Um grupo de mulheres redigiu uma carta denúncia contra assédios na Secretaria Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT). O documento de segunda-feira (4) denuncia e repudia “ações misóginas, racistas e autoritárias praticadas por um coordenador do Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno (Cedoc), com sede em Goiânia.
Segundo o documento, várias mulheres enviaram denúncia coletiva à Comissão de Ética da Pastoral, “denunciando inúmeras e sistemáticas situações de assédio moral e descriminação racial e de gênero praticadas pelo mesmo ao longo dos últimos anos, com diversas trabalhadoras da Secretaria Nacional da CPT”.
O texto aponta, ainda, que, em 2024, foram 2.951 textos de ocorrências de conflitos inseridos no banco de dados da CPT, sendo 2,5 mil por mulheres trabalhadoras do Cedoc. É exposto, ainda, que situações de desvalorização do trabalho feminino na Secretaria Nacional já foram presenciadas. Inclusive, muito desse trabalho, sobretudo quando considerado um esforço intelectual, é apresentado pelo coordenador como feito exclusivamente ou em maior parte por ele.
“Ainda, o […] desqualifica as companheiras, em diversas situações, publicamente, afirmando-as como incapazes de realizarem determinadas tarefas e atribuindo qualquer erro ou atraso, das atribuições da própria coordenação do setor, como decorrência da incapacidade ou da falta de esforços dessas mulheres”, completa o texto.
O Mais Goiás procurou a Secretaria Nacional da Comissão Pastoral da Terra para se manifestar sobre a denúncia. Em nota, a CPT lembra que as acusações não são contra a entidade e afirma repudiar qualquer forma de assédio e preconceito de gênero ou raça. Ressalta, ainda, sua missão ao lado das pessoas oprimidas. “Deste modo, irá tomar todas as medidas para garantir um ambiente de trabalho saudável e acolhedor para todas as pessoas.”
Nota da CPT:
“A Comissão Pastoral da Terra (CPT), entidade de cunho religioso e sem fins lucrativos fundada em 1975, possui a missão de denunciar injustiças e acompanhar comunidades camponesas, povos da terra, das águas e das florestas, trabalhadores e trabalhadoras rurais em suas lutas pela efetivação dos direitos humanos no Brasil e contra todas as formas de exploração.
No dia 05 de novembro de 2024, a Comissão de Ética interna da entidade recebeu, a partir de carta encaminhada por parte do corpo de trabalhadoras, denúncias de assédio moral que teriam ocorrido na secretaria nacional da organização. A CPT manifesta preocupação em relação aos fatos relatados, e informa que irá instaurar os procedimentos internos da Comissão de Ética para apurar as denúncias, com também atenção ao princípio de presunção de inocência. A CPT ressalta que as denúncias não foram feitas contra a entidade, mas sim contra uma pessoa específica que também trabalha no local.
Ao longo de sua história, a CPT vem discutindo e implementando políticas internas direcionadas à garantia da equidade de gênero e raça em seu quadro de contratações, assim como nos cargos de liderança, buscando colaborar com superação de desigualdades presentes em toda a sociedade brasileira e acolhendo demandas e direcionamentos do próprio Coletivo de Mulheres desta organização.
Com a implementação da Comissão de Ética, a CPT estabeleceu mais um mecanismo interno para apurar o cumprimento do código interno de conduta, o qual estabelece a intolerância a todo tipo de discriminação e violência no ambiente de trabalho e de atuação pastoral.
Assim, a CPT reafirma o seu repúdio a qualquer forma de assédio e preconceito de gênero ou raça, e ressalta sua missão ao lado das pessoas oprimidas. Deste modo, irá tomar todas as medidas para garantir um ambiente de trabalho saudável e acolhedor para todas as pessoas.”
Confira a carta denúncia na íntegra:
“Nós, mulheres trabalhadoras da Comissão Pastoral da Terra, que atuamos na Secretaria Nacional, em Goiânia (GO), e assinamos esta carta, viemos denunciar e repudiar as ações misóginas, racistas e autoritárias praticadas (…) [por um coordenador] do Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno (Cedoc), […]. Ao tempo que enviamos esta carta ao coletivo da CPT, diversas mulheres estão enviando concomitantemente esta denúncia coletiva à Comissão de Ética da Pastoral, denunciando inúmeras e sistemáticas situações de assédio moral e descriminação racial e de gênero praticadas pelo mesmo ao longo dos últimos anos, com diversas trabalhadoras da Secretaria Nacional da CPT.
Ao longo dos últimos anos, a CPT tem construído uma política que visa garantir e defender a diversidade em seus quadros, seja na Secretaria Nacional ou nas regionais. Existe um esforço em se assegurar uma maior presença de mulheres negras e LGBTQIA+, e isso tem transformado a realidade cotidiana da secretaria. Há uma equiparação de gênero garantida na Coordenação Nacional e, não podemos deixar de ressaltar, a presença de uma mulher na diretoria da CPT.
Contudo, há também aqueles que são resistentes, que ainda acreditam que um esforço coletivo para uma política de igualdade racial e de gênero significa construir cercas, equiparando tais esforços à ação de fazendeiros e grileiros, responsáveis pelas mortes de indígenas, quilombolas, sem-terras e demais identidades de trabalhadoras e trabalhadores do campo. Há quem acredite que garantir a presença e a demanda de mulheres e de outras minorias seja prejudicial ao que defendem como luta de classes e qualquer uma que se oponha é desqualificada, desacreditada e tem não apenas sua capacidade intelectual desconsiderada, mas também toda sua trajetória de lutas e de vida silenciadas. Mas será mesmo essa uma questão identitária que subtrai a luta de classes ou será que tais questões são as próprias trincheiras dessa luta?
Enquanto somos desqualificadas, diminuídas, vítimas da descriminação racial e de gênero, somente no ano de 2024, até o mês de outubro, dos 2.951 textos de ocorrências de conflitos inseridos no banco de dados da CPT (Gaia), 2.565 foram inseridos pelas mulheres trabalhadoras do Cedoc. Das 66 pesquisas atendidas pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno nesse mesmo período, 36 foram realizadas por mulheres trabalhadoras do setor. As demandas de guarda e organização dos documentos, ainda que conte com a contribuição de um estagiário atualmente, também estão a cargo de orientações e acompanhamento de mulheres do setor. Os trabalhos de revisão histórica, construção e sistematização dos dados sobre assassinatos e julgamentos são feitos por uma mulher do setor. É importante destacar, ainda, o trabalho de clipagem e inserção de documentos no banco de dados, feito pelo Cedoc. No ano de 2024 até a presente data, foram clipados 5.825 documentos, desse total, 2.951 foram clipados por mulheres. Ou seja, mais da metade desse trabalho é feito pelas mulheres do setor.
Isso sem contarmos, também, algumas tarefas que passam como supostamente coletivas, mas que sempre recaem sobre as mulheres, como o cuidado da sala, o pensar nas demandas de materiais de trabalho necessários, o cuidado com a manutenção do ar condicionado, e a organização de eventos, tais como o Encontro de Documentação, realizado em setembro deste ano. Ou seja, diversas “pequenas” situações ou afazeres, ou que ao menos são ditas como pequenas, mas que sobrecarregam, como sempre sobrecarregaram historicamente, as mulheres, já que não são trabalhos pelos quais se conquista qualquer reconhecimento.
A tarefa de análise e elaboração anual da publicação “Conflitos no Campo” também conta com o trabalho de mulheres do setor. Vale lembrar, inclusive, que a estruturação dos infográficos e da própria apresentação do caderno de conflitos de 2023 foi realizada por mulheres do setor de Comunicação e de Documentação da Secretaria Nacional. Além de, claro, todo o trabalho dessas mesmas mulheres para construção do projeto gráfico e da organização do espaço de lançamento do relatório, que depende não apenas dos setores de Documentação e Comunicação da CPT, mas também do Administrativo, formado exclusivamente por mulheres.
Logo, nenhuma atividade ou trabalho da CPT, que dependa da Secretaria Nacional para ser realizado, ocorre sem o suor do trabalho de diversas mulheres, sobretudo das mulheres negras, que atualmente representam a maioria das trabalhadoras da Secretaria Nacional da CPT. No entanto, o reconhecimento interno, ou mesmo o reconhecimento público, desse trabalho realizado por essas mesmas mulheres em nome da CPT, são invisibilizados ou nem mesmo existem.
Diversas situações de desvalorização do trabalho das mulheres da Secretaria Nacional já foram presenciadas. Da mesma maneira, muito desse trabalho, sobretudo quando considerado um esforço intelectual, é apresentado pelo então […] do Cedoc como feito exclusivamente ou em maior parte por ele, que recebe todo o reconhecimento. Ainda, o […] desqualifica as companheiras, em diversas situações, publicamente, afirmando-as como incapazes de realizarem determinadas tarefas e atribuindo qualquer erro ou atraso, das atribuições da própria coordenação do setor, como decorrência da incapacidade ou da falta de esforços dessas mulheres. Mas a realidade é que, mesmo com a incapacidade mínima de organização e gestão de tarefas por parte do […], as mulheres trabalhadoras da Secretaria Nacional, em especial do Cedoc – que respondem diretamente a ele –, têm garantido que as atividades do setor sejam cumpridas dentro do prazo estabelecido.
Para se esquivar das críticas e reclamações dos próprios trabalhadores sobre sua incapacidade de gestão do setor, […] se utiliza de mecanismos misóginos e racistas, reforçando formas de agir que são e devem ser cada vez mais consideradas abomináveis. Bater na mesa quando contrariado e apontar erros dos demais documentalistas de maneira a constrangê-los faz parte da rotina no Centro de Documentação.
É observado também que, quando é necessário consultar a Coordenação Nacional para encaminhamentos e resoluções sobre o setor, […] se dirige apenas aos homens que compõem a Conac, mesmo que o setor de documentação seja também acompanhado por uma mulher, atualmente. Quando as mulheres se reúnem para partilhar suas trajetórias, isso é chamado de identitarismo, mas quando […] só se dirige aos homens quando há mulheres na coordenação, como podemos chamar isso?
No ano de 2021, logo após assumir a coordenação do setor, o mesmo passou a perseguir sistematicamente uma das documentalistas do Cedoc, por sua vez uma mulher negra. Utilizando de meios completamente antiéticos e que extrapolam qualquer relação de trabalho, […] se utilizou de calúnias e difamações para perseguir essa trabalhadora. Usou o fato dela ser uma mulher e alegou que a mesma era apaixonada por ele. Nessa versão caluniosa, após ele não ter demonstrado interesse sexual nela, a documentalista teria colocado toda a equipe do Cedoc contra ele. Assim, […] fugia da insatisfação do setor com seu trabalho de […] da documentação, acusando que essa trabalhadora estaria manipulando as/os outras/os documentalistas pelas razões expostas. Inclusive, afirmou que essa trabalhadora teria seduzido os demais trabalhadores homens do setor, também manipulando-os.
É importante salientar, que no ano de 2024, uma das trabalhadoras do Cedoc o confrontou sobre essa situação, pois já não aguentava mais viver sob constante medo e situações vexatórias dentro do Centro de Documentação. Ao confrontá-lo, […] reforçou a história contada e ainda tentou convencer essa trabalhadora usando de narrativas escusas, sempre colocando questões pessoais dele, reforçando ainda mais o escracho cometido por ele contra a documentalista que foi perseguida em 2021.
A verdade é que essa situação narrada por […] nunca existiu e nenhum trabalhador ou trabalhadora do setor foi ouvido à época para saber o porquê dos desgastes que vinham acontecendo internamente no setor. Essa mesma documentalista, que passou por tal situação de perseguição, nem sequer sabia dos boatos espalhados por […] à época e apenas teve conhecimento após pedir demissão – por não suportar mais os assédios e comportamentos violentos –, através de relações pessoais com agentes pastorais. A trabalhadora não teve nenhuma chance de defesa contra as calúnias e nenhum outro trabalhador do Cedoc teve conhecimento desse fato na época ou sequer foi ouvido sobre a real situação do setor e dos assédios morais constantemente cometidos pelo […] contra toda a equipe. Ora, se isso aconteceu com uma das mulheres que trabalhavam com esse […], qualquer mulher estaria sujeita ao mesmo, e foi exatamente isso que continuou acontecendo sistematicamente no setor de documentação da CPT.
Nesse mesmo período, ele desqualificou uma outra trabalhadora do setor, suas considerações e contribuições, acusando-a de “defender a agroecologia”, em um momento em que conversavam sobre como a agroecologia era uma pauta das mulheres do campo. Ele inclusive afirmou para essa trabalhadora, e aos demais documentalistas do setor, que considera a agroecologia como uma bandeira fascista, apesar de ser uma das pautas de luta da própria CPT, além de essencial e indispensável às trabalhadoras e trabalhadores do campo.
Ainda no segundo semestre de 2022, ele intimidou uma das trabalhadoras do Cedoc, a expondo também durante reunião de equipe, afirmando que ela não poderia agendar um atendimento médico sem antes consultá-lo. Ele a acusou de ir excessivamente ao médico e de levar o filho a consultas em dias de reunião, quando na verdade essas reuniões sequer haviam sido agendadas.
No ano de 2023, […] saiu de férias em julho, acumulando mais de 300 documentos sem inserir, as pesquisas também ficaram acumuladas desde abril, sendo repassadas para a equipe somente em julho, para serem atendidas durante suas férias, atrapalhando toda a organização e cronograma da equipe, que já possui um acumulado de estados e documentos relacionados aos conflitos para serem analisados, sistematizados e inseridos no banco de dados. Logo que voltou de férias, assediou moralmente dois trabalhadores do setor, ambos negros, que foram escolhidos coletivamente pela equipe para representarem o Cedoc em duas atividades externas – a oficina de documentação no Ceará e o encontro de assessoria juridica em Salvador –, sem sua aprovação. No entanto, a equipe fez tais escolhas em diálogo com a própria Conac, durante as férias de […], pois haviam questões logísticas que precisavam ser encaminhadas.
No mesmo ano, em uma manhã em que uma das documentalistas do setor trabalhava com a produção de etiquetas para o arquivo, ele a humilhou na frente de toda a equipe por ela não estar em silêncio. Acontece que essa mesma documentalista estava explicando, a uma outra documentalista que havia integrado a equipe há pouco tempo, o que eram as etiquetas e para que elas eram usadas.
Na época, as trabalhadoras e trabalhadores da Secretária Nacional, em uma ação coletiva, precisaram desocupar um espaço que a Cedoc utilizava para guardar documentos de arquivo. O trabalho exaustivo levou um dia inteiro e só foi possível devido à cooperação de todas e todos. No dia seguinte, […] fez uma reunião a portas fechadas, apenas com as duas documentalistas novatas, onde elas foram questionadas do porquê esse trabalho não tinha sido realizado antes, enquanto ele estava de férias. Durante a reunião, […] enfatizou ainda que as documentalistas deveriam tomar como exemplo situações de desgastes com documentalistas que já deixaram a Secretaria Nacional, para guiar suas condutas.
No final deste mesmo ano, já nos idos do fechamentos dos dados do ano, […] convocou uma reunião motivada pela não clipagem de um assassinato. Na ocasião, aproveitando a presença de um membro da Conac, as situações vexatórias e de assédio moral foram expostas ao longo da reunião, mas as trabalhadoras foram desacreditadas e consideradas “sensíveis demais”.
Nessa reunião duas trabalhadoras saíram chorando e as demais ficaram bastante fragilizadas. Ainda, o assassinato não registrado, que motivou a reunião, não foi identificado pela clipagem na época, pois a documentalista responsável estava sobrecarregada com a inserção dos conflitos que deveriam ser assumidos e feitos por […]. Além disso, não havia nenhuma nota da CPT ou encaminhamento regional sobre o caso, ou seja, não foi um erro cometido exclusivamente pela clipagem. Toda a equipe ficou bastante incomodada e […] passou a acusar todos com calúnias quanto ao rendimento do trabalho.
Nesse período, o […] passou semanas apenas assistindo ao vivo a “CPI do MST”, sendo que a mesma já estava sendo monitorada pela clipagem para elaboração do dossiê, que não teve qualquer contribuição do […].
Outra situação ocorreu no primeiro semestre de 2024, quando uma das documentalistas foi convidada a produzir um texto sobre a violência contra as mulheres em contexto de conflitos no campo. Em vários momentos, ele tratou-a com deboches e humilhações, afirmando que ela havia sido convidada apenas por ser mulher, pois se quisessem mesmo saber sobre os dados, bastava ler o relatório que ele mesmo havia escrito. Após a publicação do texto, no jornal Pastoral da Terra, […] enviou um e-mail intimidatório para essa trabalhadora, acusando-a de publicar dados errados no texto. E, apesar do texto ter sido escrito também por uma agente pastoral na época, o e-mail acusando o erro e intimidando a documentalista nunca chegou a ser enviado para a outra autora, que viria a ocupar um cargo acima do dele posteriormente. O mais curioso é que não havia erro algum e, inclusive, os mesmos dados foram apresentados no lançamento da publicação Conflitos no Campo 2023, dias depois, estando dispostos nos slides revisados pelo […].
É importante dizer também, que essa mesma fala ocorreu sobre a apresentação dos dados no lançamento do caderno de conflitos. Por mais de uma vez, […] debochou da documentalista que apresentou os dados no último lançamento, desconsiderando toda a sua capacidade e domínio sobre o trabalho que ela exerce e dizendo que ela iria apresentar os dados pois, em decorrência do “identitarismo”, era necessário ter uma mulher na mesa, então ele não poderia apresentar.
Esse comportamento, no entanto, se estende a trabalhadoras de outros setores da Secretaria Nacional. Quando não ditos diretamente nos momentos de trabalho, os comentários debochados, na tentativa de desqualificar os materiais produzidos, são feitos pelos corredores da Secretaria, ou na mesa do café, de maneira irônica, constrangendo inclusive outros trabalhadores que não compactuam com tais comportamentos.
Já no final deste ano, uma das documentalistas foi questionada por […] do porquê estava ajudando na inserção de conflitos de um estado de responsabilidade de outra pessoa do setor. Quando explicado ao […] que atitude foi tomada para a ajudar a documentalista responsável pelo estado para finalizar os dados parciais a tempo, ela foi repreendida. De acordo com o […], essa decisão deveria ser tomada pela equipe como um todo já que “somos uma equipe de 7 pessoas e não de 3 amigas”. Curioso é que a inserção dos dados que correspondem aos estados dos outros documentalistas é habitual para agilizar o fechamento dos dados, sendo realizada inclusive na inserção dos dados dos estados de responsabilidade do próprio […] do Cedoc, que há tempos não realiza suas inserções. A exemplo disto, em outra situação, uma documentalista tomou a iniciativa de inserir um dos estados que ele havia deixado acumulado, mesmo sem uma conversa coletiva com toda a equipe, mas tal atitude não foi vista como um problema por […]. Inclusive, os estados de responsabilidade do […] são inseridos sempre no final do fechamento dos dados por outros documentalistas, sem precisar de um aviso formal à equipe.
Importante destacar, também, como as questões de segurança estão sendo usadas como mecanismo de assédio moral, perseguição e controle. […], por bastante tempo, e ainda hoje, dificulta o próprio trabalho de diálogo entre documentalistas e regionais. Por muitas vezes, ele leva o celular do Centro de Documentação com ele, mesmo em momentos de folgas, impedindo que a equipe tenha acesso constante ao telefone do setor, atualmente um meio de comunicação imprescindível com os regionais. Ao ser confrontado sobre a necessidade dos documentalistas acessarem o celular, como sempre acontecera no setor, ele afirmou que haviam coisas que não poderiam ser vistas pelos documentalistas naquele aparelho. Desse modo, diretrizes de segurança estabelecidas pela própria Secretaria Nacional não são cumpridas, uma vez que trabalhadoras e trabalhadores do Cedoc precisaram usar os próprios celulares pessoais para receberem documentos e áudios sobre situações de conflito, já que o […] está com o aparelho que deve ser utilizado pela equipe.
Não é incomum […] deixar de fazer seu trabalho e sobrecarregar a equipe, que acaba tendo que fazê-lo, enquanto o mesmo assume supostamente funções políticas, inclusive, relacionadas à projetos, que não são suas funções. Isso, segundo relatos dele próprio, pois por diversas vezes a equipe se deparou com […] assistindo vídeos e rindo alto, enquanto todas trabalhavam contra o tempo para que fosse possível lançar os dados de conflitos.
Por mais de uma vez, esses comportamentos foram comunicados, mas deslegitimados e desacreditados pelo […] do setor. Essas atitudes, que ao longo do tempo contribuíram para a construção pública de uma imagem de liderança incontestável, que não reflete a realidade, o colocam em um lugar de influência, proteção e privilégios. Há cerca de duas semanas, […] se mudou para Palmas (TO), onde atualmente coordena o setor de documentação de forma remota. O comunicado de sua mudança ao setor ocorreu poucos dias antes do fato e, quando questionado sobre sua permanência na coordenação mesmo à distância, começou a perseguir a documentalista que fez o questionamento.
As situações aqui relatadas são apenas alguns exemplos do que acontece cotidianamente na Secretaria Nacional, especialmente no setor de documentação. Quando o trabalho intelectual é realizado por uma mulher, o […] tenta descredibilizar o que está sendo feito; sempre que questionado, […] provoca um clima de medo, perseguição e humilhação pública. E nessa série de assédios morais vindos do […], já foi observado pelos demais que não apenas as mulheres são os principais alvos, mas particularmente as mulheres negras.
Olhando a trajetória da Comissão Pastoral da Terra, que tem caminhado ao lado de uma diversidade de povos e comunidades desde sua concepção e nascimento, acreditamos que faz parte de sua essência o respeito às diferenças e a luta por um mundo livre de opressões raciais e de gênero. Fazemos memória às mulheres e homens que fizeram e fazem parte dessa trajetória pastoral, trazendo a pluralidade de suas identidades. Acreditamos que a CPT é um espaço de reconhecimento da importância dessas identidades e histórias na luta comum e não de sua desvalorização e opressão. Por isso, consideramos que os comportamentos relatados nesta carta-denúncia não correspondem à missão da CPT. Pelo contrário, desrespeitam os valores e compromisso da Pastoral com a luta por uma terra sem males e pelo bem-viver.
Neste momento, relembramos também um trecho do poema construído por Neide Furlan, da CPT Santa Catarina, no 1º Encontro de Mulheres da Pastoral da Terra, e que representa nosso desejo de participar, ativamente, da missão da CPT: “Discutir cidadania cristã, o sonho de liberdade. Queremos participar, construir, isso não é vaidade. Guerreiras de todos os cantos, participam nesse mutirão. Trazendo sabedoria, conhecimentos, caminhando vão.[…] Na CPT pensamos com o coração, há indignação. Há momentos em que pressionamos por nossa valorização. Refletir sempre, pensar na vida, discutir nossa posição. Todo momento é lindo, de conscientização com nossa inspiração”.
Gostaríamos de registrar, ainda, que acreditamos na competência da Comissão de Ética em investigar as ações aqui relatadas, que ferem o Código de Conduta da CPT, e garantir nossa segurança em caso de eventuais perseguições e violências após essa denúncia. Esperamos que as devidas medidas sejam tomadas pela Comissão Pastoral da Terra, atuando na desnaturalização de tais comportamentos.”
Por Mais Goiás