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Opinião | Não basta restringir celulares: jovens precisam ser educados para as redes sociais

de admin

Três acontecimentos recentes esquentaram o debate sobre crianças e adolescentes nas redes sociais: afinal existe uma maneira segura e positiva para eles usarem essas plataformas?

Jovens precisam desenvolver um senso crítico afiado para serem menos manipulados pelas redes sociais -

Jovens precisam desenvolver um senso crítico afiado para serem menos manipulados pelas redes sociais – Foto: Freepik/Creative Commons

O primeiro foi a sanção, no dia 13, de lei federal que proíbe celulares nas escolas de Ensino Básico no Brasil. O outro foi o anúncio de Mark Zuckerberg, CEO da Meta, no dia 7, de que Facebook, Instagram e Threads não terão mais checagem de fatos e permitirão posts com temas sensíveis. E o terceiro foi a lei australiana, de 28 de novembro, que proíbe o uso de redes sociais por qualquer pessoa com menos de 16 anos.

Os três se combinam no dilema de que o mundo digital proporciona recursos incríveis, mas pode provocar sérios danos aos usuários se usado sem cuidado, e isso se agrava nos mais jovens. Incômodo maior vem do fato de que temos dificuldade de aproveitar esses benefícios sem sermos afetados pelos seus “efeitos colaterais”.

Os smartphones se tornaram centrais na vida moderna, indo muito além da comunicação. As redes sociais, por sua vez, são as aplicações mais comuns neles, captando a atenção e manipulando ideias em uma escala sem precedentes. Esse efeito pode se tornar dramático entre crianças e adolescentes.

Justamente por isso, os celulares e consequentemente as redes sociais foram banidas das escolas. Mas o que acontece quando os estudantes vão para casa?

“Não sabemos tudo: temos que caminhar juntos”, explica Ana Lucia de Souza Lopes, doutora em Educação e especialista em Educação e Tecnologias, e coordenadora na Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Os pais também não sabem o que fazer muitas vezes, então a relação família-escola é fundamental”, acrescenta.

Ao contrário do que sugere o discurso em que tentam se isentar de qualquer responsabilidade, as redes sociais deixaram de ser inocentes veículos de conteúdos de terceiros quando seus algoritmos passaram a promover o que lhes gera mais lucros, normalmente conteúdos nocivos. Se alguém ainda tinha dúvidas, isso foi exposto em 2021, quando a ex-gerente de produtos da Meta Frances Haugen divulgou milhares de documentos internos que explicitavam que a empresa sabe disso e faz muito menos do que poderia para evitá-lo, especialmente no que se refere a adolescentes, pois isso prejudicaria seus lucros.

“É fundamental ter uma legislação robusta que garanta a proteção das crianças e adolescentes”, afirma Maria Eduarda Menezes, coordenadora de edtech da Beacon School. “Mais que proibir, é necessário promover o desenvolvimento de uma capacidade crítica nos jovens, para que saibam usar as redes sociais de maneira

Não podemos ser inocentes e acreditar que essa iniciativa partirá da big techs, que lucram com problemas que podem se agravar seriamente com o novo posicionamento da Meta. Elas não farão nada que contrarie seus lucros bilionários.

Diante disso e do fato de que não há uma solução simples, a Austrália decidiu “cortar o mal pela raiz”, bloqueando as redes sociais. Isso pode melhorar o quadro, mas sabemos que crianças e adolescentes têm um “jeito especial” de burlar proibições. Além disso, ao se tornar um fiel escudeiro de Donald Trump, novo presidente americano, Zuckerberg espera contar com uma pressão feroz dos EUA sobre a Austrália, a Europa, o Brasil e qualquer nação que crie leis que atrapalhem seus negócios.

O jeito é investir na “solução difícil”, porém melhor. “O que é importante é a educação desse jovem”, afirma Lopes. “É preciso buscar um equilíbrio entre os usos e costumes da era digital.”

Uma regulamentação moderna dessas plataformas deve ser encarada como uma oportunidade para elaborar um futuro digital responsável. Porém, além das leis, é com a educação que construiremos uma sociedade mais saudável. Pais e professores precisam se unir e juntos formarem jovens com senso crítico afiado, que não se deixem manipular (tanto) pelas redes sociais.

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Opinião por Paulo Silvestre

É jornalista, consultor e palestrante de customer experience, mídia, cultura e transformação digital. É professor da Universidade Mackenzie e da PUC–SP, e articulista do Estadão. Foi executivo na AOL, Editora Abril, Estadão, Saraiva e Samsung. Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP, é LinkedIn Top Voice desde 2016.

Por Estadão

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