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O que Caiado, MDB e PT têm a ver com Vanderlan e Mabel na disputa em Goiânia |

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Sandro Mabel em entrevista para o Diário de Goiás. Foto: Diário de Goiás

No final da história tem cereja no bolo. Em frente.

O governador Ronaldo Caiado (União Brasil) e o presidente do MDB e seu vice, Daniel Vilela, convenceram Sandro Mabel (Republicanos) a ser candidato a prefeito de Goiânia. Aproveitaram uma jogada de arriscada esperteza do senador Vanderlan Cardoso (PSD) e deram uma pirueta. Mabel está na dele, pagando de atleta que nem estava virado para o campo. E Vanderlan, como fica?

Há poucos meses, em conversa com jornalistas do DG na sede da Federação das Indústrias de Goiás (Fieg), que preside, Mabel indicou que não havia a menor possibilidade de disputa entre ele e Vanderlan para a prefeitura de Goiânia, tal a sintonia entre os dois, e que o processo natural levava ao senador, seu velho amigo, que estimulou a entrar na política.

Mabel até brincou durante o bate-papo: gostaria de ser sócio de Vanderlan. Falou como elogio ao tino empresarial do senador. Como se fosse menor que o seu… Na entrevista, de tanto ser provocado, Mabel admitiu gosto pela candidatura; negou ter plantando uma semente, em tom brincalhão: “Vai que…”

Vai que recentemente, ao falar à CBN Goiânia, Vanderlan assegurou ser candidato e afirmou em tom de anúncio cheio de galhardia: Sandro Mabel ajudaria na elaboração do Plano de Governo de sua postulação à Prefeitura. E agora? Agora, a recíproca pode ser verdadeira: Vanderlan ajudará, imagina-se, no Plano de governo do candidato Mabel a prefeito de Goiânia. Elementar.

Governo sem nome

O governo estadual e o MDB chegaram ao final de março sem um nome forte para disputar a prefeitura da Capital. Jânio Darrot não empolgou – e já abriu mão de saída, com notícia sobre o convite a Mabel -, Ana Paula Rezende (ambos MDB) recusou de novo semana passada a missão e o presidente da Assembleia, Bruno Peixoto (UB), saiu da disputa pelas mãos e palavras do governador.

Na falta de alternativa, a agonia governista recebeu de presente a estratégia matadora de Vanderlan. Ele propôs, via o próprio Mabel, uma chapa com os dois juntos. Mabel seria fiador e vice. A oportunidade faz a ocasião. Ou vice-versa. Se Mabel estava disposto a entrar no jogo, que fosse Mabel então o candidato a prefeito, e não o contrário.

Uma proposta igualmente matadora – de Vanderlan – e mudança relevante nos ânimos internos do Palácio Pedro Ludovico. Isso porque há passivos na linha de frente. O maior está na relação entre Vanderlan e o governador Ronaldo Caiado; um menor, porém não menos relevante, separa Vanderlan e Daniel Vilela. Passivos acumulados no tempo político e nos espaços das eleições.

Ao escalar Mabel como seu fiador para a recomposição com os projetos de Caiado e Daniel, Vanderlan esperava passar a régua: os governistas, sem alternativa para não sair como derrotados, acabariam cedendo a ele. Mabel foi e voltou como candidato a prefeito.

A conta de passivos com o governador tinha ainda uma pequena ponta solta com Mabel, segundo governistas. Mas isso acabou superado de vez. Mabel foi um crítico feroz ao governo até o ano passado, passou a parceiro – com direito a elogios públicos a Caiado – e a relação evoluiu para parceiros estratégica.

O que há para o momento: solução de um nome competitivo e com perspectiva de vitória, dá aos governistas muito mais do que diferenças pontuais tiram. Na prática, quem cedeu foi o governador. Mas leva o crédito pela amarração do nó em Vanderlan.

Foi lá como fiador, voltou candidato

No passivo envolvendo Vanderlan, pesam críticas feitas por ele ao governador e possíveis acordos não cumpridos, com trocas constantes de reclamações de traição. Até semanas atrás, qualquer recomposição teria de passar por algo como um pedido de desculpas público. Vanderlan tinha ciência.

E pesam mais fortes, lembranças da campanha passada para a prefeitura da Capital. Na memória de Daniel Vilela, vice-governador e presidente do MDB, estão cenas de forte impacto emocional por conta do embate entre Vanderlan e seu pai, Maguito Vilela.

Maguito estava com Covid e morreu logo depois da posse, em janeiro de 2021. O senador perdeu a eleição e muitas amizades emedebistas.

Para contornar a situação com Daniel, Vanderlan convocou semana passada ao seu gabinete em Brasília o seu suplente, o emedebista Pedro Chaves. A conversa andou, mas não prosperou.

Foi a deixa pra Vanderlan dar o passo que levou Mabel ao Palácio. Isso mais o novo não de Ana Paula, a falta de entusiasmo com Jânio e a ausência de um nome natural. Vanderlan chegou inclusive a contar com torcida interna para ser o candidato do grupo.

Seria a melhor solução para o governo ganhar, este era o argumento geral. E uma tacada firme para tirar Vanderlan dos braços do PT, que aguarda o senador para indicar o vice de Adriana Accorsi e, quem sabe, virar ministro.

Mabel trocará o Republicanos pelo União Brasil. A expectativa geral é Ana Paula Rezende de vice. Mas a vice está cobiçada. Negociações seguem envolvendo, por exemplo, os presidentes da Assembleia, Bruno Peixoto, e da Câmara, Romário Policarpo. Mas Caiado e Mabel é que vão bater o martelo.

E agora, Vanderlan?

Cabe Vanderlan na negociação que chegou a Mabel candidato a prefeito? O tempo dirá. Ontem mesmo, Vanderlan Cardoso divulgou vídeo dele com o presidente nacional do PSD confirmando sua candidatura a prefeito. Uma forma de tentar não passar recibo da articulação do governo estadual.

Caiado e Daniel poderiam recuar no apoio à reeleição do prefeito Fernando Pellozo (UB) em Senador Canedo para favorecer sua esposa, Izaura Cardoso (PSD)? Para um caiadista ouvido ontem, sem chance. Como não há chance, segundo ele, de garantia hoje de espaço na chapa do governo para o Senado.

Este é o nó que Vanderlan vive: sem Caiado, sem Daniel, sem Mabel, sem PT, sem o bolsonarismo, com risco de derrota em Goiânia e Canedo e na reta final do mandato de senador. Uma alternativa seria aproximar-se do senador Wilder Morais para apoiá-lo como candidato a governador em 2026, mas aí abandonando de vez o sonho de ser, também ele, candidato à reeleição como senador.

Em aberto:

1 – Mabel está filiado ao Republicanos do prefeito Rogério Cruz, por ora candidato à reeleição, e é amigo do presidente nacional, Marcos Pereira. Rogério tem força política para segurar o Republicanos fora dessa negociação?

2 – Mabel e Caiado vão atrás do PL de Bolsonaro para uma aliança já no primeiro turno. Problema a): como atrair Wilder Morais, que busca ser candidato a governador assim como Daniel, que assume em abril de 2026 e tentará a reeleição? Problema b): o PL deixa de lançar nome para fechar apoio a Mabel ou Vanderlan, com Wilder correndo o risco de perder espaço para Daniel Vilela?

3 – Mabel fecha desde já com a candidatura de Daniel à reeleição (previsto que assume o governo em abril de 2026) para governador, e de Caiado para Presidente da República? E anuncia isso?

4 – Vanderlan recua de vez para Mabel ser candidato a prefeito, ou de jeito nenhum, sem negociar algo em troca?

5 – Vanderlan volta a negociar com o PT?

6 – O governador e o MDB vão ignorar Vanderlan ou podem abrir negociação?

7 – Ao PT interessa o que restar de Vanderlan?

8 – Vanderlan, que demorou a assumir a candidatura e justo agora anunciou como decisão tomada, vai mantê-la de todo jeito?

9 – Caiado e Daniel não confiam em Vanderlan como cabeça de chapa; Vanderlan confiaria em eventual oferta do governador e Daniel numa possível negociação?

10 – Dá pra se falar ainda em polarização certa entre PT e bolsonarismo, ou mesmo que haja um bolsonarista candidato Mabel já passa a ser favorito, de um lado, e PT de outro?

11 – PT vira terceira via, com estes últimos movimentos? Fica isolado?

12 – Então: Vanderlan, não sendo candidato, apoiará o inimigo imaginário PT ou o amigo do peito Mabel?

13 – Você já fez a assinatura para continuar vendo essa série de vingança, amores perdidos e mortes não anunciadas na política goiana?

Novesfora Mabel, o saldo em conta de Vanderlan é: Governo estadual e PT querem o mesmo, que ele não seja candidato a prefeito e faça campanha a favor do candidato deles em Goiânia. Topam receber, mas não topam dar apoio.

Vanderlan quer apoio do governo e do PT, mas não topa retribuir com o que pede: saída da disputa e apoio total. A desconfiança mútua está posta, o nó está feito e alguém vai ter que ceder. Quem? A que custo? Vanderlan estava com tudo e agora está com nada?

Comprei a pipoca. Faltava o guaraná. Não falta mais.

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação.
Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).

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