Cerimônia de posse de presidente americano atraiu grupo de bolsonaristas, e proximidade com republicano virou alvo de disputa
A posse de Donald Trump mais uma vez como presidente dos Estados Unidos, ocorrida em Washington na segunda-feira, 20, foi vista por lideranças da direita brasileira como oportunidade para capitalizar politicamente com vistas a 2026.
Nomes como o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o coach Pablo Marçal (PRTB) estiveram na capital americana no dia da cerimônia e exploraram a figura do republicano para suas multidões de seguidores.
Terceiro filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Eduardo tem sido o principal articulador da extrema direita brasileira junto a aliados internacionais, sobretudo ao círculo próximo a Trump. Ele esteve em Washington ao lado da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, do ex-ministro do Turismo de seu pai, Gilson Machado (PL-PE), e do próprio filho do pernambucano, o vereador de Recife Gilson Machado Guimarães, para o evento do novo presidente.
Eduardo marcou presença no baile de gala após a cerimônia de posse e publicou o momento de uma videoconferência com seu pai enquanto Trump e a primeira-dama Melania dançavam no salão. Bolsonaro foi impedido de viajar aos Estados Unidos por estar com o passaporte retido pela Polícia Federal em razão da investigação da qual é alvo por tentativa de golpe de Estado. O vídeo de Eduardo soma 6,2 milhões de visualizações.
A polêmica acerca da ida à cerimônia — o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes mandou o ex-presidente comprovar a veracidade do convite – e o fato de a família Bolsonaro ter ficado de fora da cerimônia de posse – como Washington registrou uma temperatura máxima de -2 ºC naquele dia, o espaço para os convidados foi alterado e ficou mais restrito – incomodou Eduardo. Nos últimos dias, ele tem reforçado a exclusividade do acesso que tem junto ao americano.
“Ontem nós fomos ao baile de gala do presidente Trump. Ele fez questão de nos colocar, Michelle, Eduardo também, logo na primeira mesa para que tivesse total acesso a ele”, diz um vídeo publicado por Machado e compartilhado por Eduardo.
Ex-candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PRTB, Marçal publicou numa rede social um vídeo ao lado de Trump, como se tivesse o encontrado na festa após a cerimônia de posse – gravação que nem mesmo Eduardo conseguiu naquele dia. Na abordagem, o brasileiro pede ao americano que “salve o Brasil”, em que o presidente acena e responde que gosta do País. O candidato à Prefeitura de São Paulo em 2024 publicou 17 vídeos que somam 46 milhões de visualizações – a publicação com Trump soma sozinha 17 milhões até esta quarta-feira, 22.
Detalhes do cenário, no entanto, apontam que o conteúdo pode não ter sido gravado naquela oportunidade, e sim num evento sediado no resort do presidente em Mar-a-Lago, na Flórida. O ex-coach não diz em qual dia o vídeo foi gravado, e sua assessoria não soube confirmar a data. A polêmica logo se alastrou e virou munição para os bolsonaristas desafetos de Marçal.
Eduardo comentou numa publicação no X (antigo Twitter) dizendo que até Marçal havia chegado perto de Trump, mas o deputado e sua madrasta Michelle, não. Ele respondeu: “kkkkkkkkkkk, todos os dias acordam um malandro e um otário. Em algum momento do dia eles se cruzam (risos)”. Em seguida, publicou uma enquete: “E você? É otário nessa história?”.
Nesta quarta, ele voltou ao assunto e criticou sites bolsonaristas que haviam noticiado o vídeo enganoso de Marçal: “Por qual motivo eles estariam dando espaço a isso? Não precisa nem saber que o local é Mar-a-Lago, basta ver que Trump está sem smoking”, referindo-se ao traje obrigatório para a festa de gala desta semana.
Eduardo e Marçal são potenciais presidenciáveis. Aliados de Bolsonaro defendem que o seu terceiro filho possa herdar sua vaga, numa estratégia similar à da chapa Lula-Haddad em 2018, para tentar derrotar o PT daqui a dois anos. O coach, por sua vez, passou os últimos dias respondendo mensagens no Instagram sobre sua candidatura, e reafirmando sua empreitada eleitoral.
Trump tem alta relevância para a direita no Brasil. Apoiadores de Bolsonaro, ele inclusive, dizem acreditar que o presidente americano pode exercer influência para mudar os ventos da política brasileira e permitir que o ex-presidente concorra em 2026, ainda que isso signifique um ataque à soberania brasileira. Numa transmissão ao vivo com André Ventura, presidente do partido de extrema direita português Chega no último fim de semana, Bolsonaro disse acreditar em uma “interferência do bem” de Trump no Brasil.
Acompanhando Marçal nos Estados Unidos, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), estrela do bolsonarismo, entrou na mira de aliados de Bolsonaro ao gravar vídeos com o ex-coach, que está pavimentado uma pré-candidatura à Presidência da República como possível concorrente do “candidato oficial” do ex-presidente. O comunicador Kim Paim, dono de um canal no YouTube com 817 mil inscritos entre eles membros da família Bolsonaro, foi um dos criticaram o episódio.
Nesta quarta, Bolsonaro mandou recado a possíveis nomes da direita que querem substituí-lo nas eleições presidenciais de 2026. Em entrevista ao canal AuriVerde Brasil no YouTube, Bolsonaro afirmou que candidatos “com pouca idade” e que se dizem uma “terceira via” não resolverão os problemas do País.
“Não fica inventando ‘terceira via’, ‘direita limpinha’, fazer um gestinho para lá e para cá, com a sua inexperiência, com a sua, até, boa vontade, mas você não tem como enfrentar, hoje em dia, o sistema pelo povo”, disse o ex-presidente.
Deputados federais bolsonaristas embarcaram em peso para os Estados Unidos em busca de capitalização da figura de Trump, mesmo sem participar da cerimônia oficial. Além de Eduardo, 20 deles confirmaram ao Estadão presença em Washington, além do senador Jorge Seif (PL-SC). A lista contempla parlamentares de siglas que integram a base de apoio ao governo Lula no Congresso, como União Brasil, de Coronel Ulysses (SC), e Republicanos, de Messias Donato (ES).
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi outro dos que surfaram a onda desta semana. Ele publicou um vídeo vestindo um boné vermelho escrito “Make America Great Again” (faça a América grande de novo), slogan de Trump.
Por Estadão