No comando do governo da Bahia há 18 anos, o PT quer ampliar sua hegemonia no estado e iniciou um movimento para ocupar os três principais postos da chapa majoritária nas eleições de 2026.
O projeto é consolidar o governador Jerônimo Rodrigues (PT) como candidato à reeleição, tendo como candidatos ao Senado os seus dois antecessores –o senador Jaques Wagner e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, ambos do PT.
Caso se concretize, o movimento representará um revés para PSD, principal aliado das gestões petistas na Bahia. O partido defende a reeleição do senador Angelo Coronel, cujo mandato se encerra em 2027.
A chapa foi defendida por Jaques Wagner em entrevista ao jornal A Tarde na segunda-feira (8). Foi a primeira vez que o petista defendeu a tese de forma mais clara.
“Essa chapa, você poderia batizar de trio do sucesso porque são três governos que fizeram a Bahia prosperar e muito, se modernizar e muito […] Eu diria que, pelo peso dos nomes, é muito natural se tivermos uma chapa com três governadores”, afirmou o líder governo Lula (PT) no Senado.
Na mesma entrevista, ele buscou afagar os aliados, indicando que vai contemplá-los de outras formas: “A gente vai acomodar todo mundo. Vou repetir, não apostem em racha, porque não vai haver”.
A expectativa é que o PT tente contemplar os aliados com o cargo de vice-governador, suplências para o Senado, a presidência da Assembleia Legislativa, além de vagas nos Tribunais de Contas do Estado e dos Municípios.
A defesa da chapa com os três governadores representa uma mudança sutil no discurso de Wagner, que até o ano passado, dizia que apenas ele e o governador tinham as suas vagas asseguradas na chapa.
Dentro do PT, a proposta é vista como a solução para evitar uma escalada do racha entre Jaques Wagner e Rui Costa, que disputam espaços dentro do partido, da base aliada e do governo Jerônimo.
Ao mesmo tempo, a avaliação é que Rui Costa –que deixou o governo em 2022 com popularidade e ocupa um cargo central no governo Lula– fortaleceria a chapa do governador.
Os partidos aliados, contudo, demonstram incômodo com o que chamam de postura hegemonista do PT. Angelo Coronel tratou com ironia a proposta que o exclui da disputa ao Senado.
“O PT tem todo direito de escalar seu time nas posições que bem desejar. Acredito que irão indicar os quatro componentes da majoritária. Deverá ser uma chapa 100% puro-sangue”, afirmou o senador à Folha.
Ele destacou que PSD está unido e só vai se pronunciar sobre as eleições em março de 2026. “Em política, uma semana é uma eternidade, imagine dois anos. O apressado come cru.”
O MDB, que em 2022 indicou para a chapa o vice-governador Geraldo Júnior, também vê o movimento com preocupação. O partido trabalha para manter o posto dentro da chapa majoritária.
As chances de permanência de Geraldo Júnior, contudo, na chapa foram reduzidas após a sua derrota na disputa pela prefeitura de Salvador, na qual amargou um terceiro lugar com 10,3% dos votos.
Presidente de honra do MDB da Bahia, o ex-deputado Lúcio Vieira Lima defende a manutenção da configuração na chapa, com o PT na disputa pelo governo e ao Senado, o MDB com a vice e o PSD com a segunda vaga ao Senado: “O principal critério tem que ser a reeleição”.
Entre os aliados do governador, a avaliação é que a configuração da chapa vai depender de uma série de fatores que incluem o cenário nacional, a popularidade do presidente Lula, a avaliação da gestão Jerônimo e a força da oposição.
As eleições municipais na Bahia consolidaram um cenário de polarização entre os grupos do governador e do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil), indicando um novo embate entre ambos em 2026.
Os partidos aliados ao governador elegeram 309 das 417 prefeituras baianas. A oposição, por outro lado, prevaleceu nas grandes cidades.
Governistas veem a oposição enfraquecia após a implosão da candidatura de Elmar Nascimento (União Brasil) à presidência da Câmara dos Deputados e a eclosão da Operação Overclean, que investiga por suspeitas de corrupção nomes do partido como o empresário Marcos Moura.
Adversários do governador, contudo, avaliam que o PT planeja disputar a eleição com força máxima por antever um cenário adverso em 2026, tanto na disputa nacional como na estadual.