marca o Dia Internacional em Memória às Vítimas do Holocausto e os 80 anos da libertação do Campo de Concentração de Auschwitz
O governador Tarcísio de Freitas e o prefeito Ricardo Nunes comparecem a evento que marca o Dia Internacional em Memória às Vítimas do Holocausto e os 80 anos da libertação do Campo de Concentração de Auschwitz Foto: Fábio Vieira/Estadão

O evento, realizado na Sinagoga Etz Chaim da CIP, na Consolação, região central de São Paulo, contou com a presença de dezenas de autoridades. Entre os presentes, o governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), foram destacados como “verdadeiros amigos” da comunidade judaica e receberam aplausos.

Já o governo Lula enviou o embaixador Alfredo Camargo, do Escritório de Representação em São Paulo, do Itamaraty. Na prática, Camargo ocupa um cargo de segundo escalão no governo federal.

O mestre de cerimônias do evento ressaltou que o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) enviou uma carta justificando sua ausência, assim como os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Anielle Franco (Igualdade Racial) e Macaé Maria Evaristo (Direitos Humanos e Cidadania). “Pelo menos, este ano mandaram uma carta”, ironizou.

Por Estadão


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