A ministra da Saúde, Nísia Trindade, comentou nesta quinta-feira 21, que a pressão de representantes do Congresso Nacional tem exercido sobre a sua gestão tem motivação “evidente” em questões de gênero.
As declarações foram dadas durante entrevista concedida à CNN Brasil.
“Com certeza, a questão de gênero está muito mais do que evidenciada no meu caso. Não tenho a menor dúvida. Isso não diz respeito a políticos de partido A ou B. Sou uma pessoa sem filiação, apesar de estar em uma posição de esquerda, mas vejo claramente, em qualquer ambiente, que a manifestação de machismo existe. No caso do Ministério da Saúde, com o orçamento e capilaridade que tem, claro que isso é mais acentuado”, disse.
Segundo Nísia, as recentes críticas motivadas pela demora na liberação de emendas parlamentares fazem parte de um “ambiente de manifestação de machismo“.
“As emendas parlamentares são bem-vindas, estamos em um momento de divulgar todos os equipamentos do PAC Saúde e eu tenho buscado me reunir com líderes da nossa base do governo, já conversei com o presidente da Comissão de Saúde, e eu acho que esse é o caminho: diálogo, mas com a estratégia de programa de governo. E, fogo, para mim, nunca é amigo”, afirmou
Na segunda-feira 18, Nísia foi duramente questionada pelo presidente Lula (PT), durante reunião ministerial, a respeito da gestão da crise na Saúde do Rio de Janeiro e a divulgação de ações contra a epidemia de dengue no Brasil.
O episódio gerou novas especulações de que a ministra poderia perder o comando da pasta. Mas no dia seguinte, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, confirmou a permanência de Nísia no Ministério da Saúde.
A ministra, então, reconheceu que houve falha no diálogo entre a pasta e os gestores dos hospitais federais do Rio de Janeiro, no ano passado.
Apesar da pressão, Nísia afirmou que tem a confiança de Lula e que o ministério está “integrado com as ações de governo”.
Ela disse ainda que um dos incômodos externos é que ela não reproduz um padrão de “autoridade agressiva”.
“Sem dúvida, eu acho que temos que repensar esses modelos de autoridade. O machismo é claro e está claro na imprensa. Infelizmente, ficam discutindo se eu chorei ou não chorei [na reunião ministerial de segunda-feira (18)]. Aproveito para dizer que o presidente Lula jamais me mandou falar grosso. Seria uma grosseria da parte dele, que nunca cometeu”, expressou.
Para exemplificar, a ministra citou o período em que presidiu a Fiocruz, durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL).
“Eu me considero uma liderança, não por uma avaliação minha, mas porque a prática diz isso. Ninguém exerceria a presidência da Fiocruz em condições tão adversas como as que tive, sem capacidade de liderança política e técnica. Temos que repensar esses modelos de autoridade”, afirmou a ministra.