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Opinião | Desaprovação de Lula chega a 50%, mas ele acha que “o problema é de comunicação” e não de conteúdo

de admin

Diante do retrospecto do presidente nas diferentes áreas da administração em seus dois anos de mandato, o surpreendente seria se o resultado da pesquisa fosse diferente, mesmo com o melhor marqueteiro do mundo

O novo aumento na desaprovação de Lula, para 49,8%, nível mais alto desde o início do atual mandato, confirma o que já se pode perceber a olho nu nas ruas. Diante de tudo-isso-que-está-aí, seria surpreendente se o resultado da pesquisa, realizada pela AtlasIntel e divulgada pela agência Bloomberg nesta sexta-feira, fosse diferente.

Ao completar dois anos de governo, o retrospecto de Lula é indecente. Se seu governo estivesse no Brasileirão, provavelmente estaria na lanterninha da tabela de classificação e seria rebaixado para a série B. Ou para a série C diretamente, se fosse possível, com a “ajuda” inestimável de sua companheira, “Lady” Janja, cuja aprovação, de acordo com pesquisa divulgada pela Quaest no fim do ano, caiu quase pela metade desde o início do mandato do “maridão”, para apenas 22%.

São tantas as possibilidades para explicar o tombo de Lula nas pesquisas que é até difícil enumerar todas elas aqui. Mas, mesmo destacando apenas o que vem na mente de forma aleatória, já dá para mais do que justificar sua queda. Nem precisa levar em conta seus incontáveis impropérios verbais, geralmente suavizados como “gafes” no noticiário.

A decisão de Lula de enviar a embaixadora brasileira em Caracas para representá-lo na posse de Maduro certamente não ajuda em sua aprovação
A decisão de Lula de enviar a embaixadora brasileira em Caracas para representá-lo na posse de Maduro certamente não ajuda em sua aprovação Foto: WILTON JUNIOR

Nas relações externas, por exemplo, a gente pode falar do apoio dado ao ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, expresso agora por meio do envio da embaixadora brasileira em Caracas para representar o Brasil em sua posse. Ou da postura dúbia que Lula adotou quando ficou patente a fraude perpetrada por Maduro contra a oposição nas eleições presidenciais.

Dá para falar também de sua postura pró-Hamas desde que os atos terroristas cometidos pelo grupo em 7 de outubro de 2023 levaram à reação de Israel e à guerra em Gaza. Ou do envio do vice-presidente, Geraldo Alckmin, para representá-lo na posse do novo presidente do Irã, ao lado da “nata” do terrorismo internacional. Ou ainda de sua postura pró-Putin na Guerra da Ucrânia. Ou de sua interferência nas eleições argentinas, ao enviar marqueteiros que atuaram em sua campanha em 2022, para tentar ajudar os peronistas a derrotar Milei.

Na economia, para discorrer sobre a folha corrida de Lula 3 também não precisa de muito esforço. Mas, entre todas as suas “realizações”, talvez nenhuma seja tão emblemática quanto sua sanha tributária, que atingiu milhões de contribuintes, das mais diferentes formas, e rendeu a seu ministro da Fazenda o apelido “carinhoso” de “Taxad” e uma infinidade de memes nas redes sociais.

Tem também a alta do dólar, provocada pelas incertezas na gestão da economia, e da inflação, que transformou numa miragem o “churrasquinho” com picanha e “aquele chopinho” prometidos na campanha. Isso sem falar dos juros estratosféricos, que o Banco Central tem de praticar, para evitar a disparada de preços provocada pelo excesso de gastos do governo, que gera déficits recorrentes no Orçamento e turbina a dívida pública.

E, para não estender muito este capítulo, não dá para esquecer dos déficits bilionários das estatais, da ingerência do governo na Petrobras, da tentativa de interferir na gestão de empresas privadas, como a Vale, e das dúvidas que pairam sobre as estatísticas do IBGE sob a gestão do economista do PT, Márcio Pochmann, indicado por Lula para o cargo.

Tampouco dá para esquecer do “revogaço” que Lula vem tentando promover desde sua posse, para rever a autonomia do Banco Central, a privatização da Eletrobras, o novo marco do saneamento e a legislação que regula os investimentos dos fundos de pensão das estatais.

É certo, como o Lula e seus aliados têm procurado dizer, que o País está crescendo e que o desemprego está diminuindo, embora os dados agora excluam quem recebe Bolsa Família do contingente de desempregados. Com o nível de gastos do governo e das estatais, é até natural que isso aconteça. O problema, como mostra a história recente do País, é que isso não é sustentável e vai acabar sendo, segundo os economistas que passam ao largo das bruxarias heterodoxas, mais um “voo de galinha”, cuja fatura salgada sobrará, mais uma vez, para todos os brasileiros.

Para finalizar, não dá para passar batido pela queda da ponte localizada na divisa dos Estados do Maranhão e de Tocantins, que deixou 14 mortos por falta de investimentos federais, enquanto os gastos do cartão de crédito presidencial seguem sob sigilo, e da classificação do Brasil em penúltimo lugar no ranking global de qualidade de educação envolvendo 40 países.

Daria para passar o dia todo listando os motivos que podem explicar o desempenho pífio de Lula nas pesquisas. Mas os exemplos acima já dão um “aperitivo” consistente para ilustrar a questão. Lula, porém, diz acreditar que seu “problema é de comunicação” e não de conteúdo. E, em vez de mudar de rota, prefere dobrar a aposta na fórmula fracassada do passado e trocar o ministro-chefe da Comunicação Social, para melhorar a imagem do governo. Nem o melhor marqueteiro do mundo conseguirá resolver o problema.

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Opinião por José Fucs

É repórter especial do Estadão. Jornalista desde 1983, foi repórter especial e editor de Economia da revista Época, editor-chefe da revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, editor-executivo da Exame e repórter do Estadão, da Gazeta Mercantil e da Folha. Leia publicações anteriores a 18/4/23 em www.estadao.com.br/politica/blog-do-fucs/

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