Os investigadores da Polícia Federal (PF) que fizeram busca nos endereços do clã Bolsonaro, no âmbito da operação que investiga a existência de uma Abin Paralela no governo do ex-presidente, não tinham muitas esperanças de encontrar muita coisa nos celulares da família. Sabiam que os Bolsonaro, em especial o filho 02, Carlos, tomavam muitos cuidados para não deixar registros de conversas ou mensagens, e que trocam de aparelho constantemente.
A reação de Carlos Bolsonaro à apreensão de dois aparelhos, porém, mudou o clima na PF já durante a ação.
De acordo com fontes que integram a operação, quando o filho 02 de Bolsonaro foi informado por telefone de que agentes da PF também estavam na casa da família na Barra da Tijuca e apreenderam três telefones celulares, o clima pesou.
Carlos estava na casa de veraneio do pai em Angra dos Reis, na Costa Verde fluminense, onde a PF também confiscou um celular e três computadores.
A tensão e a contrariedade manifestadas pelo filho do ex-presidente ao saber do resultado da busca chamou a atenção dos agentes, que ficaram intrigados e até um tanto surpresos, já que àquela altura o 02 já estava ciente de que era alvo da Polícia Federal.
Os agentes da PF ainda estão analisando o conteúdo dos aparelhos e não sabem dizer o que provocou tanta tensão, mas a reação de Carlos deu aos policiais a esperança de encontrar informações significativas para desvendar a extensão da participação da familia presidencial no esquema de espionagem ilegal levado a cabo na Abin durante o governo Bolsonaro.
No dia da apreensão, equipes de TV filmaram Jair Bolsonaro e Carlos atônitos diante da casa de praia no distrito de Mambucaba enquanto os agentes da PF deixavam o local com os materiais apreendidos em um veículo descaracterizado.
Segundo o relatório da PF que embasou a operação, autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes com parecer favorável da Procuradoria-Geral da República (PGR), Carlos é suspeito de integrar o núcleo político do esquema de monitoramento ilegal de inimigos políticos do ex-presidente Bolsonaro entre 2019 e 2021.
No pedido ao STF, os policiais escreveram que há indícios de conluio entre Carlos e o ex-diretor-geral da Abin e atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), homem de confiança da família, para vigiar ilegalmente desafetos do bolsonarismo e, segundo o STF, buscar “informações acerca da existência de investigações relacionadas aos filhos do então Presidente da República Jair Messias Bolsonaro”.
Também foram alvos da operação Luciana Almeida e Priscilla Pereira, assessoras de Carlos e Ramagem, respectivamente.
A ação desta semana foi um dos desdobramentos das diligências da PF no último dia 25, quando Ramagem foi alvo de mandados de busca e apreensão de outra operação, a First Mile.
O nome é uma referência a um dos pontos centrais do caso da Abin paralela: o software israelense apontado como base do monitoramento ilegal de políticos, jornalistas, advogados e outras autoridades. A ferramenta permite rastrear a localização das pessoas por meio dos metadados fornecidos pelas antenas de celular a torres de telecomunicações.
A Abin, por sua vez, afirma que é “a maior interessada na apuração rigorosa dos fatos” e vem colaborando com as investigações da PF e do STF “há 10 meses” sobre o esquema de monitoramento ilegal durante a gestão Ramagem.
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