Envio de sistema de defesa antimísseis é o último gesto de apoio dos EUA; desde o 7 de outubro, Washington transferiu munições e militares e aprovou vendas de armas para auxiliar Estado judaico.
Os Estados Unidos forneceram bilhões de dólares a Israel em apoio militar e armamentos desde o início da guerra contra o Hamas, em 7 de outubro de 2023. Militares americanos também foram mobilizados para ir a Israel, em um apoio direto ao país.
O último gesto de apoio público dos EUA a Israel foi o envio do sistema de defesa antimísseis THAAD, que chegou ao Oriente Médio nesta terça-feira, 15, em meio à tensão entre Israel e Irã. O sistema, um dos mais avançados dos EUA, utiliza interceptadores que custam milhares de dólares para destruir os mísseis.
Após um ano do conflito na Faixa de Gaza, a violência se espalhou para o Líbano e o Irã. Israel também fez ataques ao Iêmen e a Síria nesse período. Os EUA auxiliaram Israel diretamente em pelo menos duas ocasiões, quando o Irã atacou o Estado judaico em abril e outubro. Caças americanos ajudaram a abater os mísseis iranianos nas duas vezes.
Em paralelo ao auxílio militar direto, Washington também aumentou o financiamento militar enviado a Israel e aprovou a venda de armas e equipamentos para o país. O auxílio foi uma garantia do presidente americano Joe Biden a Israel após o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro. O crescente número de mortos no conflito, entretanto, levou a um maior escrutínio do apoio militar ocidental a Israel.
Antes da guerra, Israel já havia recebido mais ajuda militar dos EUA do que qualquer outro país desde a 2.ª Guerra. Foram US$ 206 bilhões (R$ 1,16 trilhão, na cotação atual) entre 1946 e 2023, mostram os dados do governo americano. Em seguida, está o Afeganistão, com US$ 105 bilhões recebidos no período (cerca de R$ 593 bilhões). Praticamente a metade.
Imagem de 2019 fornecida pela Aeronáutica dos EUA mostra o sistema de defesa antimíssil THAAD em Fort Bliss, no Texas. Sistema foi enviado para Israel para reforçar defesa do país Foto: Equipe Sgt. Cory D. Payne/AP
Como os EUA apoiaram Israel a partir do 7 de outubro?
Desde o ataque terrorista de 7 de outubro de 2023, os Estados Unidos intensificaram as operações militares no Oriente Médio com o envio do porta-aviões mais avançado da Marinha dos EUA, o USS Gerald Ford, para o Mar Mediterrâneo.
Em abril, os EUA se envolveram diretamente na defesa de Israel contra o primeiro ataque do Irã. Os caças F-15E Strike Eagles foram utilizados para abater cerca de 70 drones que voavam em direção a Israel. Dois contratorpedeiros americanos também abateram entre quatro e seis mísseis no Mediterrâneo e o sistema de defesas Patriot, em uma base americana no Iraque, foi utilizado para abater outro míssil.
Os EUA também participaram da defesa israelense no ataque mais recente do Irã. Pelo menos uma dúzia de interceptadores de mísseis foram disparados, segundo o o porta-voz do Pentágono, o major-general Patrick Ryder.
O custo dessas operações não foram estimadas pelo Pentágono. Em uma estimativa do projeto Costs of War, da Brown University, essas operações custaram US$ 4,86 bilhões (R$ 27 milhões). A estimativa não conta com o sistema de defesa antimísseis THAAD.
Quanto os EUA gastaram em financiamento militar a Israel desde 7 de outubro?
Segundo o estudo da Brown University, a ajuda militar dos EUA a Israel a partir do 7 de outubro ultrapassou os US$ 17,9 bilhões (R$ 101 bilhões). O valor inclui compromissos de longa data, gastos emergenciais, vendas de armas, financiamento militar direto e pelo menos US$ 4,4 bilhões em transferências de estoque.
Quais armas e equipamentos militares os EUA forneceram a Israel?
Embora o envio do sistema antimísseis THAAD seja considerado o primeiro fornecimento significativo dos EUA no conflito atual, Israel tem utilizado armas americanas desde o início da guerra na Faixa de Gaza. As armas provavelmente também são utilizadas no Líbano, segundo uma análise de imagens divulgadas pelas forças israelenses. Estima-se que elas foram utilizadas para matar o líder do Hezbollah, Hasan Nasrallah, em Beirute no mês passado.
Muitos detalhes das exportações militares dos EUA não são públicos, o que impossibilita saber se as armas e transferências recentes são fornecimentos de rotina, estabelecidos em contratos anteriores, ou fornecimentos específicos para repor munições utilizadas na guerra.
Algumas vendas foram públicas. No final de 2023, a Casa Branca aprovou a venda de 14 mil cartuchos de munição para tanques e outros equipamentos militares de Israel, no valor de US$ 106,5 milhões (R$ 602 milhões); e outros US$ 147,5 milhões (R$ 834 milhões) em projéteis de artilharia 155mm, utilizados em canhões e obuseiros.
Imagem de julho mostra o encontro do presidente Joe Biden com o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, no Salão Oval da Casa Branca. Apesar das críticas, gestão democrata mantém assistência militar a Israel Foto: Susan Walsh/AP
Outras 100 vendas militares dos EUA de Israel aconteceram sem ir à público desde o 7 de outubro, segundo o levantamento do The Washington Post em março. Elas incluem munições guiadas de precisão, bombas de pequeno diâmetro, destruidores de bunkers, armas pequenas e outros equipamentos.
Há também vendas aprovadas após o início da guerra, mas que levarão anos para serem concretizadas. Em agosto, por exemplo, o governo americano aprovou US$ 20 bilhões (R$ 113 bilhões) em vendas que incluem veículos táticos e 50 mil cartuchos de morteiro a partir de 2026, munições para tanques a partir de 2027 e 50 caças F-15 a partir de 2029.
Qual o histórico da assistência militar dos EUA a Israel?
O apoio militar dos EUA a Israel cresceu a partir da década de 1970, após a Guerra do Yom Kippur. Após lutar contra uma coalizão de países árabes, liderada pelo Egito e pela Síria, Israel precisou reconstruir suas forças.
Desde então, o apoio permaneceu praticamente estável, se considerada a inflação. O objetivo declarado dos EUA é “manter uma vantagem militar qualitativa” de Israel sobre os vizinhos.
A maior parte do auxílio está dentro do programa Foreign Military Financing, que inclui subsídios utilizados por Israel para realizar compras militares dos EUA. Os EUA também contribuem com US$ 500 milhões (R$ 2,8 bilhões) por ano para os sistemas de defesa antimísseis de Israel, incluindo o Domo de Ferro, que intercepta foguetes de curto alcance.
Israel também recebeu acesso a tecnologias militares mais avançadas dos EUA. O país foi o primeiro a operar internacionalmente o caça F-35 e utilizou a aeronave pela primeira vez em 2018.
De maneira geral, a ajuda militar dos EUA a Israel é um consenso bipartidário. Ela foi interrompida ou limitada em raros momentos. Quando Israel invadiu o Líbano em 1982, por exemplo, o presidente republicano Ronald Reagan interrompeu o envio de munição de artilharia e bombas de fragmentação para o governo analisar se a transferência estava em conformidade com as leis de exportação de armas nacionais. No ano seguinte, em 1983, Reagan interrompeu o envio de caças F-16 até Israel se retirar do Líbano.
Por que a assistência militar dos EUA a Israel está sendo questionada?
Em setembro, o The Washington Post noticiou que controladores do governo americano apuram alguns envios de armas dos EUA para Israel. Os relatórios que devem ser divulgados preocupam autoridades do governo de haver violação a leis que proíbem a assistência militar dos EUA a potências estrangeiras que cometam graves violações de direitos humanos, como o bloqueio de ajuda humanitária feito por Israel em Gaza.
Israel nega restringir o acesso à ajuda e afirma que o Hamas tem responsabilidade pelas vítimas civis, porque o grupo militante opera em ou perto de áreas civis. O governo Biden reconheceu que Israel pode ter violado a lei humanitária usando armas americanas, mas diz que a assistência deve continuar a fluir para a defesa de Israel.
Em maio, a Casa Branca interrompeu o envio de milhares de armas para Israel em meio a preocupações sobre os planos israelenses de expandir as operações militares em Gaza. A administração posteriormente retomou um envio de munições.
Muitos aliados dos EUA – incluindo Reino Unido, Canadá, Japão, Holanda, Espanha e Bélgica – restringiram transferências de equipamentos militares para Israel devido a preocupações legais e políticas sobre o possível uso para cometer crimes de guerra.
Estadão