Análise: Polarização segue firme com uso seletivo do 8/1 – 07/01/2025 – Poder – Blog Folha do Comercio
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Análise: Polarização segue firme com uso seletivo do 8/1 – 07/01/2025 – Poder

de admin


Passados dois anos do 8 de Janeiro, evento fulcral na história brasileira após a redemocratização de 1985, a polarização que gestou a invasão da sede dos Poderes em Brasília segue firme e forte.

A convulsão dos bolsonaristas que participaram da “festa da Selma”, ao que tudo indica uma tentativa tardia de ressuscitar a choque o golpismo que fracassou em prosperar no fim de 2022, serve hoje à estratégia eleitoral dos lados em oposição, com uso seletivo.

O processo tocado por Alexandre de Moraes, com condenações pesadas aos envolvidos na intentona até aqui, teve o condão de baixar a fervura golpista. Mas, noves fora o debate jurídico acerca da dureza de penas, a extensão “ad infinitum” de apurações arrisca realimentar o fogo que aqueceu o caldeirão do 8/1.

Isso leva a considerações eleitorais que já se fizeram presentes no pleito municipal deste ano, em que a centro-direita não bolsonarista se consolidou como força mais orgânica do país, mas dando respiros ao bolsonarismo mais puro e suas novas variantes, como Pablo Marçal (PRTB) insinuou em São Paulo.

As insatisfações facilmente desenhadas nas pedestres lógicas de redes sociais seguem as mesmas: crítica ao excesso de poder de um Judiciário gastador e pouco transparente, a cantilena de perseguição judicial —de resto, nada diferente do que a esquerda fazia quando era Lula o alvo. Como se diz, “tempus fugit”.

Não por acaso, apesar de o Datafolha apontar que 62% dos brasileiros são contrários à anistia à turma do 8/1 e que metade do país acredita que Bolsonaro tramou o golpe apontado pela Polícia Federal, os herdeiros da direita seguem passando pano para o golpismo evidente daquele domingo em 2023.

Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), governador que é tratado como herdeiro presumido do bolsonarismo e que já convenceu boa parte do empresariado de que é um moderado, defende a anistia e nega a culpa do ex-chefe, ao menos no discurso.

Como esteve com ele quando as sombras do Alvorada sussurravam ideias exóticas e minutas sobre elas eram apresentadas a militares atônitos, talvez não tenha escolha. Mas a incapacidade de Tarcísio, ou do mais assumidamente presidenciável Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), de condenar o 8/1 entrega uma tática de minimizar a barbárie em nome do voto.

É uma opção que, se a economia piorar a ponto de ameaçar as chances reeleitorais de Lula, que hoje ainda são enormes, atrairá as classes médias antipetistas alienadas pelo partido do presidente.

Aí entra o risco do monopólio da virtude cantado pelo PT e pelos seus anexos à esquerda, que ganharão ares de ato oficial com cheiro de campanha antecipada nesta quarta (8), tanto dentro quanto fora do Palácio do Planalto.

Tal demonização do inimigo sempre serviu a Lula, mas foi fatal em momentos nos quais apenas a mística de seu nome não servia, como no impeachment de Dilma Rousseff (PT) ou na eleição de Jair Bolsonaro (PL).

De volta ao poder, o petista manteve a chama acesa, algo útil quando seu principal adversário potencial faz o mesmo mesmo sabendo-se inelegível até 2030 —os esbirros radicais revelados pela PF e esposados pelo bolsonarismo mesmo depois do 8/1 apenas reduzem as já bem improváveis chances de uma virada de mesa.

A esquerda brasileira deveria olhar para a debacle de Joe Biden e a volta de Donald Trump. Os EUA não são o Brasil, e tanto Bolsonaro quanto Lula diferem muito de seus pares na comparação —o ex-presidente está bem mais enrolado do que o americano; o atual tem mais apoio do que o democrata. Mas erros são universais.

Ao fim, o que é discutível nisso tudo é a utilidade, do ponto de vista de construção democrática, de tal dicotomia sem fim. Políticos centristas mais otimistas e interessados, claro, dizem que 2024 provou que moderação e centrão podem ser um caminho natural.

Parece cedo para tal vaticínio. É bom lembrar que os protestos de 2013 geraram o governo Michel Temer (MDB) antes de dar à luz ao bolsonarismo. O que sairá do trabalho de parto ora em curso ainda é insondável.



Fonte https://redir.folha.com.br/redir/online/poder/rss091/*https://www1.folha.uol.com.br/poder/2025/01/polarizacao-segue-firme-com-o-uso-seletivo-do-8-de-janeiro.shtml

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