Documento encomendado pelo Brasil mostra que maiores economias do mundo precisam adotar medidas urgentes para conciliar crescimento econômico e o combate às mudanças causadas pelo clima
A crise climática está se tornando “mais perigosa” e “volátil”, alerta estudo encomendado pela Presidência do Brasil no G-20. As maiores economias do mundo precisam adotar medidas urgentes para conciliar crescimento econômico e o combate às mudanças causadas pelo clima, conforme o documento, publicado na quarta-feira, 23, em Washington, nos Estados Unidos.
“A meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais requer ação urgente do G-20 para definir uma nova direção para o crescimento”, disse a professora na University College London e coordenadora do estudo, Mariana Mazzucato.
Mariana Mazzucato foi a coordenadora do estudo Foto: Dida Sampaio/Estadão
Intitulado “Um Planeta Verde e Justo: A agenda de 1,5°C para governar políticas industriais e financeiras globais no G-20″, o relatório é parte do trabalho de 12 especialistas convidados pelo governo brasileiro e que se reuniram ao longo deste ano para traçar recomendações independentes para a Força-tarefa para Mobilização Global contra a Mudança do Clima (TF-Clima), uma iniciativa do Brasil durante a presidência do G-20.
Segundo o estudo, as ações adotadas pelas maiores economias do mundo, responsáveis por cerca de 80% das emissões atuais e passadas de gases de efeito estufa, até o momento não têm a urgência e o comprometimento com a transformação econômica global necessária para atingir a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
“Nosso planeta está sob ataque. O G-20 pode implementar políticas e fornecer financiamento que revertam essa tendência”, diz a pesquisadora sênior não residente da Brookings Institution, Vera Songwe, que também coordena o estudo ao lado de Mazzucato.
Além de defender medidas mais ousadas, o grupo de especialistas alerta para os impactos da crise climática, que incluem eventos extremos a exemplo das chuvas no Rio Grande do Sul e a temporada de furacões mais agressiva nos Estados Unidos, com a passagem do Helene e o Milton. As consequências serão mais severas para as populações de menor renda, dizem.
“O fracasso terá impactos severos, com aumentos de temperatura, eventos climáticos extremos, elevação do nível do mar e perda e extinção de espécies, levando a consequências pesadas e irreversíveis para o bem-estar e os meios de subsistência humanos, segurança alimentar e hídrica, crescimento econômico e saúde planetária”, alertam os especialistas no estudo.
Eles recomendam que a estratégia industrial verde alinhada às metas dos países seja o pilar central dos planos de transição e que deve ocorrer de forma coordenada e alinhada com os Estados. Chamam a atenção para a importância da atração de capital tanto dos governos quanto da iniciativa privada para financiar as iniciativas verdes.
“Financiar esses investimentos exigirá capital público e privado de longo prazo e baixo custo, bem como estruturas de financiamento inovadoras para responder às necessidades dos países e às demandas do setor privado”, conclui Songwe.
Por Estadão